Representação
Por: Tarsila Gueddy • 16/11/2015 • Artigo • 1.709 Palavras (7 Páginas) • 304 Visualizações
UFGD-FACALE- MESTRADO- LETRAS
PROF: Dr Rogério Silva Pereira
Aluna: Daura Del Vigna Galvão
Fichamento:
AUERBACH, Eric. Mimesis. Fortunata. In: A representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1994. p. 21-42.
Auerbach inicia o texto Fortunata com um excerto pertencente ao romance de Petrônio, o banquete de Trimalcião, o rico liberto.
O narrador Encólpio, pergunta ao seu vizinho de mesa quem seria a mulher que vai e vem pela sala. Ao qual, o vizinho responde que era a mulher de Trimalcião, que contava dinheiro às arrobas. O marido acreditava em tudo o que ela dizia: se ela lhe disser em pleno meio-dia que é de noite, ele acredita.
Não só a mulher pela qual Encópio perguntara, é descrita, como o anfitrião e vários comensais, além do mais, quem fala se retrata também a si próprio – em razão da linguagem e a escala de valores que utiliza. A linguagem delata quem é o homem que a profere. No texto citado, as palavras estão baseadas na certeza de que a riqueza é o supremo bem, quanto mais, melhor. O homem que descreve Fotunata, Trimalcião e seus comensais, ao mesmo tempo, sem sabê-lo, descreve-se a si próprio. A linguagem individual do descritor da cena é carregada de subjetivismo, mas que apresenta uma descrição objetiva dos comensais, inclusive de quem fala, através de um processo subjetivo. Este processo leva a uma ilusão mais sensível e concreta da vida, já que um dos convidados é que descreve os participantes de um grupo ao qual ele pertence.
Auerbach vai apresentando diferenças entre o texto de Petrônio e o procedimento homérico(clássico), para o qual, a mudança das personagens e do seu destino pessoal parece relativamente insignificante. Mas para o nosso comensal, o bem-estar e a posição social são extremamente instáveis. Seu senso histórico é unilateral, pois só gira em torno da posse do dinheiro, mas é autêntico, pois leva em conta a instabilidade da vida: “Ainda ontem você era escravo, podia ser chicoteado, vendido, expulso- e de repente encontra-se no luxo desmedido, como rico latifundiário (...) e amanhã, tudo isto poderá de novo acabar”. Este tipo de fala aparece porque as mudanças da fortuna têm um lugar muito importante na literatura antiga e geral. Elas aparecem na tragédia, em forma de destino singular e prodigioso; na comédia, como resultado de uma conjunção totalmente extraordinária de circunstâncias especiais.
Como na arte literariamente imitativa da antiguidade, também no banquete de Trimalcião aparecem as observações sentenciosas acerca das mudanças da sorte terrena, como na alusão do comensal ao íncubo, como forma de atribuir as mudanças de fortuna a intervenções externas especiais. Mas o que predomina na obra de Petrônio é a visão mais prática e terrena, portanto, histórica das mudanças do destino. Pela descrição de vários presentes no banquete, percebe-se um quadro econômico-histórico extremamente animado, um sobe e desce constantemente impulsionado de dentro, que eleva e rebaixa os caçadores da sorte a correr atrás de riqueza e do tolo gozo da vida. Estes não têm “nada de sólido” (p.26), pois não têm tradição alguma, nem qualquer apoio; sem dinheiro, nada são. Não há na literatura antiga outro trecho que mostre tão fortemente este movimento histórico interno.
Outra diferença diante do estilo homérico é a peculiaridade provavelmente mais significativa do banquete de Trimalcião: o fato de as pessoas que se reuniram na casa de Trimalcião, serem parvenus libertos meridionais do século I, que têm as suas próprias ideias e falam, quase sem estilização literária, a sua linguagem.
O gênero ao qual pertence a obra de Petrônio, finalmente é esclarecido por Auerbach: romance. Pois em outros fragmentos está fortemente carregado de elementos mágicos, aventurosos, mitológicos e sobretudo eróticos, além da estilização irreal e retórica da linguagem. (p.26).
Petrônio não faz questão nenhuma do aspecto histórico da sua obra. O condicionamento temporal ou a historicidade das circunstâncias descritas em sua obra não interessam, nem a ele, nem aos seus leitores antigos. O que pode implicar em um limite de seu realismo, e também, uma limitação da sua consciência histórica.
Após o exemplo de Petrônio, Auerbach menciona um texto de historiografia antiga que, temporalmente, se aproxima do banquete, dos Anais de Tácito. No texto são redigidos discursos que foram ditos na ocasião histórica da rebelião das legiões germânicas a pós a morte de Augusto, o que era moda na época.
P.32
Cenário:Roma
Rebelião em função da mudança do trono- morte de Augusto para Tibério
Ao saber da notícia, Júnio Blaeso ordenou a interrupção dos trabalhos de costume, devido aos dias de luto e de festa, por isso a tropa “saiu de obediência”, começou a dar ouvidos a discursos subversivos e a desejar uma vida ociosa.
Havia no acampamento: Percênio, bastante persuasivo, “língua procaz” ( ex-chefe de uma claque teatral), agora soldado raso.
Persênio começou a incitar os homens inexperientes que se preocupavam com o ofício de soldados após a morte de Augusto quando:
-os mais inteligentes tinham se dispersado
-os piores se reuniam ao seu redor
Persênio consegue boa quantidade de seguidores, ordena uma reunião geral, como se fosse comandante-chefe e dirige-lhes algumas perguntas. P. 30
Perguntas de Percênio aos soldados :
Por que obedeciam como escravos a:
Pequeno nº de centuriões ?
Nº ainda menor de tribunos ?
Quando pediriam melhora de sua situação ?
Persênio argumenta sobre as dificuldades do serviço militar: “exaustivo e mal pago”.
Solução de percênio:
Fixação de condições para a prestação do serviço militar: melhoria de salário e limitação no tempo de serviço.
Percênio questiona de as coortes pretorianas, que ficavam livres após 16 anos de serviço, estavam expostas a maiores perigos.
A multidão aplaudiu “tributou ruidoso aplauso”.
Comparações de Auerbach:
Tácito X suposto historiador moderno p.31
Historiador moderno(HM):
procederia de modo mais teórico, mais livresco;
Não teria feito Percênio falar.
Teria discutido a legitimidade das exigências
Faria uma retrospectiva da política governamental nesse setor.
HM vê-se na necessidade de reorganizar o material que os historiadores antigos lhe oferecem, complementando-os.
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