O presidente negro
Por: Mariana Dick • 29/6/2019 • Resenha • 756 Palavras (4 Páginas) • 281 Visualizações
Resenha crítica: O Presidente Negro, por Monteiro Lobato
O Presidente Negro, primeiro livro adulto e de ficção científica escrito por Monteiro
Lobato, conta a história de Ayrton, um homem comum que se envolve em um acidente de
carro e é acolhido por professor Benson, um cientista e filósofo recluso. Durante o tempo na
casa do sábio, Ayrton apaixona-se por Miss Jane, filha dele, e conhece a maior invenção do
velho: o porviroscópio, máquina que os permitia ver o futuro. Mesmo com todo o futuro em
suas mãos, um assunto em particular interessava à Benson e Miss Jane, o choque das
raças nos Estados Unidos em 2228. Após a morte do sábio, Miss Jane resolve contar a
Ayrton tudo que descobriu sobre os acontecimentos daquela época, onde uma eleição
mudaria o cenário americano para sempre.
Para compreender o que se passou, é preciso primeiramente entender que o país
era dividido em três partes, os negros, comandados por Jim Roy, os homens brancos,
comandados por Kerlog e as mulheres brancas ou sabinas, comandadas politicamente por
Evelyn Astor e ideologicamente por Miss Elvin. Embora os brancos fossem maioria, a
divisão dos gêneros dada pelo elvinismo provocou a eleição de Jim Roy, o que chocou toda
a população e trouxe a reunião dos brancos em prol do bem da raça. O desfecho dessa
história se dá pela esterilização completa da raça negra a partir da venda de alisadores de
cabelo e pela ascensão de Kerlog à presidência.
A obra aqui analisada é a prova de que uma boa escrita nem sempre resulta em um
bom livro. Embora comece com um fluxo envolvente, numa filosofia futurista na medida
certa e uma narração em primeira pessoa de linguagem fácil, o livro se torna gradualmente
racista, atingindo um ponto em que se torna enfurecedor. Monteiro Lobato abusou da ficção
científica para dar voz ao seu preconceito e criou um futuro sexista, eugenista e
supremacista, características essas extremamente banalizadas durante todo o decorrer da
obra.
No futuro idealizado por Lobato, as feministas falharam ao pensar com ideias de
homem, se tornando nem homem, nem mulher. Assim, surgiria o elvinismo, ideologia que
defendia que as mulheres eram de outra espécie, raptada pelo homo sapiens nos tempos
antigos. A delirante descrição do feminino pelo autor pinta as mulheres brancas como seres
que agem através da beleza, seduzindo homens e influenciando suas ações. Mulheres
dependentes e instáveis, muito diferente do que se mostra hoje, 210 anos antes do futuro
descrito por ele, futuro esse que parece apenas andar para trás.
A eugenia como meio de correção genética foi um tópico abordado diversas vezes
durante a obra, sendo descrito como uma solução óbvia para acabar com os roubos, a
violência e a improdutividade humana. Essa teoria se popularizou no Brasil em 1918, tendo
papel crucial no racismo estrutural brasileiro. Os cientistas da época acreditavam que os
negros, por serem uma raça de pouco intelecto e desprovida de caráter, seriam uma sujeira
genética.
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