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No Moinho - Análise

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Por:   •  17/3/2014  •  1.365 Palavras (6 Páginas)  •  1.135 Visualizações

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José Aparecido de Siqueira

ANÁLISE DO DISCURSO DO ESPAÇO NO CONTO “NO MOINHO” DE EÇA DE QUEIRÓS.

“O VELHO Nunes, diretor do correio, sempre que se falava nela, dizia, …:

--- “É uma santa! É o que ela é!”

“A vila tinha quase orgulho na sua beleza delicada e tocante;…”

Os moradores da vila admiravam-na pela sua beleza, pelo seu comportamento ilibado, porém todos desconheciam seus conflitos interiores.

D. Maria da Piedade, considerada modelo por todos, trazia no nome um toque de tristeza, consideração: “piedade”.

Cada palavra, cada frase nesse conto de Eça de Queirós tem sua razão de ser.

“Morava ao fim da estrada…” a palavra fim tem uma conotação terminal, combinando com “vestida de preto”, traje usado pelas viúvas como se D. Maria já fosse “viúva de marido vivo”. Sinal de luto.

O autor nos passa a rotina, o dia-a-dia da família de D. Maria da Piedade. Seus cuidados com o marido e filhos, todos doentes; sua dedicação exclusiva aos enfermos desde os vinte anos. Casou sem amar o marido, para fugir das agruras do seu lar de solteira. Coutinho, doente desde jovem, porém rico contentava-se em ter uma “enfermeira para cuidar-lhe e também dos filhos, que certamente saíram frágeis e esquálidos.

Esse quadro provocava na alma de D. Maria uma “fadiga de vida” e transformava num calvário.

Religiosa Maria da Piedade era, porém “sua casa ocupava-a muito para se deixar invadir pelas preocupações do céu;”… como diz Bachelard (p.24) “porque a casa é o nosso canto do mundo”.

Sua maneira de rezar era cuidar dos filhos e do marido “pregado” numa cama, como Cristo pregado na cruz.

Nesse espaço, resolutamente, ela tocava sua vidinha, pois quase não saía. Até a paisagem vista da janela, onde permanecia quase sempre, parecia triste, monótona como sua vida.

É um espaço – sem – drama, uma vez que as ocupações do cotidiano, entretinham Maria da Piedade. “Nunca tivera desde casada uma curiosidade, um desejo, um capricho! Nada a interessava na Terra se não as horas dos remédios e o sono dos seus doentes.”.

O drama que a dominava é mostrado pelo autor pela expressão “… sem hesitação”, aceitando casar-se com Joãozinho Coutinho, livrando-se assim da vida miserável de solteira e resolvendo questões financeiras (no passado).

A chegada do primo de João Coutinho, Adrião, transforma a rotina da casa de Maria da Piedade. Causa confusão, tanto externa quanto internamente. Foi um lenitivo no íntimo dela. Embora hospedado na estalagem do Tio André, à distância, estremeceu o espírito de Maria da Piedade. Aqui começa um conflito no seu interior. “Dona Maria da Piedade ficou aterrada com esta visita”. A chegada de Adrião funciona como o centro nevrálgico da situação dramática desse conto. A tarefa de Adrião é provocar uma densidade dramática de tal proporção que causa revolução na vida de Maria da Piedade.

Aqui nós lembramos de Bachelard (p.219) quando ele afirma: “Não se pode viver da mesma maneira os qualificativos ligados ao interior e ao exterior.”

Veio a negócios e acabou apaixonando-se por ela. Ficou feliz ao saber que quem iria conduzir com ele a negociação era ela, na impossibilidade do primo. “--- Um anjo que entende de cifras”. Uma antítese maniqueísta: material X espiritual, típico da dualidade medieval.

Um toque de sedução dominou Maria da Piedade quando: “Tinha-se-lhe prendido à orla de seu vestido um galho de silvado, e como ele se abaixara para o desprender delicadamente, o contato daquela mão branca e fina de artista na orla da sua saia incomodou-a singularmente”.

Conforme Bachelard (p.163) “Essa intimidade quente é a raiz de todas as imagens.”

O tempo cronológico aparece na expressão: “…um dia de março fresco e claro, …” embora sem definição de data. Neste tempo, também encontramos um espaço psicológico.

Durante todo o tempo de conversação até a fazenda, onde fariam a negociação, Adrião portou-se como depositário das tristezas de Piedade, dando conselhos a ela, desolado que estava do seu sofrimento em clausura. Isso fortaleceu o sentimento emergente entre os dois.

Um sinal malicioso surge em Adrião quando: “… No que ele pensava era noutros apetites, nas ambições do coração insatisfeito…”.

Mudando de ambiente, Piedade parece revigorar-se quando sugere a Adrião irem até o moinho, o idílio da vila.

Toda a experiência de vida de Adrião deixou-se enternecer pela simplicidade melancólica daquela aldeã, que bastaria um sopro de incentivo para acordar daquela alma adormecida. Nem o incesto impediu que ele se interessasse por aquela criatura tão triste e tão doce.

A supervalorização da mulher lembra trovadores medievais: “… E o que o tentava sobretudo era pensar que poderia percorrer toda a província, em Portugal, sem encontrar nem aquela linha de corpo, nem aquela virgindade tocante de alma adormecida.”

Nessa passagem podemos citar as observações feitas por Bachelard no Capítulo VIII (p. 189-214) – A imensidão íntima.

Muita fantasia trouxe aos dois ao passarem no moinho, local digno de uma cena de romance ou da morada de uma fada. (Moinho lembra movimento, vida, transformação), e isso estava acontecendo nos dois corações.

Mais vivido, Adrião

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