O Paganismo e Cristianismo no Poema Beowulf
Por: HERMES JOSE QUAGLIOTO JUNIOR • 29/8/2018 • Artigo • 2.777 Palavras (12 Páginas) • 335 Visualizações
Breves Apontamentos Sobre Paganismo e Cristianismo no Poema Beowulf
Acadêmico: Hermes José Quaglioto Junior
Introdução.
Este trabalho tem por finalidade fazer uma breve análise Sobre Intertextualidade Bíblica no Poema Beowulf, bem como utilizar a obra “Focus on English and American Literature” sobre a origem da civilização Anglo-saxã, sua língua e tradição oral. Será realizado um paralelo com a obra Beowulf e apontamentos serão levantados em concordância ao utilizar o trabalho de Borges (A literatura Inglesa).
Uma breve História.
O Reino Unido é uma ilha, e como diz Borges, “o mar banha tanto sua literatura quanto suas costas”, porém nos arremetamos a uma breve história. Os primeiros povos eram nômades, pescadores e caçadores. Com o passar do tempo houveram fortes ataques de invasores antes da ocupação romana. Outros povos vieram da península arábica e instalaram-se na Britânia e Irlanda. Um desses eram o Beakers (recebiam esse nome pelo costume de enterrarem seus mortos em jazigos separados e decoravam seus túmulos com vasos de cerâmica). Outros povos a tomar posse do território foram os Célticos, porém foi a civilização Romana que trouxe grande prosperidade e Paz para o território.
Após a saída dos povos Romanos, Anglos, Saxões e Jutes disputaram o território. Os Celtas não resistiram e se refugiaram em locais remotos. Durante a ocupação romana havia povos, fazendeiros cristãos que ali se estabeleceram, porém, os demais povos (anglos e saxões), possuíam suas crenças nos antigos deuses germânicos, o que poderia ter causado conflitos. Se atentarmos para a resistência da igreja católica romana, podemos dizer que a igreja sobreviveu através da igreja céltica, sendo assim futuramente proporcionando o crescimento da igreja:
[...] it only through the Celtic church that Christianity survived. However, thanks to a monk, St Augustine, who was sent by the Pope in 597 to re-establish the Christian religion in Britain, and to the efforts of the Celtic bishops, almost the whole of the country had been converted to Christianity by 660. (BRODEY, 2002, p 4)
Sociedade Anglo – Saxã.
A vida social era originalmente formada por pequenas comunidades. As moradias eram construídas ao derredor da casa de seu Senhor (os primórdios dos feudos). As pessoas possuíam um código de conduta, valores como lealdade para com o seu Senhor, hospitalidade para com os viajantes e sentimento de destino (Wyrd), ligando os homens com laços mais fortes que o próprio sangue. Tais valores são constatados pelos registros de Tacitus, o primeiro centurião que escreveu sobre os germanos em seu trabalho:
[…] “As for leaving a battle alive after your chief has fallen, that means lifelong infamy and shame. To defend and protect him, to put down one´s own acts of heroism to his credit – that is what they really mean by allegiance. The chiefs fight for victory, the companions for their chief […] (BRODEY, 2002, p 5)
Os povos germânicos eram também grandes guerreiros, em suas vidas havia uma forte ligação com o combate corpo a corpo, dotados de um grande porte físico eram grandes apreciadores de uma boa gastronomia, como pode ser constatado pelas palavras de Oliveira:
[...] “Os Anglos e os Saxões, como outros povos germânicos, eram de grande porte físico, pele clara e extremamente amantes da boa comida e bebida, dos jogos, das ostentações e das lutas”. (Oliveira, p.13)
Algo interessante sobre a Origem da Grã-Bretanha, é que ao invadirem a Grã-Bretanha, os Anglo-Saxões trouxeram consigo novas tecnologias agrárias, o arado grande, por exemplo, e a rotação de culturas. Isso proporcionou uma interação maior entre as famílias.
A Tradição Oral
Um povo se reconhece como nação após ter conhecimento e se reconhecer perante características de suas tradições e valores, seja estes últimos culturais ou territoriais.
No que diz respeito à Grã-Bretanha, temos conhecimento de seu território e de seu clima e segundo Borges, o clima foi um dos fatores responsáveis pela criação da identidade do povo Inglês:
[...] “Já disse que o clima inglês é responsável pelo caráter inglês: o inglês é bem mais frio do que arrebatado, mais controlado do que ardente, ativo por causa da necessidade de manter-=se quente, filosófico sob dificuldades porque [...] se pudermos suportar o clima inglês, poderemos suportar qualquer coisa. (2002, p 19)
Outro item que define a identidade de um povo é sua história, esta, nos primórdios de cada civilização era repassada por meio oral. No caso dos Anglo-Saxões as suas memórias eram “cantadas” como (muitas vezes) história de batalhas nas quais estavam quase sempre presente a figura de um herói. Um grande exemplo disso o poema épico Beowulf no qual relata a história do herói Beowulf e a luta contra Grendel. A contribuição de Oliveira que vem a seguir é um exemplo da unicidade do poema Beowulf em relação à tradição oral:
[...] “O poema reflete também a tradição oral da epopeia folclórica, em oposição às epopeias escritas que surgiram depois, como as de Spencer (1552-1599), autor do célebre poema épico The Faerie Queene e Milton (1608 – 1674), autor de Paradise Lost (“Paraíso Perdido”). [...] Não podemos descartar a hipótese de o poema ter existido somente na forma oral ou cantada durante as migrações escandinavas para a Grã-Bretanha, levado pelos Getas ou Anglos para Northumbria”. (Oliveira, p.14)
Nas palavras de Zumthor, podemos perceber a função que a oralidade, a história oral desempenha em um grupo social. De forma coesa ela unifica as mentalidades, permite que a cultura, a identidade se perpetue ao fazer parte da coletividade:
[...] “A voz poética assume a função coesiva e estabilizante sem a qual o grupo social não poderia sobreviver. Paradoxo: graças ao vagar de seus intérpretes - no espaço, no tempo, na consciência de si -, a voz poética está presente em toda a parte, conhecida de cada um, integrada nos discursos comuns, e é para eles referência permanente e segura. Ela Ihes confere figuradamente alguma extratemporalidade: através dela, permanecem e se justificam”. (ZUMTHOR, p.139)
Diferentemente da escrita, a oralidade ignora a presença do tempo não por meio de “pena e tinta”, mas sim “pelo corpo daqueles que lhe permitem viver em seu fôlego”. O intérprete, “dá a luz” a cultura, “dá testemunho do acontecimento” e sua memória se torna “morada” de um povo:
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