Introdução A Literatura
Seminário: Introdução A Literatura. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: tatianaalvares • 5/11/2014 • Seminário • 2.386 Palavras (10 Páginas) • 241 Visualizações
Convém colocar uma indagação sobre
quais são as características que nos permitem distinguir um texto literário de
outro não-literário. O assunto já mereceu muita discussão. Ainda que não haja
uma resposta definitiva para ele, é possível expor os critérios mais adotados
atualmente para caracterizar o texto literário.
Comecemos por destacar, para esse
fim, qualquer critério que se baseie no conteúdo abordado pelo texto: não há
conteúdos exclusivos dos textos literários nem avessos ao seu domínio. A única
coisa que se pode afirmar é que, em certas épocas, os textos literários
privilegiam certos temas. Por isso o conteúdo abordado não serve como critério
para demarcar a fronteira entre o texto literário e o não-literário.
Autores há que preferem estabelecer
como critério o caráter ficcional e não-ficcional dos textos. Segundo esse
ponto de vista, o texto literário é ficção, ao passo que os outros tipos de
texto relatam a realidade efetivamente existente. Os autores que assim pensam
não negam que o texto literário interprete aspectos da realidade efetiva, mas
que o faz de maneira indireta, recriando o real num plano imaginário. Assim,
Graciliano Ramos inventou um certo Fabiano e uma certa Sinhá Vitória para revelar
uma verdade sobre tantos fabianos e sinhas vitórias, despossuídos de quase
todos os bens materiais e culturais, e por isso degradados ao nível da
animalidade.
Esse critério, apesar de pôr em
evidência aspectos importantes da obra literária, esbarra num problema muito
sério: a dificuldade em discernir o real do fictício em certas situações
concretas. Como classificar, por esse critério, um texto religioso? Seria
ficção ou realidade? Certos religiosos achariam pecaminosa até mesmo essa
hesitação; um homem não-religioso considerá-lo-ia mero objeto da fantasia
humana.
É preciso buscar a distinção em
outro lugar. Modernamente, diz-se que a diferença reside no fato de que o texto
literário tem uma função estética e
de que o texto não-literário tem uma função
utilitária (informar, convencer, explicar, documentar, etc.).
Mas em que consiste a função
estética, também chamada função poética? Para responder a essa questão,
comecemos por confrontar entre si dois fragmentos de texto: o primeiro, uma
notícia de jornal; o segundo, uma passagem de um poema de Gonçalves Dias.
O São Paulo venceu a Portuguesa e tornou-se campeão paulista
de futebol de 1985.
Sou bravo, sou forte
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
(I-Juca Pirama)
No primeiro exemplo, temos uma
mensagem utilitária, cuja finalidade é informar. Quem lê ou ouve essa mensagem
não se importa, por exemplo, com o plano da expressão (os sons); atravessa-o e
vai diretamente ao conteúdo, para entender a informação. No segundo caso, é o
plano da expressão que nos desperta a atenção porque o poeta, construindo
versos de cinco sílabas, com acento na segunda e na quinta, cria um ritmo
incisivo, martelado, que recria a afirmação de coragem presente no plano do
conteúdo. Esse ritmo bem marcado, quase marcial, imponente, presta-se bem para
enfatizar a exaltação de coragem manifesta no plano do significado.
A primeira característica do texto
literário é a relevância do plano da expressão. Nele, o plano da expressão não
serve apenas para veicular conteúdos, mas recria-os em sua organização.
Assim,
quando Oswald de Andrade escreve:
E tia Gabriela sogra grasnadeira
grasnou graves grosas de infâmia
a frase não só diz o
que dizia tia Gabriela, mas, com a aliteração do grupo gr, reproduz aproximadamente o caráter enfadonho, repetitivo e
desagradável da fala da personagem.
Desse modo, no texto poético, o plano
da expressão articula-se com o plano do conteúdo, contribuindo também para a
significação global.
Fruir um texto literário é perceber
essa recriação do conteúdo na expressão e não meramente compreender o conteúdo;
é entender os significados dos elementos da expressão. No texto literário, o
escritor não apenas procura dizer o mundo, mas recriá-lo nas palavras, de modo
que,
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