Resenha Terra Sonambula
Monografias: Resenha Terra Sonambula. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: renato12345re • 14/5/2014 • 1.274 Palavras (6 Páginas) • 614 Visualizações
RESENHA : TERRA SONÂMBULA – MIA COUTO
COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Nascido na Beira, em Moçambique, Antônio Emilio Leite Couto, conhecido como Mia Couto publicou Terra Sonâmbula em 1992, mesmo ano em que teve fim a guerra civil que tomava seu país. Em Terra Sonambula, o autor descreve a Moçambique pós guerra, denuncia os horrores da guerra civil. Durante os anos de guerra o próprio Mia Couto se posicionou a favor da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), e acabou abandonando o curso de medicina e seguindo para o jornalismo, depois biologia e por fim a literatura. Possui mais de 15 livros, onde se encontra também poemas, o livro “Raiz de Orvalho” seu primeiro trabalho, publicado em 1983, possui somente poemas. Terra Sonambula foi considerado um dos 12 melhores livros de África do século XX. Neste obra, o autor narra a construção da nação moçambicana, ou pelo menos a busca por esta construção, da qual também viveu e participou.
Mia Couto inicia o livro descrevendo a paisagem moçambicana:
“ Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Em cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão. Em resignada aprendizagem da morte”. (COUTO, 2007, p.9)
Ao abordar a “aprendizagem da morte” o autor nos faz entender a situação de Moçambique que no ano de 1975, após uma década de guerra, conquista sua independência do colonialismo português. No entanto, enganasse quem imagina que este o acordo entre a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e Portugal, assinado em 1975, libertou os moçambicanos da guerra. O cenário moçambicano era o mesmo, a guerra civil havia se estabelecido em Moçambique e só teria fim em 1992, com o Acordo Geral da Paz assinado pelo presidente de Moçambique e pelo presidente da RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique). Muidinga (o miúdo) e Tuahir são personagens cercados por este cenário, pela estrada morta, pelas cores sujas, ambos caminham juntos sem destino, “em busca do adiante”.
Nessa dura caminhada, Muidinga e Tuahir param ao encontrar um machimbombo (ônibus) queimado, e ali decidem descansar. O miúdo encontra dentro de uma mala cadernos manuscritos e passa a lê-los. Assim o menino e o velho passam a compartilhar o diário de Kindzu e vão encontrando personagens e histórias guiadas por sonhos, num Moçambique não muito distante. Em seu diário Kindzu relata a busca por sua identidade, seu desejo de ser uma guerreiro naparama e as dificuldades que a vida o impôs. Conta sobre a família: o pai, velho Taímo, era pescador e, segundo Kindzu, “sofria de sonhos”, a mãe que o ensinava a ser sombra, entre os irmão, Kindzu fala de Junhito que havia ganhado o nome “Vinticinco de Junho” devido ao dia da independência de Moçambique. Após a morte do pai, Kindzu parte da casa onde morava com a mãe, sentia-se perdido, insatisfeito, “qualquer que fosse minha escolha uma coisa era certa: eu tinha que sair dali, aquele mundo já me estava matando” (COUTO, 2007, p.29). O garoto parte para uma viagem, sem destino final, sendo diversas vezes perseguido e atormentado pelo espírito e pelas lembranças do pai morto.
Tuahir, Muidinga e Kindzu são frutos de seu país, seguem sem rumo certo, desorientados, situação um tanto semelhante com Moçambique, durante a guerra civil. Terra Sonambula nos permite imaginar a situação na qual se encontra o país, os relatos do velho Tuahir, de Muidinga e Kindzu mostram a vida num local tomado pelos horrores da guerra, onde sonhar se torna um meio de fuga da cruel realidade. O livro denuncia a pobreza , o abandono do povo, uma terra sem lei, os efeitos da guerra:
“Gentes imensas se concentravam na praia como se fossem destroços trazidos pelas ondas. A verdade era outra: tinham vindo do interior, das terras onde os matadores tinham proclamado seu reino. Consoante as pobres gentes fugiam também os bandidos vinham em seu rasto como hienas perseguindo agonizantes gazelas. E agora aqueles deslocados se campeavam por ali sem terra para produzirem a minima comida.” (COUTO, 2007, p. 55).
Em seus cadernos, Kindzu escreve “Era preciso haver morte para que as leis fossem esquecidas. Agora que a desordem era total, tudo estava autorizado. Os culpados seriam sempre os outros” (COUTO, 2007, p. 104).
Os sonhos de Kindzu guiam sua viagem
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