O Problemática da ficionalização da história
Por: Amarilis Ferreira • 28/11/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 667 Palavras (3 Páginas) • 146 Visualizações
Saramago trabalha com a problemática da ficcionalização da história. A utilização desse "real" passa a adquirir um significado político. E é justamente o que o uso do realismo mágico propõe, esse descentramento, essa mudança de foco tem a função de desestabilizar o discurso que é comum, o discurso dominante, que só aceita uma verdade, um ponto de vista e, consequentemente, exclui vozes que estão à margem daquilo que é considerado oficial.
Nesse contexto ele (realismo mágico) atua como estratégia de transgressão de valores, possibilitando um novo olhar sobre a realidade agora ampliada pela inserção desses elementos fantásticos que provocam um olhar crítico sobre a realidade retratada.
O narrador tem um papel importante na constatação do realismo mágico, ele associado à Blimunda que conduz a narrativa para a naturalização do elemento mágico.
Blimunda é a última personagem a ser introduzida na história, mas é para ela e Baltazar que o foco narrativo se transfere, causando uma quebra da expectativa do leitor a respeito do que esperar da história. A personagem é introduzida a partir da cena em que a mãe condenada pela inquisição, cumprirá sua pena.
(ler página 54 e 55)
Ao ser apresentada pelo narrador, verificamos que não há conflito entre o natural e o sobrenatural, pois a realidade mágica existe, ela faz parte do imaginário daquela época, não precisa ser decifrada.
Blimunda é uma personagem extraordinária, aprendeu as coisas sobre a vida e a morte, a partir da maneira como olha o mundo, aprendeu sobre o pecado e o amor “na barriga da mãe”, onde permaneceu de “olhos abertos”.
(ler página 375)
Aparentemente, Blimunda não prevê o futuro, mas sua magia, embora isso seja negado, foi herdada de sua mãe feiticeira. A própria descrição de Blimunda carrega uma atmosfera de mistério, apresentada com seus cabelos espessos, da cor do mel, e com olhos cuja cor não é possível determinar.
(ler página 111)
~~ela vê o mundo, mas ele não a vê, ela transporta consigo poderes mágicos que por si só a separam do seu mundo. É como se esse "dom" de "ver além" separasse ela de tudo mais, da realidade, como no texto, essa realidade histórica, "oficial". Ela, mulher, feiticeira e filha de feiticeira, não pertencente à nenhuma classe abastada, ou seja, que compõe o grupo dos marginalizados, da mesma forma que os trabalhadores da construção do convento de Mafra.
Os poderes mágicos atribuídos a Blimunda consistem na capacidade de ver literalmente por dentro das pessoas e das coisas quando em jejum, além de ser capaz de capturar vontades humanas – em forma de nuvens fechadas – quando as pessoas estão prestes a morrer.
Esses poderes só são neutralizados durante as mudanças da lua ou quando Blimunda se alimenta antes de se levantar.
*questão da construção da relação das duas personagens sol e lua
(ler página 81)
Pela voz de Blimunda e de sua magia, os dogmas da Igreja são questionados. Quando comunga em jejum, a personagem vê na hóstia uma nuvem idêntica à que vê em todos os seres humanos, e contesta a existência de Deus. Ao criar para si valores que subvertem as limitações do seu tempo, Blimunda pode ser considerada herética.
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