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O Pequeno Gigante - Crônica

Por:   •  26/9/2016  •  Resenha  •  744 Palavras (3 Páginas)  •  295 Visualizações

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O Pequeno e o Gigante

Cortando a serra que cerca a cidade, do alto da Ponte do Iguaçu, carros vão e vem fazendo a vida seguir o seu curso.  Embaixo, um homem, chinelo de couro, calças folgadas amarradas à cintura por um cordão, chapelão de palha e o cigarro entre os dentes amarelados, vai ao encontro das águas turvas que brigam com o cascalho, na tentativa de romper a garganta seca para alimentar outras águas.

- “A benção meu pai! Com a vossa licença minha rede vou jogá e se nossa “mãe” permitir, com fartura quero vortar!”

Em sinal de respeito, Seu Jão Come Longe, retira seu chapéu da cabeça sete vezes e cumprimenta as águas avermelhadas com cheiro de ferro.

Segue rio acima. A vida o tornou o artesão da pesca, com a percepção e habilidades necessárias para mapear o rio. Seu Jão sabe onde moram as cobras. E, nas águas do Paraguaçu, o mestre vai buscar o sustento da sua família e traz em seu embornal, além de peixes, histórias, encantos, experiências, transmitidas a outros pescadores, no ver, ouvir e fazer desta função.

Da porta da gruta, vejo-o sentado à beira do rio comendo o peixe assado no borralho, depois, se lava nas águas e antes de ir embora, sua reverência àquele que em anos de pesca, jamais o deixara voltar com o cesto vazio.

Vai pernoitar em casa. Família e os vizinhos sentados ao passeio, o esperam com a alegria da semana de fartura.  Tucunaré com pirão, uma das tradições de Itaetê.

No dia seguinte um novo encontro, as histórias, o próprio rio vem lhes contar. As águas tão baixando. O que há? Ás vezes parece que os peixes saiam da água e dos mistérios ali no fundo escondido vinha lhe falar. Outros carros cruzam a ponte, e Seu Jão está lá.  No seu gesto rotineiro, resolve escutar um encantado:

“Sou o nego d´água, não vim aqui lhe butar medo, vim avisá que com outros incantado cê vai se encontra. Reze um pade nosso e uma ave Maria e sai correno sem pra trais oiá”

No ponto das lavadeiras lança seu anzol, enquanto estas entoam canções que emendam umas às outras e parecem encantar os peixes e ele também.

 “... Morena você se alembra...ô lavadera

Da noite que se passou...ô lavadera

 Madrugada, madrugou... ô lavadera

 E o sereno serenou...ô lavadera “

Notava algo diferente a cada dia, os peixes não beliscam mais o anzol, a rede voltando vazia. Começou a se perguntar o que teria acontecido, porque até mesmo aquele negrinho arteiro nada mais vinha lhe contar. Onde estavam as traíras, os piras e os tucunarés, e aquelas árvores farta de frutos o que fora feito delas?  Olhava agora para o rio triste e vazio, as poucas águas que lhe restam mais pareciam lágrimas de dor. Num pedido de socorro o Paraguaçu começou a clamar e aquele pescador se sentiu pela primeira vez, sem forças.

Foi então dar um dedo de prosa com uma lavadeira. Entre uma cantiga e outra, uma batida e outra do pano na pedra, dona Baia passou a lhe dizer:

- Não vê Seu Come Longe, a água não espuma mais o sabão!  Mal serve para beber, lá pras bandas da ponte da fazenda Iguaçu, um rio secou. Era ele que com suas águas negras, trazia fartura pro nosso Paraguaçu!

Intrigado com a conversa, Seu Jão passou tirar a limpo esta história com seu amigo, velho Alfredo. Será verdade?

- Jão, perto do rio da ponte, tem muitas fazendas de gado e plantação. Puxaram a água do rio nuns canos grandes e fizeram uma tal de irrigação, junto a isso a estiagem é grande, faz quase uma ano que não chove por essas banda. Parece que São José anda triste com a gente! Não quer mais mandar a chuva boa pra nosso sertão.

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