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O Fantasma De Camões

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Por:   •  9/1/2015  •  551 Palavras (3 Páginas)  •  717 Visualizações

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O texto “O Fantasma de Camões” engloba a antologia de textos O Reino da Estupidez, do célebre escritor português. Trata-se de um texto que emprega um tom bastante irónico e, em certos aspectos, iconoclasta, ao mesmo tempo que adquire uma acentuação que pretende criticar sarcasticamente os intelectuais portugueses, ou os que julgam deter o monopólio do intelectualismo. O lado mais iconoclasta é perceptível, acima de tudo, no grau de proximidade com o que autor constrói a sua relação fictícia com o poeta Luís de Camões, relatando a leitura da sua obra como se esta se tratasse de um diálogo em que os dois interlocutores ocupariam o mesmo nível na criação literária, chegando por vezes a haver a ideia de que o sujeito deste texto se arroga no direito de se sentir mais sabido que o autor de Os Lusíadas. Trata-se, contudo, de um texto repleto de humor, que não deve ser levado a sério pelo seu estilo, mas antes pelo seu conteúdo.

A primeira parte do texto consiste numa evocação, pelo autor, de uma conferência que tinha realizado anos antes (cujo tema seria a dialética camoniana), e que havia dado origem a uma série de comentários menos elogiosos de uma elite intelectual que se julgava detentora do monopólio interpretativo de Camões, isto sem esquecer os que de uma maneira ou de outra interpretaram mal o uso da palavra dialética. Depois desta parte inicial, como que ironizando os ditos intelectuais, o autor concebe a sua relação com os textos de Camões como se esta se tratasse de um diálogo na segunda pessoa, no qual este interpelasse o poeta com uma atitude de familiaridade.

A consciência de saber que, em matéria de Camões, a probabilidade de dizer algo repetido é muito grande, terá levado o autor a ignorar os seus próprios estudos em relação à estrutura dos Lusíadas. O curto texto chega à sua conclusão com novo diálogo imaginário, quando o autor interpela Camões e, começando por referir questões de enquadramento estilístico que dividem os autores, encontra diante de si um poeta que não sabe o que significa o Renascimento, que parece indiferente a comentários de críticos que não compreende e que parece não saber ao certo quais os poemas de que é o verdadeiro autor.

Com ironia e muito sarcasmo, este texto de Jorge de Sena pode ser, afinal, visto como uma alegoria da interpretação e da crítica literária, mais ainda, do próprio processo de leitura. Ler um texto é, de certa maneira, um encontro com o seu autor, uma batalha para que o leitor consiga aceder ao seu significado, muitas das vezes indo pelo caminho errado, interpretando um texto como uma mera confissão do seu autor ou descobrindo interpretações que as condições espácio-temporais de uma obra deveriam tornar difíceis de defender. Ler um texto é, portanto, batalhar para descobrir sentidos em relação aos quais ninguém detém o monopólio, sobretudo quando se trata de textos de épocas bastante anteriores àquela em que o leitor vive. Um encontro entre Jorge de Sena e Camões só poderia ser um encontro carregado de mal-entendidos precisamente devido a esta distância temporal que os separa, às concepções e conhecimentos que o segundo nunca poderia ter. Rematando, pode dizer-se que o texto de Jorge de Sena deverá ser apreciado pelo seu estilo, mas levado a sério pelo seu conteúdo.

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