TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

O QUE HA EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO

Por:   •  6/5/2022  •  Trabalho acadêmico  •  748 Palavras (3 Páginas)  •  133 Visualizações

Página 1 de 3

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço –
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas –
Essas e o que falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada –
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…

{LEITURA}

        O poema é constituído por 4 estrofes, é constituído por versos livres (ausência de rima), há uma irregularidade de versos por estrofe e métrica (1estrofe- quintilha / 2estrofe- oitava / 3estrofe- oitava / 4estrofe- nona)

        Este poema insere-se na 3 fase da poesia de Álvaro de Campos, a fase do pessimismo, da angústia existencial e da melancolia pela incapacidade das suas realizações.

O tema do poema é o Cansaço do sujeito poético em relação à sua realidade.

        O poema É dividido em quatro partes lógicas que correspondem respetivamente às quatro estrofes.

1 Estrofe: O sujeito poético afirma que o que domina a sua vida é o cansaço, como ele refere na estrofe ele não se sente entediado por causa disto ou de aquilo, nem porque não fez nada ou fez tudo. A verdade é que ele não sabe a causa do cansaço nem mesmo se realmente existe uma causa. Ele sente-se simplesmente cansado diante a realidade em que vive.

2 Estrofe: Contrariamente à ideia exposta na primeira estrofe, o sujeito poético nesta estrofe tenta arranjar explicação para todo o cansaço que sente, remete para algumas “coisas” que todos desejamos e que são consideradas maioritariamente como sendo positivas para mostrar que nem sempre o que ambicionamos é o melhor para nós.

3 Estrofe: O sujeito poético estabelece a comparação do seu ideal de vida com três tipos de ideais de vida que são amar o infinito, amar o impossível e não amar nada simplesmente. Demarca-se de cada um deles afirmando que ama infinitamente o finito, deseja impossivelmente o possível e quer tudo e mais um pouco. Ou seja, que o paradoxo inatingível. Temos, então, um sujeito poético em contramão, seguindo opostamente ao resto do mundo, alguém que nunca encontrara um lugar no grupo.

4 Estrofe: Surgem as consequências para os três ideais de vida diferentes e para o dele próprio que engloba esses três.

O sujeito poético, que é materialista e aceita apenas o que é finito e possível, deseja-o infinitamente, como se desejasse o sobrenatural, o eterno, o imenso. Apesar das sensações serem, por sua própria natureza, limitadas, contingentes, o sujeito lírico quer captar nelas o infinito, mas nunca o poderá́ conseguir, daí o seu interminável cansaço.

Os três idealistas, aos quais o sujeito poético opõe o seu ideal de vida, são pessoas, que, quer ambicionem coisas no limite do infinito ou do impossível, quer se reduzam a uma vida sem ambições (vivendo apenas como podem), vivem naturalmente segundo os seus sonhos ou desejos, mantendo uma certa tranquilidade vivencial.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (4.8 Kb)   pdf (71.8 Kb)   docx (9.1 Kb)  
Continuar por mais 2 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com