Poema Agosto De 1964 (Análise)
Ensaios: Poema Agosto De 1964 (Análise). Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Armenio • 10/11/2014 • 222 Palavras (1 Páginas) • 5.790 Visualizações
Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo num ônibus Estrada de Ferro - Leblon.
Viajo do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilazes, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito
policial-militar.
Digo adeus à ilusão
Mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos
um artefato, um poema,
uma bandeira.
Inferimos que, por meio da expressão Adeus, Rimbaud, o poeta denuncia o que tanto pregaram os modernistas: o desejo de uma literatura autenticamente nacionalista, como forma de desapego às importações.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos
um artefato, um poema,
uma bandeira.
Tais versos denunciam a indignação antes promulgada: a denúncia que se faz da realidade social, manifestada pelas desigualdades sociais. Assim como em outro de seus poemas, a intenção não se difere desta:
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
[...]
...