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O Acrobata Da Dor

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Por:   •  28/10/2013  •  2.103 Palavras (9 Páginas)  •  616 Visualizações

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ACROBATA DA DOR

(Cruz e Sousa)

1 Gargalha, ri, num riso de tormenta,

2 Como um palhaço, que desengonçado,

3 Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado

4 De uma ironia e de uma dor violenta

5 Da gargalhada atroz, sanguinolenta,

6 Agita os guizos e convulsionado

7 Salta, gavroche, salta, clown, varado

8 Pelo estertor dessa agonia lenta...

9 Pedem-te bis e um bis não se despreza!

10 Vamos! Retesa os músculos, retesa

11 Nessas macabras piruetas d`aço...

12 E embora caias sobre o chão, fremente

13 Afogado em teu sangue estuoso e quente

14 Ri,! Coração, tristíssimo palhaço.

Em primeiro lugar, pode-se dizer que o poema “Acrobata da Dor”, em forma de soneto, apresenta a característica preocupação formal de Cruz e Sousa que o aproxima inclusive dos parnasianos: a utilização de vocabulário requintado e erudito, a força das imagens na poética bem como a forma lapidar antecipam a nobreza destes versos sugestivos, bem ao gosto simbolista.

Ao iniciar a leitura do poema, o título imediatamente desperta a atenção do leitor: quem seria este “Acrobata da Dor”? Nota-se, desde já, o predomínio da sugestão sobre a nominação, motivo pelo qual o “Acrobata da Dor” só é revelado diretamente ao final do soneto, sendo sugerido metaforicamente em todo o poema. O título é, pois, uma apresentação instigante da temática, que vai inserindo o leitor neste universo poético repleto de imagens e sensações.

O poema se inicia com dois verbos no imperativo: “Gargalha, ri...” (verso 1), com os quais o “eu-lírico” provavelmente se direciona ao leitor, sugerindo que este assuma, perante a vida, um posicionamento de ânimo e alegria. Cabe mencionar, entretanto, que ao final do poema o leitor acabará percebendo que estes verbos não são direcionados a ele, leitor, mas sim ao “Acrobata da Dor”, revelado ao fim da leitura.

A comparação que segue no verso 2: “Como um palhaço...” revela mais uma sugestão do “eu-lírico”: mostrar alegria, assim como o palhaço, um artista capaz de manter essa alegre postura artística mesmo nos momentos conflituosos e tristes da vida. Além disso, os termos opostos à alegria que caracterizam tanto o palhaço: “desengonçado” (verso 2), “nervoso” (verso 3), quanto o seu riso: “riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta” (versos 3 e 4) evocam a essa capacidade do artista de mascarar seus sentimentos de dor para transmitir a alegria. Assim, tais antíteses enfatizam este contexto sugerido pelo “eu-lírico” e são empregados em todo o poema. Observa-se ainda que no verso 3 há elipse do termo riso: “num riso absurdo, (riso) inflado...”

A 2ª estrofe mostra-se uma continuidade da comparação feita no verso 2. Nesse quarteto, o “eu-lírico” explicita algumas atitudes artísticas do palhaço: “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,/ Agita os guizos...”, (versos 5 e 6 ) e ainda: “...e convulsionado/

Salta, gavroche, salta, clown...” (versos 6 e 7). Nota-se que estes versos são dispostos com inversão da ordem direta, o que caracteriza um hipérbato. Transcrevendo-os na ordem direta, tem-se: “Agita os guizos da gargalhada atroz, sanguinolenta...” e “e salta convulsionado, salta, gavroche, salta, clown”.

Ainda na 2ª estrofe, observa-se que no verso 7 o “eu-lírico” de dirige ao “palhaço” através dos termos estrangeiros “gavroche”, palavra francesa que significa “os garotos de Paris” (Ramos, 1961:169), ou seja, no sentido conotativo, artista; e “clown”, proveniente do inglês, “palhaço” (Vallandro, 1997: 57). Esta dupla utilização de termos que remetem ao artista palhaço, enfatizando o aspecto artístico do mesmo, é destacado ainda mais pelos verbos “saltar” (verso 7) e “agitar” (verso 6), que indicam esta ação artística sugerida - elementos estes que se opõem diretamente ao verso 8, que vem carregado de termos pessimistas e tristes: o palhaço está varado “pelo estertor dessa agonia lenta”. Cabe mencionar aqui o significado da palavra “estertor”: respiração rouca típica dos moribundos, revelando assim que este mesmo artista que “salta”, que “agita os guizos” de suas gargalhadas, é perfurado (varado) por um som rouco característico dos moribundos. É o ápice da sugestão da tristeza interior do palhaço: embora esteja agindo em seu espetáculo alegremente, na intimidade do seu ser, este artista está interiormente dilacerado, dominado pela dor.

Vale ressaltar também as reticências empregadas ao fim desta estrofe, as quais evocam tanto uma interrupção de pensamento, quanto o indizível, a imagem e a percepção a serem vistas e sentidas pelo leitor, visto que o “eu-lírico” as considera impossíveis de serem concretizadas e expressas poeticamente: “Pelo estertor dessa agonia lenta... “ (verso 8). Tal recurso também é empregado no verso 11, na 3ª estrofe: “Nessas macabras piruetas d`aço...”

Em seqüência, a 3ª estrofe continua fazendo referência às atitudes artísticas do palhaço. No verso 9, “Pedem-te bis...” pode-se notar que o sujeito indeterminado do verbo “pedem-te” diz respeito à “platéia”, que não percebe o dilema pelo qual este artista está passando enquanto faz suas “piruetas d´aço”. Fazendo uma leitura além do poema, é possível afirmar que essa “platéia” corresponda à vida, que exige do indivíduo as maiores acrobacias na sua luta diária. Além disso, nota-se que a locução adjetiva “d´aço” que acompanha as “piruetas” vem insistir na força deste artista para não deixar transparecer ao “público” a sua dor interior. E ainda juntamente a estas “piruetas d´aço” o poeta utiliza o adjetivo “macabras”, ou

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