Pose de Garapa
Resenha: Pose de Garapa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: CUTESTE • 27/5/2014 • Resenha • 255 Palavras (2 Páginas) • 242 Visualizações
A postura imposta por Garapa se instala na mais pura observação documentarista - ainda que "pureza" seja um termo bastante discutível em se tratando de documentários - e faz questão de desviar de qualquer complexidade narrativa ou invenção ficcional. Prescinde, para tal, de qualquer argumento de deslocamento ou artifício de quebra, não lembrando em nada, por exemplo, as controversas experimentações de Eduardo Coutinho em Jogo de Cena (2007) ou Moscou (2009). Padilha se nutre principalmente da própria ausência ao não construir o resultado e sim deixá-lo construir-se por si mesmo, de forma mínima e gradual. Narrativamente, a proposta se forma e conta, basicamente, a partir do registro de três famílias do Ceará, duas localizadas no sertão cearense e a outra, na periferia da capital Fortaleza. Se a geografia as distingue, a penúria dos cotidianos não faz mais que apagá-las ou transformá-las em estatística. Também para não permitir que os dados camuflem a realidade é que o filme traz à tona não somente a total ausência da dignidade humana e suas descrições há tempo conhecidas, mas se propõe a enxergar de fato como é conviver frente à luta diária contra a fome, a falta de higiene, o alcoolismo, o desemprego e o que é ter de suportar resultados trágicos como a desestruturação familiar e o descontrole da natalidade. É quando o choque, então, parece ser a arma mais eficaz contra a inércia, o descaso e a indiferença. Qualquer mínima ação - como o banal ligar de uma câmera - preenche o tempo e o espaço cinematográficos.
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