Minha Mãe Morrendo

Questão 01.

Considero prudente, antes de relacionar os textos em questão, fazer um breve comentário a respeito da sua composição (referente à narrativa). Minha mãe morrendo, de Valêncio Xavier é uma obra singular quanto sua originalidade. Além de ser diversamente plurificada em representações de linguagem. A forma simples de sua estrutura sintática na escrita, se contrapõe com o rebuscado jogo de palavras rítmicas. “minha mãe puxou o menino eu corpo com corpo nariz com nariz olhos nos olhos e me diz”

A sonoridade dos signos faz uma interessante métrica onde aparece um compasso entre as silabas e vocábulos. Também a utilização dos grafos de maneira harmoniosa formando um corpo centralizado na pagina mantendo o foco do leitor na estética dos códigos. Ao iniciarmos a narrativa, nos deparamos com a imagem de dois olhos ( fig.01) que possui uma ligação direta catafórica no texto, onde não apenas os olhos da mãe e do menino se encontram fazendo apenas um olho. Sugere ainda uma ideia cinematográfica de uma filmagem com jogo de câmera, além disso, abre uma perspectiva que esta imagem, cinematográfica, seja algo internalizado no leitor a partir do próprio texto, ou seja, simbolicamente a imaginação do leitor é resumo dos dois’ olhos formando uma só tela onde passa toda historia da narrativa.

O aparecimento das figuras ao longo do texto monta um “quebra cabeça” como se fosse a própria memória do autor em flash formando a parti de fragmentos uma história. A experiência de como ele se via,como via o mundo e a própria morte da mãe sugere um alto conhecimento reflexivo da vida e sua leitura de mundo partindo de um adulto nascido e um menino já morto a partir da não mais existência deste último.

Ao pesquisarmos em um dicionário como o de Ruth Rocha, (2001) podemos obter a seguinte definição para a palavra contemporâneo: adj. Que,ou o que é do mesmo tempo ou vive na mesma época.Porém o que Giorgio Agamben (2010) propõe no texto “ O que é contemporâneo ? ” a partir do pensamento do Filósofo Friedrich Nietzsche é uma ideia muito mais lato sensu que stricto, apresentada no dicionário:

(...) A contemporaneidade, portanto é uma singular relação com o próprio tempo ,que adere a este e ,ao mesmo tempo,dele toma distancia ;(...)

Embasado nesta perspectiva de Nietzsche a narrativa, Minha mãe morrendo, de Valêncio Xavier encaixa-se perfeitamente no contexto apresentado por Agamben, pois ao nos debruçarmos sobre a obra de Valêncio, entendemos que seu trabalho é atual ao mesmo tempo se distanciando dessa época. Se interpretarmos com um pouco mais de calma, numa segunda leitura, perceberemos detalhes do texto de Valêncio, que apesar de serem aceitos nesta época torna-se contemporâneo ao se deslocar deste momento. Isso ocorre devido alguns detalhes de sua configuração textual que podem não ser totalmente bem compreendidos neste tempo. Podemos identificar, por exemplo, que a relação de signos subjetivos é um aspecto que foge do padrão simples de linguagem da época. Outra característica que também marca sua narrativa é jogo de palavras “chulas” como: pau de japonês e puta os quais se contrapõe com um léxico de significado nobre: Aladim, Mirra e jasmim (fig.02). Além disso, imagens que compõe o corpo do texto dão margem à interpretação que surgem de lembranças do autor, mas não apenas lembranças comuns, estas são bastante detalhadas, foto do cão em movimento (fig.03), por exemplo demonstra a riqueza de detalhes da lembrança de um adulto num período passado de infância se textualizando numa sintaxe imagético-verbal .A figura da mãe nua (fig.04) ainda causa inquietação aos moralistas, pois a sexualidade nos dias atuais ainda é vista de maneira proibida, afirma ainda que se trata de um período de não censura por ditadura no Brasil e de liberdade de expressão mostrando que é um