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O Realismo De Machado De Assis

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Por:   •  20/11/2014  •  1.898 Palavras (8 Páginas)  •  282 Visualizações

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O REALISMO DE MACHADO DE ASSIS

No ano em que se comemora o centenário de falecimento desse que se tornou o maior escritor brasileiro do século XIX e um dos grandes da literatura universal, nada mais justo do que homenagearmos o "Bruxo do Cosme Velho" com um olhar crítico sobre suas três obras-primas, marcos do realismo brasileiro: "Memórias póstumas e Brás Cubas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro".

Antes, porém, de dizermos uma palavra sequer acerca das obras, cabe-nos falar um pouco sobre o cérebro por trás delas. Machado de Assis, nascido mulato em pleno regime escravocrata, filho de pais pobres, sofrendo de epilepsia, uma doença encarada com preconceito pela grande maioria da sociedade da época, era um homem que tinha tudo para dar errado no Brasil de meados do século XIX. No entanto, firmou-se única e exclusivamente com base no seu talento literário. Desde muito jovem teve ajuda de pessoas influentes, que enxergaram nele um talento precoce para as letras, e assim as portas foram se abrindo uma a uma, não sem lutas e decepções, mas de forma lenta e progressiva. Machado não decepcionou quem acreditou no seu potencial: alto funcionário público, escritor, contista, poeta e cronista de uma época, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, escreveu páginas inesquecíveis da literatura brasileira, mantendo sempre uma correção e dignidade raras para um homem que esteve sempre proximo do poder. Integridade essa tão inquestionável quanto a qualidade da sua obra, objeto de estudos de críticos nacionais consagrados (como José Guilherme Merquior, Josué Montello e Raimundo Magalhães Jr), e internacionais (Carlos Fuentes, John Gledson, Susan Sontag e Harold Bloom). Harold Blum, aliás, o colocou em sua lista dos cem gênios literários da história, atestando aquilo que já sabíamos há tempos: a literatura de Machado de Assis é universal.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (1881)

Em 1880, quando o romantismo ainda é a grande corrente da literatura brasileira, eis que Machado de Assis retorna de uma temporada em Nova Friburgo, onde esteve em tratamento de saúde, com uma obra ousada para os padrões da época: "Memórias póstumas de Brás Cubas" é o livro que inaugura o realismo brasileiro, e inaugura em grande estilo. Em "Memórias", temos a antecipação de experimentações literárias que somente seriam incorporadas à literatura brasileira de fato, com a Semana de Arte Moderna de 1922. Machado de Assis passa da fase água-com-açúcar dos romances românticos melosos destinados principalmente à diversão das damas de alta classe da corte, para densas tramas psicológicas, onde o que se lê nas entrelinhas é mais importante do que aquilo que parece explícito no texto. Dessa forma, a vida social e as paisagens não são mais o que importa, apesar de ainda estarem inseridos no contexto, e sim as nuances psicológicas das personagens e como elas reagem às circunstâncias que se apresentam.

"Memórias póstumas de Brás Cubas" é inovador desde o início. O livro conta a história de Brás Cubas, recém-defunto que se apresenta a contar a sua história de vida, seus amores e desventuras. É o epitáfio de um homem que nunca conseguiu, de fato, realizar aquilo que sonhou, e na morte, vê uma oportunidade de passar a limpo sua vida vazia e despretenciosa. Contado de maneira aparentemente displicente, o livro descreve, em seu início, o velório do personagem-título, morto aos sessenta e quatro anos, e envereda pelas paixões vividas por ele: Marcela, seu primeiro amor e motivo da sua "deportação" por parte do pai para estudar em Portugal, Eugênia, filha de uma amiga pobre da família, Virgília, rica herdeira de um político influente, que depois vem a se tornar sua amante, a sobrinha do cunhado Cotrim, que morre nova, aos dezenove anos. Envolve-se na política, conseguindo algum êxito de início, mas fracassando em se tornar ministro, resolve fundar um jornal de oposição. Reencontra um antigo amigo de escola, Quincas Borba, (personagem que viria a ser reaproveitado anos depois em outro grande livro), que se transformou em mendigo e que lhe apresenta uma doutrina filosófica criada por ele, o Humanitismo, que prega que "tudo o que acontece na vida faz parte de um quadro maior para a preservação da essência humana", o que de certa forma, serve de alívio para Brás Cubas quando sente-se deprimido por não ter conseguido nenhum feito que justificasse sua vida. Aos poucos vê o amigo enlouquecer e morrer, numa das fases mais deprimentes da sua vida.

Inovações como o capítulo 139, totalmente em branco, e o capítulo 55, onde descreve um diálogo sem dizer uma única palavra, fazem de "Memórias" um dos precussores do movimento modernista brasileiro. A ironia, uma das marcas registradas do grande escritor, permeia toda obra, ora aparecendo de forma indireta e sutil, ora explícita e bem-humorada, como a declaração a respeito do amigo que faz um discurso eloqüente no seu velório, logo no início do livro: "Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei."

QUINCAS BORBA (1891)

A princípio, trata-se de uma história comum: Rubião, discípulo e seguidor do filósofo-louco Quincas Borba, um pacato professor da cidade de Barbacena, onde a trama se inicia, herda seus bens e parte para o Rio de Janeiro. Conhece Sofia, mulher sensual e dissimulada, esposa de Cristiano Palha, um esperto e ambicioso homem, que vê no simplório professor a chance de se dar bem na vida. Os dois tornam-se os melhores amigos de Rubião na corte, mas tudo o que querem é colocar as mãos na fortuna do ingênuo professor. Começa então um jogo de sedução, onde Sofia participa ativamente, a princípio apenas por diversão e mais tarde conscientemente de acordo com os planos do marido, até que o último tostão de Rubião passa as mãos deles. Todos os pretensos amigos desaparecem, resta apenas o cão Quincas Borba, nome herdado do antigo e falecido dono. Pouco a pouco Rubião vai enlouquecendo, tomado por um sentimento megalômano de que significaria mais do que realmente significava na vida da moça. O tão sonhado amor de Rubião por Sofia nunca se concretiza, e ele morre pobre, só e abandonado por todos, na sua Barbacena, o lugar onde tudo começou.

Em "Quincas Borba", Machado de Assis opta pela narração na terceira pessoa, ao contrário de "Memórias" e de "Dom Casmurro".

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