Análise do livro "Clara dos Anjos"
Por: Tancredo Torres • 26/4/2015 • Relatório de pesquisa • 4.225 Palavras (17 Páginas) • 1.967 Visualizações
“O ser humano sabe que tem o poder de acabar com a miséria, fome, exclusão social, racismo, violência... pois isso foi criado por nós mesmos. É só esquecer a ganância e lembrar do amor.” Joanaina Lemos
INTRODUÇÃO
O objetivo deste Trabalho Processual é realizar uma análise da obra “Clara dos Anjos”, de Lima Barreto, e assinalar as críticas sociais e políticas presentes nela, bem como da época em que tudo se passou. O autor buscou demonstrar o preconceito racial e a consequente exclusão social, sentida na própria pele, narrando o descaso, a amargura e a ausência de perspectivas dessas camadas.
Será feita uma análise em relação aos personagens, assim como uma comparação da realidade da situação do transporte urbano daquela época e de hoje e da realidade da mulher nos séculos XX e XXI.
A finalização do presente trabalho envolverá o aprofundamento das vanguardas europeias e o resultado destes movimentos artísticos no Modernismo Brasileiro.
1. IDENTIFIQUE o tipo e gênero textual predominante na obra. Justifique:
Lima Barreto foi influenciado pelo Realismo-naturalismo, e, para ele, todos os atos humanos são resultantes de leis naturais, como a raça, o ambiente familiar, a classe social, etc.
O tipo textual utilizado na obra é narrativo, ou seja, o autor descreve a história de uma pobre e sonhadora mulata, Clara dos Anjos, filha de um carteiro e de uma dona de casa, Sr. Joaquim e Dona Engrácia, que a despeito de todas as precauções da família, é iludida, seduzida e, no final, desprezada, por um aproveitador branco, Cassi Jones, com condição social um pouco melhor que a dela. Enfim, há uma modalidade de texto na qual se conta um fato, ocorrido num determinado tempo e lugar, que envolveu personagens, objetos e situações do mundo real.
O gênero textual usado é o romance. Trata-se de um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos e de caráter verossímil. A narrativa se passa no subúrbio carioca, que é descrito pelo autor com riqueza de detalhes. Os personagens são suburbanos e o vocabulário é coloquial, ou seja, a linguagem cotidiana. Pela brevidade da obra, poderia-se ainda classificá-la como uma novela.
Em “Clara dos Anjos”, Lima Barreto quis revelar, através da protagonista, o sofrimento da mulher negra e pobre, que, por gerações – e porque não dizer até hoje em menor escala – sofre as consequências de uma sociedade escravocrata, que conceitua o negro – e, principalmente, a negra – como cidadão de segunda categoria.
2. DESCREVA a personagem “Clara” e transcreva as passagens do livro para ilustrar a sua resposta.
Clara dos Anjos era filha única, mulata, sonhadora, pobre e extremamente vigiada pelos pais, uma vez que a família temia que algo de mal pudesse acontecer a ela. Sr. Joaquim e Dona Engrácia contavam – na constante vigilância – com a colaboração da vizinha, Dona Margarida e do padrinho, Sr. Marramaque.
Clara dos Anjos foi a segunda e a única filha sobrevivente do casal
Engrácia e Joaquim [....] “o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido.”
Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”
A personagem possuía todos os estigmas capazes de excluí-la do convívio da classe abastada, por isso, era sufocada pela aristocracia, um ser sem voz e oportunidade. Necessitava de alguém que a moldasse e a encaminha-se pela vida.
“Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”
“[...] sua formação cultural restringem-se às aulas de bordado dadas por Margarida e aos parcos conhecimentos musicais transmitidos por seu pai, em suas reduzidas horas de convívio com a filha”.
Lima Barreto constantemente descreve a fragilidade da personalidade de Clara dos Anjos, com seus sonhos e delírios:
[...] a sua “alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor”.
O autor revela, também, que a “natureza elementar” da protagonista foi determinada por sua condição social (trata-se de uma pessoa sem recurso, pobre), sua cor (mulata) e pela estrutura familiar (machista, superprotetora e repressiva) e pela ausência de vontade em buscar uma melhor condição de vida, seja através do trabalho ou do estudo. A solução de sua vida estava em arrumar um marido que a sustentasse e para o qual – tal qual sua mãe – devotaria todos os momentos de sua vida.
A conscientização da personagem sobre sua real situação ocorreu somente quando seduzida por Cassi Jones. Viu-se sozinha, abandonada, esperando um filho e humilhada pelo fato de ter nascido mulata e ser pobre, conclui em conversa com a mãe:
“[...] Nós não somos nada nesta vida”.
3. EXPLIQUE o paradoxo existente no título da obra em relação ao enredo da mesma.
Lima Barreto, com a escolha do título e a personagem completamente oposta, buscou demonstrar ironicamente a personalidade e o fim de sua protagonista. O paradoxo está expresso na desconstrução da imagem de uma pessoa de pele clara no momento em que se toma conhecimento de que Clara não é clara, mas uma mulata. “Clara", cujo nome tem o significado de branca, alva, contrasta com o tom de pele da personagem, mulata.
A locução adjetiva “dos Anjos” revela o caráter puro e ingênuo da protagonista – tornando-a alvo fácil para o seu algoz. Clara dedicava-se aos seus sonhos, aos trabalhos domésticos, à cópia de modinhas a pedido de seu pai, aos bordados que aprendera à duras penas com Dona Margarida. Não foi difícil para Cassi Jones seduzir a protagonista; ela não possuía maldade nenhuma sobre a vida. Bastou a promessa de casamento. A intenção do autor foi a de retratar fielmente o seu tempo, quando, muitas “Claras dos Anjos”, mulatas, pobres, sonhadoras, se entregaram aos seus “príncipes” encantados, que, na verdade, não passavam de grandes aproveitadores da fragilidade feminina, na visão delas de que, com isso, ascenderiam na vida.
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