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Relatório Clara dos Anjos

Por:   •  20/11/2021  •  Resenha  •  1.491 Palavras (6 Páginas)  •  305 Visualizações

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Nome: Sarah Carolina Carvalho dos Santos

Disciplina: Literatura Brasileira II

Professor: Daniel Reizinger Bonomo

Relatório: Clara dos Anjos

 Clara dos Anjos é um romance de Lima Barreto (autor muito crítico e atento as questões literárias, políticas e sociais do país) narrado em terceira pessoa e apresenta um narrador onisciente. A obra apesar de ter sido escrita em 1922 (época considerada como pré-modernismo) só foi publicada em 1948. O romance tem como tema central o racismo e o lugar ocupado pelas mulheres naquela época, principalmente as pobres e negras.

A história gira em torno de uma moça pobre, moradora do subúrbio do Rio de Janeiro, filha de Joaquim, um carteiro, funcionário público apreciador de modinha que por um tempo tocou flauta casado com Dona Engrácia, uma mulher muito religiosa, cujas características físicas são: “O carteiro era pardo-claro (...) a mulher, porém, apesar de mais escura, tinha o cabelo liso.” (BARRETO, 1998, p. 42). Tudo começa numa conversa entre Joaquim, Marramaque e Sr. Lafões, que sugere chamar Cassi Jones para tocar no aniversário da Clara dos Anjos. Logo Marramaque se opõe a idéia por já ter lido folhetins com informações sobre Cassi Jones, porém no final Cassi Jones acaba indo tocar na festa de Clara de Anjos. Ao tocar, ele usa muito sua sensualidade, o que incomoda os pais de Clara.

Clara, a protagonista da história é uma moça pobre,  mulata, sem grandes ambições na vida, a não ser contrair um matrimônio. Ela acaba se apaixonando Cassi Jones, um homem branco, malandro que depois de estragar a vida dela ao engravidá-la, acaba abandonando-a. Clara teve uma criação muito cuidadosa, a família sempre a tratou com muito zelo, assim, ela acabou crescendo muito ingênua, com características das mocinhas dos romances do Realismo, mocinhas que são enganadas por malandros, como a Luísa de Primo Basílio. Esses traços românticos que marcam a vida da personagem acabam a colocando em vulnerabilidade e fragilidade, marcando o lugar dessa personagem. Clara dos Anjos gosta do Cassi Jones mesmo tendo em mente tudo o que ele faz, chega a ser impossível para o leitor ter afeição para o Cassi Jones, mas Clara dos Anjos tem, pois para ela o amor purifica, o amor muda a pessoa.

O narrador do romance é bem interessante e peculiar, pois apesar dele ser um narrador onisciente, há momentos que ele é intruso, adentrando na história tecendo comentários, fazendo algumas observações, ele tem caráter analítico permitindo o leitor se colocar no lugar da protagonista. Às vezes a voz desse narrador, a forma como ele analisa a situação parece está muito pareado com a perspectiva da personagem Clara dos Anjos, parecendo ser a própria personagem que está falando sobre sua própria condição. No livro, o autor busca mostrar todos os defeitos e qualidade de todos os personagens, mostrando aspectos psicológicos dos personagens, com exceção de Cassi Jones, ele no livro não tem nenhuma qualidade, a não ser a beleza e a altura para os padrões da época.

O antagonista da história, o Cassi Jones de Azevedo, é um malandro, sendo que em alguns momentos do livro o narrador o chama de vagabundo. É um verdadeiro cafajeste, mimado e protegido pela sua mãe e sua família, que faz vista grossas em diversas situações, diversas malandragens que o personagem faz. Cassi Jones tem como hobby favorito seduzir mulheres casadas, jovens donzelas simplesmente para enganá-las e depois as abandonar. Ele tem em seu “currículo” 10 casos de defloração de meninas virgens (casos esses que ele se recusou a casar, o que era obrigatório). Ele tem esse hábito e o contexto familiar dele o favorecer permanecer assim, com essas práticas tão cruéis e insanas. Detalhe interessante do livro é que o autor faz uma pausa na história de Clara para contar as aventuras de Cassi Jones. Uma das aventuras relatadas foi ele seduzindo a Nair, aluna de sua irmã. Ele acabou engravidando a menina, e por ele não casar com ela, a mãe de Nair de suicida de desgosto. Essa história acaba saindo num jornal da época.

Antônio da Silva Marramaque é o padrinho de Clara dos Anjos. Ele, apesar de pobre e manco, gosta de ler e logo percebe que Cassi Jones tem más intenções. Ao perceber Cassi Jones se aproximando de sua afilhada ele tenta impedir, falando diretamente com Cassi Jones numa tentativa de atrapalhar o romance dos dois, porém Cassi Jones permanece determinado a conquistar mais esse “troféu” para a sua coleção. Cassi Jones, determinado a tirar Marramaque de seu caminho, juntamente com seus amigos mata Marramaque, mostrando assim ser capaz de ir até as últimas conseqüências de sua crueldade para alcançar o seu objetivo e depois simplesmente passar impune porque ele era protegido por sua mãe e por agentes da lei. Enquanto isso, Clara dos Anjos permanece ingênua e nesse episódio, ao invés dela se indignar com a morte de seu padrinho, ela tenta justificar para si mesmo o que Cassi Jones fez que para ela, foi por amor. Os dois personagens são tratados com muito zelo por suas famílias, mas enquanto Clara dos Anjos fica subjugada, vulnerável diante da corrupção da sociedade, Cassi Jones é mimado, protegido, mantendo assim, suas práticas infames.

No decorrer do romance, Clara dos Anjos fica grávida e ao tentar reivindicar a paternidade de seu filho, ela sequer consegue falar com Cassi Jones. Ao falar sobre a gravidez com Salustiana Baeta de Azevedo, mãe de Cassi Jones, ela a responde de forma preconceituosa e elitista dizendo que o seu filho jamais se envolveria e se casaria com uma mulher preta. Com isso Clara dos Anjos percebe que o lugar que ela ocupa na sociedade é um lugar diferente, um lugar que precisa se refletido, debatido e combatido. No enredo contamos ainda com Leonardo Flores, o poeta que tem características do próprio Lima Barreto, um grande poeta que não foi reconhecido em sua época e por isso se envolveu com o alcoolismo; Meneses, o dentista encarregado de entregar as cartas de Cassi Jones a Clara dos Anjos, Dona Margarida e Inês, mais uma vítima deflorada pelo Cassi Jones.

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