O Desejo Triangular de René Girard
Por: Carla Diaz • 11/4/2016 • Ensaio • 1.179 Palavras (5 Páginas) • 589 Visualizações
O desejo triangular de René Girard
Aluna: Carla Maria da Silva Diaz, RA 152372.
Disciplina: Teoria. Crítica e Historiografia
Profa. Dra. Miriam V Gárate
Campinas – SP
2014
QUESTÃO 3
Apresente brevemente as seguintes noções de Girard: desejo mimético, mediador, e suas variantes ou tipos. Cite ao menos uma frase do ensaio de Girard relativa a cada conceito no desenvolvimento da questão.
Para sustentar sua tese sobre a base triangular do desejo para a formulação da sua teoria do romance romanesco, René Girard afirma que este gênero se constrói a grandes penas sobre atitudes qualificadas por ele de “românticas”, porque essas lhe parecem todas destinadas a manter a ilusão do desejo espontâneo e de uma subjetividade quase divina em sua autonomia (1972, p. 20). Carregado por uma ilusão de autonomia, o espírito do homem moderno- que permanece em nós no mundo contemporâneo- está cada vez mais preso a ela na medida em que esta é cada vez mais falsa.
A origem desta concepção advém das teorias românticas e simbolistas que descrevem um desejo sem mediador. Traduzindo e retratando o ponto de vista do sujeito decidido a esquecer o papel que desempenha o Outro em sua visão de mundo. Ou seja, como se o desejo fosse totalmente vinculado à materialidade do objeto, ou ainda, o desejo só existe se é espontâneo. Como autênticos vaidosos românticos, não queremos ser discípulos de ninguém e nos persuadimos de que somos infinitamente originais. É neste jogo de um Eu quase divino que a natureza imitativa do desejo perde espaço e, em nossos dias, fica quase imperceptível, visto que, a imitação mais fervorosa é a mais vigorosamente negada (1972, p.10).
A partir dessa breve introdução podemos analisar já alguns conceitos esmiuçados pelo autor ao longo do capítulo um de sua obra Mentira Romântica, Verdade Romanesca. O primeiro deles é o desejo mimético, também chamado de desejo triangular, em que as personagens de Cervantes e de Flaubert imitam os desejos dos modelos que acreditam ser de sua livre escolha. No caso do romancista Stendhal, também há a imitação na personalidade de seus heróis. Um exemplo seria Julien Sorel que (...) “no momento de começar a trabalhar para os Rênal, (...) toma das confissões de Rousseau o desejo de jantar na mesa dos patrões e não na dos criados” (1972, p.3).
Stendhal chama vaidade todas as formas de cópia, ou imitação. Para ele é impossível que a vaidade extraia seus desejos de seu próprio fundo, ela os toma emprestado de outro (1972, p. 4). Logo, o conceito de “vaidade” na obra do romancista se reencontra e dialoga harmoniosamente com o conceito de desejo triangular, podendo assim chamá-lo de uma variante deste. O triângulo surge na obra do romancista nos momentos em que ele retrata a ambição, o comércio ou o amor. Inclui todos esses elementos na mesma categoria onde a figura do vaidoso autossugestiona a sua carência de determinado objeto, na medida em que, este é suficiente para convencê-lo de que já foi desejado por um terceiro ao qual adjudica-se certo prestígio.
Logo, o papel do mediador no contexto stendhaliano está atado à figura deste como detentor do prestígio para o vaidoso e, ao mesmo, ele também o considerado um rival. Isto porque, na maioria dos desejos do autor, o próprio mediador deseja o mesmo objeto, ou poderia desejá-lo tornando o objeto infinitamente mais desejável aos olhos do sujeito. Desta forma a mediação que separa o mediador do sujeito desejante é menor que em Cervantes, onde a distância é maior e adquire um caráter quase espiritual (relação Quixote e Amadis).
Com isso há dois tipos de relação entre mediador e sujeito, uma que separa Quixote da vaidade vulgar e baixa das personagens stendhalianas, de modo que, no primeiro “(...) o mediador permanecerá externo ao universo dos heróis (...)” enquanto que “(...) é interno a esse mesmo universo (...)” (1972, p. 6) no segundo. Em outras palavras, temos a mediação externa e a interna como definições orientadoras nas obras romanescas. Na primeira a distância é suficiente para que as duas esferas – mediador e sujeito - ocupando respectivamente o centro não entrem em contato. Quanto na segunda, “(...) a mesma distância é suficientemente reduzida de maneira que as esferas penetrem mais ou menos profundamente uma na outra.” (1972, p.6).
Vale lembrar outra característica da mediação externa, “admira e imita abertamente sem temer deles nenhuma rivalidade (1972, p. 24)”, entenda-se ‘deles’ como mediadores. Essa relação é clara no caso de Quixote e Amadis – seu herói, o melhor exemplo de modelo de cavalaria que não existe fisicamente para disputar nada com o sujeito Quixote. Com isso, Cervantes é mestre na mediação externa enquanto que para Stendhal, Proust e Dostoiévski lhes caberia o título de os três grandes romancistas da mediação interna, cada um em seu domínio privilegiado. São estes domínios:
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