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Poema Agosto De 1964 (Análise)

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Por:   •  10/11/2014  •  222 Palavras (1 Páginas)  •  5.797 Visualizações

Agosto 1964

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

mercados, butiques,

viajo num ônibus Estrada de Ferro - Leblon.

Viajo do trabalho, a noite em meio,

fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,

relógios de lilazes, concretismo,

neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,

que a vida

eu a compro à vista aos donos do mundo.

Ao peso dos impostos, o verso sufoca,

a poesia agora responde a inquérito

policial-militar.

Digo adeus à ilusão

Mas não ao mundo. Mas não à vida,

meu reduto e meu reino.

Do salário injusto,

da punição injusta,

da humilhação, da tortura,

do terror,

retiramos algo e com ele construímos

um artefato, um poema,

uma bandeira.

Inferimos que, por meio da expressão Adeus, Rimbaud, o poeta denuncia o que tanto pregaram os modernistas: o desejo de uma literatura autenticamente nacionalista, como forma de desapego às importações.

Do salário injusto,

da punição injusta,

da humilhação, da tortura,

do terror,

retiramos algo e com ele construímos

um artefato, um poema,

uma bandeira.

Tais versos denunciam a indignação antes promulgada: a denúncia que se faz da realidade social, manifestada pelas desigualdades sociais. Assim como em outro de seus poemas, a intenção não se difere desta:

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

a luz o telefone

a sonegação

do leite

da carne

do açúcar

do pão

[...]

...

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