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O conto Africano em Língua Portuguesa

Por:   •  5/1/2016  •  Monografia  •  1.317 Palavras (6 Páginas)  •  712 Visualizações

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O conto Africano em Língua Portuguesa

As literaturas africanas de língua portuguesa ganharam notoriedade com a divulgação de alguns autores, como, Luandino Vieira, Luis Bernardo Honwana, Mia Couto, José Eduardo Agualusa, entre outros. As obras, publicadas na década de 80 (século XX), representam o nascer das literaturas de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Ao produzir literatura moderna, os escritores forçosamente transitavam por dois espaços, pois assumiam as heranças oriundas de movimentos e correntes literárias da Europa e as manifestações advindas do contato com a história e as línguas locais.

Pensar os diálogos literários é pensar também as relações políticas, econômicas e sociais estabelecidas durante séculos de colonização portuguesa em África. É ter em conta que a língua pela qual conhecemos essas literaturas provém do contato do europeu com os africanos e de todo o complexo sistema de relações estabelecidas que perduram ainda em nossos dias.

Os contos populares são uma maneira de resgatar a identidade e demonstrar os fatos. No conto Nós matámos o Cão Tinhoso (1964), de Luís Bernardo Honwana é mostrado o panorama moçambicano da época. A relação dialética colonizado/ colonizador é dada, pelas formas mais sutis, através de várias personagens e situações: de exploração, de incompreensão, de injustiça, de alienação/desalienação, de sonho, de realidade, e das estruturas sociais violentas. No domínio da linguagem, vemos que o autor dá privilégio ao português fundamental, mas sempre enriquecido de aquisições linguísticas moçambicanas. Durante a leitura de Nós matámos o Cão Tinhoso somos perfeitamente embrenhados no que está a ser contado e partilhamos, completamente, o sofrimento daquele cão e do próprio menino no facto de este ter sido o involuntário cúmplice da morte do animal que ele tanto amava. Uma estória cruel e absurda que se poderia sintetizar como a da execução de um inocente: o "Cão-Tinhoso". Podemos entender, então, este texto como a situação colonial de conflito entre colonizado/colonizador, envolvendo todas as suas questões culturais, ideológicas, históricas, sociais e económicas. O colonizador submeteu o colonizado por ser o mais fraco. O conto desenha com nitidez uma problemática ética que, indo tocar as questões do bem e do mal, concentra em si mesma propostas políticas e ideológicas. A esse respeito Laura Padilha diz: De um lado, estruturam-se os fortes referenciais da cultura hegemônica do colonizador branco, por milênios sedimentada em letra. De outro, os esmagados valores dos colonizados, sempre postos em questão pelo dominador e por estes vistos como primitivos e/ou algo cujo sentido só se podia encontrar no denso colorido da alteridade que tinha por marca, em sua percepção em geral redutora, o exotismo. (pp. 73-4).

Os três contos que compõem Luuanda (1963), de Luandino Vieira, representam a tensão social por que passava Angola no momento, ao mesmo tempo em que sugerem a necessidade de uma mobilização popular para que se possam fazer entrever novas configurações sociais. É possível estabelecer uma tomada de consciência que se dá de forma gradual nos personagens do primeiro ao último conto. No primeiro conto, Vavó Xixi e seu neto Zeca Santos, por exemplo, nos deparamos com a representação do angolano. Já em Estória do Ladrão e do Papagaio, os acontecimentos que mudam as vidas dos amigos Dosreis, Kam’tuta e João Miguel apontam para uma narrativa de dimensão didática em que são apresentados dois “valores fundamentais para uma atuação revolucionária – a compreensão histórica dos fatos e a solidariedade”. Por fim, Estória da Galinha e do Ovo vem fechar o ciclo dessa tomada de consciência, agora através das figuras de mulheres e crianças, já que a valorização de conhecimentos e modos de vida tradicionais pelos monandengues Beto e Xico é capaz de substituir, naquele grupo de mulheres, o conflito pela união.

Também o conto As flores de Novidade, do livro Estórias abensonhadas (1994), do escritor Mia Couto, fixa, por meio da escrita, a memória de um acontecimento histórico recente: a guerra entre moçambicanos, divididos entre a Renamo e a Frelimo. Narrativa que aborda o sofrimento de se ter de abandonar o lugar em que se vive – sobretudo em razão do desmembramento irreversível das famílias – por causa da guerra. A personagem Novidade opta por não sair de suas terras que seriam totalmente bombardeadas. A opção pela morte revela a ação há um encontro com as tradições africanas, que concebem a morte, assim como a terra. Novidade retorna a terra mãe e com ela se integra, transformando-se em mito. A memória está diretamente ligada a terra e à importância que ela exerce para o coletivo. A guerra, a fuga, e o retorno formam a ponte para essa memória social. As suas experiências refletem, como diria o próprio autor, mágoa e esperança. Mágoa pela aparência escatologizante de que se reveste o fenômeno guerra, com toda a sua brutalidade catastrófica. Esperança, em razão do sonho de viver em um espaço menos hostil, na terra mãe que recebeu os mortos dos conflitos. Mortos, que, simbolicamente, apontam para um novo recomeço para Moçambique.

Como em Fronteiras Perdidas (1999), de José Eduardo Agualusa, tomada em seu conjunto, constitui uma viagem literária pelo tempo-espaço

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