Gramatica E Sua Importancia
Trabalho Universitário: Gramatica E Sua Importancia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: hunter123 • 24/3/2015 • 2.678 Palavras (11 Páginas) • 332 Visualizações
Gramática e ensino de língua: perspectivas científicas e ideológicas
Aroldo Magno de Oliveira
Docente da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitário de Tocantinópolis
RESUMO: O presente artigo trata de dois olhares sobre a gramática e ensino de língua: científico e ideológico. A base que norteia o conteúdo do texto é um diálogo entre descrição lingüística e os efeitos de sentido nos discursos produzidos sobre a disciplina gramática, sobretudo no que tange à constituição histórica do sentido predominante nos diversos níveis do ensino de língua: ensino básico e ensino superior.
Palavras-Chave:
gramática; ensino de língua; lingüística; discurso.
ABSTRACT: The present article treats of glances on the grammar and language teaching: scientificand ideological. The base that orientates the content of the text is a dialogue between linguistic description and the sense effects in the speeches on the grammatical discipline, above all in it plays him/it to the historical constituition of the predominant sense in the several levels of the language teaching and higher education.
Word-key: grammar; language teaching; linguistic; speech.
“Porque isto de falar ou escrever bem tem de ser dentro das margens. Como um rio manso e leve; tão educado que não acorde poeira no fundo. Um rio que passe com essa eterna transparência que, verdade autografada, só a morte possui. Seja então a pureza pela morte trazida e por ela conservada.” (Couto, Mia. Cronicando. 2ª ed. Lisboa: Caminho, 1993, p.163-5)
I - O presente artigo é resultado de uma palestra proferida por mim na semana acadêmica de Letras do Campus Universitário de Araguaína – Fundação Universidade do Tocantins. Naquela semana estávamos pondo em questão o ensino de gramática na graduação do curso de Letras, uma vez que era unânime o desencanto com a disciplina e as complexidades das correntes teóricas, que mais confundiam do que esclareciam para uma boa formação de base na licenciatura.
Falar sobre gramática e ensino é uma tarefa comparada ao caminhar sobre um tapete de ouriços, uma vez que os discursos produzidos no decorrer da história internalizaram valores e modelos – barreiras difíceis de serem ultrapassadas - pois promovem categorias de pensamento que não se podem mudar de uma ora para outra. Entretanto, como os estudos não podem (e não devem) parar, é preciso divulgar alguns pensamentos outros assentados em pesquisas com uma fundamentação teórica alternativa sem deixar de ser consistente, sem o que seria impossível, inclusive, escrever este texto.
O ponto de vista apresentado aqui defende a idéia de que a contribuição do ensino da gramática para o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita em todas as disciplinas, só se dará se todos os professores de todas as disciplinas revisarem conceitos e imagens correntes da disciplina gramática. Portanto, nossa reflexão se pautará nos seguintes conceitos políticos correntes de gramática, tal como foram enfocados por Sírio Possenti - (Possenti, 1983):
1. gramática – conjunto de regras para quem quer falar e escrever corretamente; (corresponde à gramática normativa)
2. gramática – conjunto de regras sistematizadas por um teórico a partir da coleta e análise de dados de uma determinada variedade lingüística; (corresponde à gramática teórico-descritiva)
3. gramática – conjunto de regras utilizadas pelos falantes para atender as necessidades de interação. (corresponde à gramática implícita ou internalizada)
De início, podemos chegar à conclusão de que os discursos sobre o ensino de gramática estão assentados no “falar e escrever corretamente” e nas descrições metalingüísticas da gramática teórico-descritiva. Ensinar a falar e escrever corretamente seria aprender as regras da gramática normativa e um rol de nomenclaturas. A gramática implícita é considerada um conjunto de desvios, uma vez que não atende às regras pré-estabelecidas nas gramáticas 1 e 2. Saber português, pois, é saber regras de acentuação, ortografia, reconhecer categorias gramaticais e funções sintáticas, etc. Diante dessas considerações, a nossa questão centrará a atenção em duas perspectivas: a científica e a ideológica.
II – Do ponto de vista científico, o conceito de gramática normativa – conjunto de regras para o bem falar e escrever – não se sustenta, uma vez que “bem falar e bem escrever” são avaliações subjetivas, em nenhum outro campo de estudo encontramos tal tipo de avaliação, imaginem um biólogo dizendo que as células humanas são boas e as células de uma vaca não são, ou um geógrafo dizendo que um continente é melhor do que outro. No mínimo, a pergunta a ser feita é: o que é falar e escrever bem?
O falar em si atende à necessidade que todo falante tem de interagir com outro, constituindo uma prática social própria de todas as comunidades. Portanto, “falar e escrever bem”, mesmo apoiando-se nos “grandes escritores” não é corroborado pelos princípios científicos. Uma atualização do conceito de gramática normativa deveria ser “um conjunto de regras de uma variedade lingüística, a padrão, para fins pedagógicos”.
A gramática descritiva, ainda bastante presente no conteúdo de ensino língua portuguesa nas escolas, é o resultado de uma pesquisa fundamentada em uma determinada corrente de investigação sobre a linguagem: comparativismo, estruturalismo, gerativismo, funcionalismo, etc. Todo objeto de investigação é descrito através de uma linguagem especializada, a descrição gramatical caracteriza-se também por uma metalinguagem para tal feito.
Termos como sujeito, objeto, sintagma, morfema, etc servem para nomear e sistematizar os fatos lingüísticos investigados. Além disso, é possível observar que temos descrição gramatical da língua portuguesa que se distinguem: descrição tradicional, descrição estruturalista, descrição gerativista e assim por diante, cada uma utilizando nomenclaturas e interpretações distintas dos fatos da língua portuguesa.
As pesquisas científicas constituem um componente cultural próprio de toda sociedade letrada e grafocêntrica, cujo objetivo é contribuir para o aprimoramento da sociedade, atendendo às reais necessidades da população integradas à possível
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