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Sonet II Obras de Claudio Manuel da Costa

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Por:   •  9/4/2014  •  Resenha  •  817 Palavras (4 Páginas)  •  3.276 Visualizações

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Soneto II

Leia a posteridade, ó pátrio Rio,

Em meus versos teu nome celebrado;

Por que vejas uma hora despertado

O sono vil do esquecimento frio:

Não vês nas tuas margens o sombrio,

Fresco assento de um álamo copado;

Não vês ninfa cantar, pastar o gado

Na tarde clara do calmoso estio.

Turvo banhando as pálidas areias

Nas porções do riquíssimo tesouro

O vasto campo da ambição recreias.

Que de seus raios o planeta louro

Enriquecendo o influxo em tuas veias,

Quanto em chamas fecunda, brota em

(SOBRE O AUTOR)

Cláudio Manuel da Costa nasceu em Minas Gerais, na cidade de Mariana, em junho de 1729. Estudou com os jesuítas, depois estudou humanidades no Rio de Janeiro e Direito na Universidade de Coimbra. Por volta de 1749, teve contato com as idéias iluministas e também com o arcadismo. Participou da Inconfidência Mineira ao lado de Tiradentes. Usava o pseudônimo Glauceste Satúrnio, que se inspirava em sua musa Nise. Contudo, suas poesias ainda apresentavam indícios do Quinhentismo e do Barroco.

(EXPLICAÇÃO DO POEMA {VOCÊ LÊ O POEMA})

Esse texto é o soneto II das Obras de Cláudio Manuel da Costa, nas estrofes iniciais, como o eu lírico procura demonstrar que, embora não apresente as características comuns ao lócus amoenus árcade, a natureza pátria também é digna de ser celebrada. O imperativo "Leia", que abre o poema, revela a celebração do "pátrio Rio".

A 1ª estrofe apresenta o eu lírico dirigindo-se ao rio de sua terra natal que é o Ribeirão do Carmo, que passa por Mariana, falando ao rio que vai tomá-lo como motivo poético, o vai fazer com que ele seja conhecido pela posteridade, tirado do esquecimento (já que ninguém tinha falado do rio). Celebrando o Rio, pretende-se despertá-lo do sono vil (uma metáfora da morte, como se o rio até então estivesse morto) do esquecimento frio.

A 2ª estrofe mostra que o rio de sua terra não integra uma paisagem poética típica da poesia árcade européia, compara as margens (ribeiras) do rio (em Minas), com as margens da Europa, representado por ´´álamo copado`` e da Arcádia, representado por ´´ninfa``. Como se a natureza brasileira estivesse destituída de qualquer ideário mitológico e não funcionasse como palco para uma paisagem demasiadamente bucólica.

Depois que ele diz na segunda estrofe o que não é, vem a característica principal de Ribeirão do Carmo que é a extração do ouro ( riquíssimo tesouro, campo da ambição). Surge aí a contraposição antitéticas entre os valores materiais (ouro) e imateriais (cultivo da poesia). A 3ª estrofe mostra a razão para que o rio permaneça eternizado na poesia: em suas águas esconde-se o "riquíssimo tesouro".

A última estrofe, leva o leitor ao paralelo entre a intensidade dos raios do sol e dos reflexos do ouro (analogia de base sensorial típica do Barroco), resultando em um jogo metafórico: os raios do sol (planeta louro, figura de linguagem) funcionam como um fogo que se mineraliza e penetra nas águas. Fruto dessa fecundação (feita como chamas), nas veias do Ribeirão (como se fossem entranhas), converte-se, dentro dele, no pó de ouro que brota do seu seio.

Assumindo uma concepção de poesia já claramente influenciada pelo Arcadismo, o texto faz surgir uma das constantes da poesia de Cláudio Manoel da Costa: o contraste entre a tradição poética civilizada (expressa na idealização da paisagem bucólica, que remonta à Antiguidade) e a realidade rústica do Brasil-Colônia, então atravessando o ciclo da mineração.

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