O Chapeuzinho Vermelho: entrelaçamentos entre o ontem e o hoje
Por: StefanySN • 11/12/2017 • Trabalho acadêmico • 801 Palavras (4 Páginas) • 919 Visualizações
Chapeuzinho Vermelho: entrelaçamentos entre o ontem e o hoje
A literatura infantil surgiu com o intuito de repassar conhecimentos e heranças culturais por intermédio da ficção, principalmente com o objetivo de inculcar alguma lição de moral às crianças; nota-se, portanto, uma unificação entre a leitura e o aprendizado. De acordo com Costa (2005), tal princípio moralizador estava ligado ao fato de a criança, em determinado momento histórico e social, ser considerada um “projeto de adulto” (2005, p. 61), sem que especificidades da infância fossem levadas em consideração.
Entre os gêneros mais populares no âmbito da literatura infantil, estão as fábulas e os contos de fadas. Em 1697 o francês Charles Perrault, um dos precursores dos contos de fadas, iniciou suas produções com a publicação de A chapeuzinho Vermelho; A bela adormecida; O pequeno polega; etc.. Porém, em princípio, as histórias narradas não apresentavam um final feliz, como são popularmente conhecidas. Outras figuras imporantes no cenário da literatra infantil são irmãos alemães Jacob e Wilhelm Carl Grimm, os irmãos Grimm, que ficaram famosos pelos contos coletados e editados no século XIX, também com muitas narrativas conhecidas, tais como A branca de Neve e os sete anões; João e Maria; Rapunzel, entre outros.
Os irmãos Grimm realizaram mudanças em alguns contos, deixando-os mais cativantes e de fácil compreensão. No caso de A Chapeuzinho Vermelho, há uma versão, modificada pelos irmãos, que termina com um final feliz, onde Chapeuzinho e sua avó são resgatadas da barriga do Lobo pelo Caçador. Essa é a versão da narrativa contada para as crianças até os dias de hoje, seguindo assim, o modelo típico dos contos de fada, nos quais os maus sempre terminam arruinados e as personagens principais vivem “felizes para sempre”.
Partindo dos tradicionais contos de fadas infantis, novas versões foram produzidas por diversos autores, como exemplo, podemos citar Chapeuzinho Amarelo (1979), de Chico Buarque de Holanda; Fita verde no cabelo (1992), de João Guimarães Rosa; A Chapéu (1992), de Hilda Hilst; e Chapeuzinho Vermelhode raiva (1970), de Mário Prato, que foram escritas a partir do conto de fadas Chapeuzinho Vermelho. Assim sendo, essas novas produções literárias podem ser consideradas intertextos do conto de fadas a partir do qual foram originadas.
Koch, Bentes e Cavalcante (2007), trazendo o conceito de intertextualidade cunhado por Kristeva na década de 60, afirmam que todo texto constitui-se enquanto objeto heterogêneo, visto que evidencia relações do seu interior com seu exterior, sendo formado a partir de outros textos com os quais ele dialoga.
As autoras apresentam duas faces principais da intertextualidade, a primeira, intertextualidade lato sensu, é “constitutiva de todo e qualquer discurso” (KOCH, BENTES, CAVALCANTE, p. 10, 2007), enquanto que a segunda, intertextualidade stricto sensu, é “atestada pela presença necessária de um intertexto” (KOCH, BENTES, CAVALCANTE, p. 10, 2007).
Ao observarmos os intertextos produzidos a partir do conto Chapeuzinho Vermelho, pode-se notar que eles indicam intertextualidade stricto sensu em suascomposições, visto que há, neles, uma inserção de “outro texto anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade” (KOCH, BENTES, CAVALCANTE, p. 17, 2007).
O processo de intertextualidade stricto sensu pode ocorrer de modo implícito, quando o texto não cita diretamente o texto original, ou de modo explícito, quando há, no intertexto, clara introdução da fonte original. Em ambos os casos, é preciso que o leitor tenha tido acesso à produção escrita original, para que sua memória discursiva possa realizar a identificação do processo de intertextualidade.
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