Poesia Contemporânea: Hilda Hilst
Ensaios: Poesia Contemporânea: Hilda Hilst. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: ladefranca • 11/8/2014 • 4.078 Palavras (17 Páginas) • 313 Visualizações
Devido à sua fama de insana e obscena, Hilda Hilst tornou-se mais famosa do que lida. Alcir Pécora organizou um guia de leitura da autora, falecida em 2004, que vem motivando o interesse das novas gerações, principalmente entre os jovens. Autora de mais de quarenta títulos, começou pelos livros de poesia e migrou para textos mais variados, que incluem o teatro, a crônica, o romance e relatos de todo tipo que, no entanto, mantêm sua "prosa poética". Segundo Pécora, a obra de Hilda contém "certa discursividade anárquica desordena a narrativa, que se compõe sucessivamente como romance memorialístico; diálogos soltos (...)"
Pode-se dizer que Hilda é desconhecida do grande público - muitos sabem dela através de referências confusas e sensacionalistas. No entanto, já passam de 50 as dissertações de mestrado sobre a autora, e suas obras estão sendo relançadas no mercado, feito excepcional para uma escritora que publicava em editoras não muito conhecidas: "a publicação de quase toda a obra em edições artesanais, em geral muito bonitas, produzidas por artistas amigos, mas sem qualquer alcance de distribuição", informa o pesquisador. Depois de sua morte, a escritora ganhou contornos públicos, considerada mulher ousada, original, avançada para a sua época, louca refinada e explosiva. Não é difícil imaginar hipóteses para esse quadro em que a imagem pública da artista como tipo excêntrico predominou sobre o conhecimento da obra.
Para concluir esta introdução, faz-se muito pertinente a declaração de Luisa Destri e Cristiano Diniz, sobre a forma de composição de Hilda Hilst:
"Para Hilda havia uma enorme diferença entre o processo de criação da poesia e o da prosa de ficção. O primeiro era definido como um estado febril que, inesperadamente, a tomava por dias consecutivos. A autora começava anotando um verso aqui, uma frase ali. O processo se intensificava e os poemas tomavam forma. Sua mesa de trabalho começava a encher-se de papéis. Não importava o dia, a hora ou o que estivesse fazendo; poderia estar lendo, tomando banho ou assistindo à televisão (o que se tornaria um de seus passatempos favoritos, especialmente quando acompanhado de doses de uísque), os versos "vinham", "eram recebidos" a qualquer momento enquanto ela se encontrava neste "estado poético". Assim, em sua opinião, não adiantava se sentar e se propor a escrever um poema se não estivesse nesta condição. O "receber", entretanto, não era obra apenas de centelhas divinas. Hilda reconhecia que leituras, estudos e, principalmente, questionamentos precediam esse momento "imprevisto" de criação poética. A partir da preparação, portanto, é que a poesia se tornava possível, embora o estudo não parecesse suficiente para explicar a origem da intuição."
Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais.
Foi para o colégio interno, Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937, onde estudou por oito anos. No ano de 1945 matricula-se no curso clássico da Escola Mackenzie, também naquela cidade. Morava, nessa época, num apartamento na Alameda Santos, com uma governanta de nome Marta. Em 1946, pela primeira vez, visitou o pai em sua fazenda em sua cidade natal, Jaú. Em apenas três dias, no pouco tempo que passou com ele, perturbou-se com sua loucura. Em "Carta ao Pai" diz a biografada: "Só três noites de amor, só três noites de amor", implorava o pai, sim, o pai, ele nunca fizera uma coisa como essa, sim, era Jaú, interior de São Paulo, um dia qualquer de 1946, sim, a filha deslumbrante, tremendo em seus 16 anos, sim, o pai a confundia com a mãe, a mão dele fechada sobre a dela, sim, o pai a confundia com a mãe, a confundia, sim?..."
Aconselhada pela mãe, em 1948 inicia seus estudos de Direito na Faculdade do Largo do São Francisco. A partir de então levaria uma vida boêmia que se prolongou até 1963. Moça de rara beleza, Hilda comportava-se de maneira muito livre, escandalizando a alta sociedade paulista. Despertou paixões em empresários, poetas (inclusive Vinicius de Moraes) e artistas em geral. Em 1949 é escolhida para saudar, entre os alunos de Direito, a escritora Lygia Fagundes Telles, por ocasião do lançamento de seu livro de contos "O Cacto Vermelho". Hilda lança, nos dois anos seguintes, seus primeiros livros: "Presságio" (1950), e "Balada de Alzira" (1951). Conclui o curso de Direito em 1952. Três anos depois publica "Balada do Festival". No ano de 1957 viaja pela Europa por sete meses (junho a dezembro). Namora com o ator americano Dean Martin e, fazendo-se passar por jornalista, assedia, sem sucesso, Marlon Brando, outro galã de Hollywood.
Em 1959 publica o livro de poesia "Roteiro do silêncio" e "Trovas de muito amor para um amado senhor". José Antônio de Almeida Prado, primo da escritora, inspira-se em poemas desse último livro e compõe a "Canção para soprano e piano". Em outras oportunidades voltou a basear-se em textos de Hilda para compor alguns de seus trabalhos mais significativos. Os compositores Adoniran Barbosa ("Quando te achei") e Gilberto Mendes ("Trovas"), entre outros, também se inspiraram em textos da autora. "Ode fragmentária" é lançado em 1961. Seu livro "Trovas de muito amor para um amado senhor" é reeditado por Massao Ohno.
É agraciada com o Prêmio Pen Club de São Paulo pelo livro "Sete cantos do poeta para o anjo", em 1962. Passa a morar na Fazenda São José, a 11 quilômetros de Campinas (SP), de propriedade de sua mãe. Abre mão da intensa vida de convívio social para se dedicar exclusivamente à literatura. Tal mudança foi influenciada pela leitura de "Carta a El Greco", do escritor grego Nikos Kazantzakis. Entre outras teses, defende o escritor a necessidade do isolamento do mundo para tornar possível o conhecimento do ser humano. Muda-se para a Casa do Sol, construída na fazenda, onde passa a viver com o escultor Dante Casarini, em 1966. Morre seu pai. Em 1967 redige "A possessa" e "O rato no muro", iniciando uma série de oito peças teatrais que escreveria até 1969. Lança "Poesia (1959 /
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