No Moinho - Análise
Casos: No Moinho - Análise. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jasiqueira • 17/3/2014 • 1.365 Palavras (6 Páginas) • 1.144 Visualizações
José Aparecido de Siqueira
ANÁLISE DO DISCURSO DO ESPAÇO NO CONTO “NO MOINHO” DE EÇA DE QUEIRÓS.
“O VELHO Nunes, diretor do correio, sempre que se falava nela, dizia, …:
--- “É uma santa! É o que ela é!”
“A vila tinha quase orgulho na sua beleza delicada e tocante;…”
Os moradores da vila admiravam-na pela sua beleza, pelo seu comportamento ilibado, porém todos desconheciam seus conflitos interiores.
D. Maria da Piedade, considerada modelo por todos, trazia no nome um toque de tristeza, consideração: “piedade”.
Cada palavra, cada frase nesse conto de Eça de Queirós tem sua razão de ser.
“Morava ao fim da estrada…” a palavra fim tem uma conotação terminal, combinando com “vestida de preto”, traje usado pelas viúvas como se D. Maria já fosse “viúva de marido vivo”. Sinal de luto.
O autor nos passa a rotina, o dia-a-dia da família de D. Maria da Piedade. Seus cuidados com o marido e filhos, todos doentes; sua dedicação exclusiva aos enfermos desde os vinte anos. Casou sem amar o marido, para fugir das agruras do seu lar de solteira. Coutinho, doente desde jovem, porém rico contentava-se em ter uma “enfermeira para cuidar-lhe e também dos filhos, que certamente saíram frágeis e esquálidos.
Esse quadro provocava na alma de D. Maria uma “fadiga de vida” e transformava num calvário.
Religiosa Maria da Piedade era, porém “sua casa ocupava-a muito para se deixar invadir pelas preocupações do céu;”… como diz Bachelard (p.24) “porque a casa é o nosso canto do mundo”.
Sua maneira de rezar era cuidar dos filhos e do marido “pregado” numa cama, como Cristo pregado na cruz.
Nesse espaço, resolutamente, ela tocava sua vidinha, pois quase não saía. Até a paisagem vista da janela, onde permanecia quase sempre, parecia triste, monótona como sua vida.
É um espaço – sem – drama, uma vez que as ocupações do cotidiano, entretinham Maria da Piedade. “Nunca tivera desde casada uma curiosidade, um desejo, um capricho! Nada a interessava na Terra se não as horas dos remédios e o sono dos seus doentes.”.
O drama que a dominava é mostrado pelo autor pela expressão “… sem hesitação”, aceitando casar-se com Joãozinho Coutinho, livrando-se assim da vida miserável de solteira e resolvendo questões financeiras (no passado).
A chegada do primo de João Coutinho, Adrião, transforma a rotina da casa de Maria da Piedade. Causa confusão, tanto externa quanto internamente. Foi um lenitivo no íntimo dela. Embora hospedado na estalagem do Tio André, à distância, estremeceu o espírito de Maria da Piedade. Aqui começa um conflito no seu interior. “Dona Maria da Piedade ficou aterrada com esta visita”. A chegada de Adrião funciona como o centro nevrálgico da situação dramática desse conto. A tarefa de Adrião é provocar uma densidade dramática de tal proporção que causa revolução na vida de Maria da Piedade.
Aqui nós lembramos de Bachelard (p.219) quando ele afirma: “Não se pode viver da mesma maneira os qualificativos ligados ao interior e ao exterior.”
Veio a negócios e acabou apaixonando-se por ela. Ficou feliz ao saber que quem iria conduzir com ele a negociação era ela, na impossibilidade do primo. “--- Um anjo que entende de cifras”. Uma antítese maniqueísta: material X espiritual, típico da dualidade medieval.
Um toque de sedução dominou Maria da Piedade quando: “Tinha-se-lhe prendido à orla de seu vestido um galho de silvado, e como ele se abaixara para o desprender delicadamente, o contato daquela mão branca e fina de artista na orla da sua saia incomodou-a singularmente”.
Conforme Bachelard (p.163) “Essa intimidade quente é a raiz de todas as imagens.”
O tempo cronológico aparece na expressão: “…um dia de março fresco e claro, …” embora sem definição de data. Neste tempo, também encontramos um espaço psicológico.
Durante todo o tempo de conversação até a fazenda, onde fariam a negociação, Adrião portou-se como depositário das tristezas de Piedade, dando conselhos a ela, desolado que estava do seu sofrimento em clausura. Isso fortaleceu o sentimento emergente entre os dois.
Um sinal malicioso surge em Adrião quando: “… No que ele pensava era noutros apetites, nas ambições do coração insatisfeito…”.
Mudando de ambiente, Piedade parece revigorar-se quando sugere a Adrião irem até o moinho, o idílio da vila.
Toda a experiência de vida de Adrião deixou-se enternecer pela simplicidade melancólica daquela aldeã, que bastaria um sopro de incentivo para acordar daquela alma adormecida. Nem o incesto impediu que ele se interessasse por aquela criatura tão triste e tão doce.
A supervalorização da mulher lembra trovadores medievais: “… E o que o tentava sobretudo era pensar que poderia percorrer toda a província, em Portugal, sem encontrar nem aquela linha de corpo, nem aquela virgindade tocante de alma adormecida.”
Nessa passagem podemos citar as observações feitas por Bachelard no Capítulo VIII (p. 189-214) – A imensidão íntima.
Muita fantasia trouxe aos dois ao passarem no moinho, local digno de uma cena de romance ou da morada de uma fada. (Moinho lembra movimento, vida, transformação), e isso estava acontecendo nos dois corações.
Mais vivido, Adrião
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