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"Pregador E Ouvintes Nos Sermões De Vieira" - Recensão Crítica

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Por:   •  5/6/2014  •  1.367 Palavras (6 Páginas)  •  1.317 Visualizações

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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Literatura Portuguesa IV – Prof. Paulo Jorge Silva Pereira

Recensão Crítica – Padre António Vieira

Arthur Costa de Sousa

PIRES, Maria Lucília Gonçalves, “Pregador e ouvintes nos Sermões de Vieira”, in Xadrez de Palavras, Estudos de literatura barroca, Lisboa, Edições Cosmos, 1996, pp. 87-100

“Pregador e Ouvintes nos Sermões de Vieira” é uma secção da obra Xadrez de Palavras, Estudos da Literatura Barroca, publicado em 1996, pela então Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria Lucília Gonçalves Pires, na qual a autora discorre acerca do título Pregador e ouvinte cristão, escolhido pelo Padre Antônio Vieira para nomear um livro que projetava redigir. Em seu texto, a autora argumenta sobre o fato de Vieira escrever, não sobre uma arte de pregar, visto que o assunto já representava um lugar comum, com vários outros textos a esse respeito já existentes, mas sobre a inclusão do ouvinte, até então tido como um mero receptor passivo das palavras proferidas pelo orador, e para quem o discurso era projetado visando sua presuasão, passando a explorar procedimetos que dessem conta do seu comportamento perante a parenética.

Antes, porém, de dar seguimento à abordagem acerca da reflexão promovida por Maria Lucília Pires, faz-se necessária uma apresentação deste orador sacro, referência do Período Barroco, tanto Português quanto Brasileiro, e cuja obra ultrapassa a evangelização e a literatura.

Nascido em 1608, em Lisboa, Vieira mudou-se para o Brasil em 1614. Foi educado em colégio jesuíta e mais tarde tornou-se sacerdote, porém sua vida não se resumiu à atividade missionária. Exerceu ainda outras funções, como diplomata, orador, escritor e professor de retórica clássica. Enquanto missionário em terras brasileiras, defendeu infatigavelmente os direitos dos indígenas, combatendo a sua exploração e escravização, e se mostrando favorável à evangelização desses povos. Vieira foi também defensor dos judeus, da abolição entre a distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, na época perseguidos pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais). Embora tenha se mostrado compreendedor em respeito à condição indígena dentro do sistema colonial, não se apresentava da mesma forma frente à situação do negro, talvez por possuir conciência de que, com o fim da escravatura, a estrutura econômica do país estaria comprometida.

Possuía uma grande preocupação em intervir no político, econômico e social, o que o torna original e o difere dos demais pregadores de sua época, o que pode ser comprovado em seus sermões, cerca de duzentos, além de inúmeras cartas, que servem de testemunhos de relações conflituosas entre Portugal e Holanda (Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda, de 1640), da atuação incisiva dos Tribunais do Santo Ofício (no qual ele próprio foi condenado por heresias), da questão indígena no Maranhão que resultou na expulsão dos jesuítas do Brasil (Sermão da Epifania, de 1662), dentre outras situações.

Como já é de conhecimento, o fator marcante da obra de Vieira é a sua capacidade verbal eloquuente, através da qual consegue intervir na sociedade. Maria Lucília Pires, partindo desse ponto, propõe um estudo acerca de como se dá a aceitação da “palavra” proferida pelo pregador, de que forma ele a codifica, transformando-a em conduta a ser seguida para o alcance do aperfeiçoamento espiritual, baseando seu estudo na análise dos textos dos sermões do Padre, mostrando ainda que o comportamento do auditório vai interferir de maneira definitiva na relação pregador/ouvinte e como o pregador exerce o seu domínio sobre o seu público.

Utilizando como exemplo o Sermão da Sexagésima, de 1655, que o próprio António Vieira definiu como prólogo para os demais por conter as regras para a eficácia da arte de pregar ou da prática ideal da oratória sacra, considerado por Aníbal Pinto de Castro como texto-guia para a divulgação do “método português de pregar”, Lucília Pires destaca a importância do binômio “pregador/ouvinte” para a ação didática do sermão, citando: “Quero começar pregando-me a mi. A mi será, e também a vós: a mi, para aprender a pregar; a vós, para que aprendrais a ouvir” (Sermões, vol. I, col. 17), porém, a autora questiona a papel do ouvinte na atividade da pregação.

Referindo-se à parábola do semeador, a autora elenca os vários tipos de ouvintes propostos por Vieira, sobretudo os maus ouvintes, tanto no Sermão da Sexagésima quanto em outros sermões, os quais são condenados por não cumprirem inteiramente sua função, não demonstrando a disposição necessária para receberem a palavra. Apesar de reconhecer a existência desses maus ouvintes, Vieira responsabiliza a figura do pregador pelo sucesso ou não da pregação, e portanto, temos este sermão como um composto de advertências sobre a forma como enfrentar o auditório e suas reações, e é a partir deste ponto que o ouvinte é analisado.

Pires propõe a divisão dos ouvintes descritos por Vieira em duas categorias: um destinatário explícito, representado gramaticalmente representado pelas formas pronominais de segunda pessoa tu e vós, ou ainda nós quando engloba também a figura do destinador; e um outro tipo de destinatário, denominado destinatário retórico, sendo aquele a quem se pretende

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