Estudo de poesia africana de expressão
Trabalho acadêmico: Estudo de poesia africana de expressão. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: danielajales • 12/5/2013 • Trabalho acadêmico • 1.994 Palavras (8 Páginas) • 566 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA
ESTUDO DE POESIA AFRICANA DE EXPRESSÃO
PORTUGUESA
Divina de Jesus Scarpim
A DIGNIDADE DA DOR
Rio de Janeiro
Janeiro / 2013DIVINA DE JESUS SCARPIM
A DIGNIDADE DA DOR
Profa Dra Angela Cristina de Souza Rego
Rio de Janeiro
Janeiro / 2013RESUMO
O que me tocou mais fundo no estudo da poesia africana foi a dor. Vi, através
da lupa do texto poético, uma dor que minha pele branca mal consegue
imaginar. Conhecer a terrível história, ter lido Navio Negreiro, ver e ouvir mil
exemplos de preconceito claro ou velado é suficiente para se tomar partido,
mas não para saber o fundo dessa dor. “Exprimir o real é árduo” e percebê-lo
na leitura de quem o viveu é avassalador. Os poemas que doem me jogaram
contra a parede, expuseram minha impotência, minha incapacidade de dizer.
Sofri uma dor que de nada vale se não for gritada. Esse trabalho é meu grito.A DIGNIDADE DA DOR
Quando estudante li sobre a conquista da África, da Ásia e das
Américas, nos textos escolares. Lá, essas conquistas vinham caracterizadas
como uma série de acontecimentos que abrem na história da Europa um novo
período chamado Renascimento, ou Grandes Navegações. É o fim da Idade
das Trevas, do domínio totalitarista da Igreja que queimava pessoas em praça
pública. É o homem descobrindo que é capaz de feitos que essa Igreja
afirmava impossíveis, é a superação do medo do desconhecido, o heroísmo da
ousadia de ir “além da Taprobana”. É o Antropocentrismo, o homem como
centro do universo. Eu ficava tocada com tal audácia e heroísmo.
No princípio o outro lado da história não me foi dado nem mesmo à
suspeita, não tive informações suficientes para ver e sentir que para outras
pessoas (porque sim, eram pessoas!), para as pessoas dos povos submetidos
e exterminados, esse período significa o fim da história. O fim da história de
seu povo, o fim da história de seus antepassados; o fim da história da sua
terra, da sua casa, de si mesmo como ser humano.
Eu e os demais alunos, com nossos livros escolares abertos sobre as
carteiras, não conseguimos ter ideia de que estávamos lendo uma história cujo
sentido consiste no triunfo do poderoso saqueador, na espoliação da terra e no
enterro real e simbólico das suas vítimas. Hoje me pergunto qual dos dois
enterros é o simbólico e qual é o real. Aquele que coloca sob a terra escavada
o cadáver de uma pessoa torturada e assassinada como animal de carga ou
aquele que coloca sob uma espessa camada de indiferença, desprezo e
invisibilidade toda uma civilização?“O Branco matou meu pai
Pois meu pai era ativo
O Branco violou minha mãe
Pois minha mãe era bela
O Branco dobrou meu irmão sob o
sol das estradas
Pois meu irmão era forte
Depois o Branco virou-se pra mim
Suas mãos vermelhas de sangue
cuspiu Netro seu desdém no meu
rosto
Doeu em mim descobrir a dor do negro, descobrir que “o negro sofre em
seu corpo diferentemente do Branco” porque ele sofre por ser. Sua dor tem a
dignidade profundamente melancólica do injustiçado impotente. O profundo da
sua dor está na aparência da qual ele não tem como fugir, no visível que não
se esconde, que não é crime mas pelo qual o negro responde todos os dias
como se por crime fosse. A dor que o negro leva no corpo é tão digna que me
põe humilde e me envergonha porque sou parte dessa dor e não me sei capaz
de tanta dignidade.
“Aqueles que não inventaram nem
a pólvora nem a bússola
Aqueles que nunca souberam dominar o vapor nem a eletricidade
Aqueles que não exploraram nem
os mares nem o céu
Mas conheceram em seus mínimos reconditos o país do sofrimento
Aqueles cujas únicas viagens foram
de desarraigamento
Aqueles que se humilharam
Aqueles que foram domesticados e
cristianizados
Aqueles a quem se inoculou a bastardia...”
Graças à maldade pura do branco, os negros se tornaram aqueles que
“conheceram em seus mínimos recônditos o país do sofrimento”. A ganância, a cegueira e a hipocrisia do branco disseram ao negro que “O negro é um
animal, o negro é ruim, o negro é malvado,
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