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Pronombres Relativos

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Por:   •  10/6/2013  •  2.489 Palavras (10 Páginas)  •  381 Visualizações

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O uso de pronomes reflexivos no português do Brasil e no espanhol: reflexões a partir de uma experiência prática

Andreia dos Santos Menezes

FFLCH/USP

1. Apresentação

Este trabalho é resultado de uma atividade desenvolvida com os alunos durante monitoria do Projeto de Aperfeiçoamento de Ensino da disciplina “Tópicos contrastivos acerca do funcionamento da Língua Espanhola e do Português Brasileiro I”, ministrada pela Profa. Dra. Neide T. Maia González no primeiro semestre de 2004, no curso de graduação em Letras da Universidade de São Paulo.

Buscamos desenvolver uma atividade que relacionasse o tema da disciplina ao da nossa pesquisa de mestrado cujo objetivo central é fazer uma análise comparativa entre o romance Sangue de amor correspondido, escrito originalmente em português pelo escritor argentino Manuel Puig, e a tradução ao espanhol, Sangre de amor correspondido, feita pelo próprio autor. O original em português foi escrito em 1982, quando Puig vivia na cidade do Rio de Janeiro. O romance é o relato das memórias do personagem Josemar, um pedreiro semi-analfabeto que migra do interior do Rio de Janeiro para a capital. Tanto a obra em português como a em espanhol estão apoiadas no registro coloquial do dialeto popular.

Convém esclarecer que adotaremos aqui a nomenclatura sociolingüística oferecida por Preti (2000). O autor classifica a variação lingüística do ponto de vista sociocultural e situacional. Do ponto de vista sociocultural, temos o dialeto culto e o dialeto popular. O primeiro teria como características aplicar-se em situações formais, ser o padrão lingüístico, ter maior prestígio etc. Já o segundo seria utilizado em situações menos formais, considerado um subpadrão lingüístico, teria menos prestígio etc. Do ponto de vista situacional, encontramos o registro formal e o coloquial ou informal. O registro formal seria o utilizado em situações formais, teria predomínio da linguagem culta etc., enquanto que o coloquial ou informal se utilizaria em situações familiares ou de menor formalidade, teria predomínio da linguagem popular etc.

Tendo em vista que nossa pesquisa de mestrado tem como eixo a análise contrastiva entre o PB e o E, os conteúdos da disciplina mantinham uma relação bastante estreita com tal propósito, já que trabalharia, por meio de uma abordagem contrastiva entre ambas as línguas, as marcas de pessoa e os processos de coesão.

Optamos por aplicar uma atividade de tradução do espanhol para o português de trechos da tradução do romance Sangue de amor correspondido. A partir dos resultados que obtivemos, discutiremos as mudanças de significado causadas pela presença e a ausência dos pronomes reflexivos no espanhol (doravante E) e no português do Brasil (doravante PB), contrastando as duas línguas. Com base nas discussões surgidas em sala em conseqüência da atividade proposta, discutiremos também acerca do imaginário que o falante do PB tem sobre o certo e errado em sua própria língua.

2. Descrição da atividade proposta e seus objetivos

A sala com a qual trabalhamos era composta por alunos que estavam cursando seu quinto e/ou sétimo semestre de língua espanhola. Dessa forma, partimos do pressuposto de que o contato que os alunos haviam tido até então com a língua espanhola e com outras disciplinas do curso de Letras já lhes havia dado uma visão suficientemente crítica para o trabalho que lhes seria proposto.

Propusemos a seguinte atividade: selecionamos seis trechos da tradução para o espanhol do romance Sangue de amor correspondido, nos quais apareciam construções que faziam parte do conteúdo da disciplina, e pedimos que, em casa, os passassem para o português. A atividade foi dada como opcional, não valia nota e não era necessária nenhuma identificação. Contamos com a participação de vinte alunos, aos quais agradecemos muito a colaboração. Não se disse qual era a fonte dos trechos com o intuito de que a atividade fosse feita da maneira mais imparcial possível; no entanto, estávamos conscientes de que a omissão dessa informação lhes constituiria um ponto de dificuldade, já que os alunos não saberiam em que contexto estariam inseridos os trechos.

Depois de duas semanas, os alunos nos entregaram as traduções feitas. A professora nos cedeu uma de suas aulas, na qual devolvemos os trabalhos aos alunos, explicamos os objetivos daquela atividade, bem como os do nosso projeto de mestrado, e suscitamos um debate. Fizemos uma seleção de algumas traduções que nos pareceram mais significativas, as passamos para transparência e demos aos alunos os trechos correspondentes dos originais provindos do romance em português. Pedimos aos alunos que opinassem, como falantes nativos do PB, se aquelas construções, tanto as elaboradas por eles próprios, como as do romance, lhes resultavam como construções possíveis no PB.

3. Um resultado significativo

Segue abaixo o primeiro trecho selecionado, tal como constava no romance original em português e na tradução para o espanhol:

1. Porque ela até hoje não casou, segundo ele sabe ela não casou (...) (p. 12).

Porque ella no se casó, que él sepa ella no se casó (...) (p. 12).

Como afirmamos, demos aos alunos o trecho traduzido em espanhol para que o passassem para o português. O trecho (1) foi selecionado com o objetivo de ressaltar a tendência do PB à supressão dos pronomes reflexivos em construções reflexivas que contrasta com a forte presença desses pronomes no E, contrastividade que fazia parte dos tópicos a serem discutidos na disciplina.

No trecho selecionado, tal tendência aparece no uso do verbo “casar” com o pronome reflexivo em espanhol e sem ele em português. Dentre os vinte trabalhos feitos pelos alunos, em apenas um se utilizou o verbo sem o pronome reflexivo.

Outro dado significativo foi a reação por parte de uma aluna quando lhes mostramos a construção elaborada por Puig. Ela declarou que o uso do verbo “casar” em PB na forma não reflexiva estava equivocado e se restringia ao registro coloquial e ao dialeto popular. Teria fundamento essa suposição?

O que nos pode demonstrar a reação dessa aluna? E por que na quase totalidade das construções elaboradas pelos alunos foi utilizado o verbo com o pronome reflexivo?

4. Os reflexivos no PB e no E

Como dissemos anteriormente, podemos afirmar que existem diferentes tendências no

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