Trabalho de conclusão
Por: mmo2015 • 31/3/2015 • Trabalho acadêmico • 6.583 Palavras (27 Páginas) • 383 Visualizações
1 Introdução
A variação ortográfica: uma abordagem sociolingüística
É correto afirmar que a sociolingüística é a ciência que estuda a língua na sociedade.
A sociolingüística interacional, por exemplo, estuda o processo da comunicação, a forma como as palavras são selecionadas e organizadas na mente humana, obedecendo as regras impostas pelo sistema lingüístico e a sociolingüística variacionista estuda as variações da fala, relacionando as variações lingüísticas com as sociológicas.
No final de 1950, quando surgiu o gerativismo, foi desenvolvida a idéia de que todos os falantes se expressam verbalmente da mesma forma, mas essa idéia teve que ser revista quando os lingüistas se depararam com as variações em todos os níveis da linguagem.
Ao admitir a heterogeneidade da língua, a sociolingüística eliminou preconceitos da linguagem, mostrando que todas as línguas, com as suas variações atendem a necessidade lingüística de cada região ou grupo de pessoas.
A variação lingüística ocorre através de diferenças socioeconômicas e culturais como: nível social, grau de escolaridade, idade, regionalismo, profissão entre outros. As variações da fala fazem a separação entre a linguagem popular, que é a compreendida pelos variados níveis sociais e a linguagem técnica, esta compreendida por indivíduos que fazem parte do mesmo grupo social e profissional.
A sociolingüística variacionista tem como função examinar a língua na sociedade, e podemos descrever as variedades lingüísticas a partir de três parâmetros: variação diatópica, diastrática e diafásica.
Variação diatópica: também conhecida como variação regional, é distribuída pelo espaço físico. As diferenças podem ser de nível fonético, gramatical e lexical. Ex.: baiano e carioca (aipim/mandioca).
Variação diastrática: variação distribuída através das camadas sociais. Relaciona-se com o conjunto de fatores que tem a ver com a identidade dos falantes e também com a organização sócio-cultural dos falantes. Elas podem ser de classe social, grau de escolaridade, idade etc.
Variação diafásica: ocorre através da situação ou contexto social. Um mesmo falante pode variar seu modo de se expressar de acordo com a situação em que se encontra. Ex.: um grupo de amigos em um barzinho e o mesmo grupo em ambiente de trabalho não falam da mesma forma.
Essas variações acontecem de forma sincrônica e diacrônica.
Sincrônica – quando dentro ou fora da mesma comunidade ao mesmo tempo pessoas falam de forma diferente por causa da idade, sexo, ocupação, origem geográfica etc. Essas variações convivem juntas no mesmo tempo e espaço.
Diacrônica – essas variações ocorrem ao longo do tempo. Uma pessoa de 70 anos não fala como uma de 20. Isso acontece quando termos utilizados em uma determinada época entram em desuso. Ex.: reclames que hoje é chamado de comercial.
Como vimos, a variação diastrática ocorre dentro das camadas sociais, podendo se manifestar através de posição social, profissão, sexo, idade, cultura, grau de escolaridade, entre outras.
Temos como exemplo da variação de posição social a fala do advogado que difere da fala do médico, do professor... Apesar de todos terem a mesma condição social cada grupo tem sua linguagem porque exercem funções diferentes na sociedade.
Uma pessoa de um grupo social mais elevado tende a se expressar de modo diferente do que uma pessoa de um grupo social menos favorecido.
Dentro da variação lingüística de gênero (sexo) notamos a heterogeneidade de expressão: o homem não se expressa da mesma forma que a mulher.
Observando a variação decorrente da idade podemos identificar, nas expressões faladas por um adolescente, as gírias e neologismos diferentes daquelas expressões faladas por um adulto.
No que diz respeito à variação de cultura podemos dizer que esta ocorre devido ao processo de colonização. Cada região foi colonizada por povos diferentes.
Neste estudo enfatizaremos o estudo da variedade lingüística diastrática dentro da sala de aula e de que modo o professor pode e deve trabalhar essa variação, já que a escola prestigia uma determinada forma de falar denominada língua padrão, que não passa de uma variedade da língua que é resultado de uma convenção social.
O aluno ingressa na escola sendo conhecedor de uma gramática, a internalizada, e para ele se torna difícil aceitar a gramática normativa que é dotada de regras, mudando todo o seu conhecimento anterior. Esta gramática tem a intenção de desenvolver a competência comunicativa do falante nas mais diferentes situações.
O professor ao identificar as variações dentro da sala de aula deve ter cautela ao apresentar a forma “correta”, mostrar o por quê desta variação e aproveitar as diferenças nas falas dos alunos para tornar a aula mais produtiva, facilitando a interação e a aprendizagem.
[...] é preciso fazer com que os alunos explicitem suas suposições de como se escrevem as palavras, reflitam sobre possíveis alternativas de grafia, comparem com a escrita convencional e tomem progressivamente consciência do funcionamento da ortografia. (PCN, p. 85)
2 Revisão da literatura
O professor de Língua Portuguesa, tanto na Educação Infantil como no Ensino Fundamental, tem um objetivo: que o seu aluno atinja a língua padrão, priorizando a ortografia.
A escola, sendo uma instituição ditadora de normas, muitas vezes desprestigia o aluno que tem uma maneira diferente de falar e de escrever, prestigiando somente aquele que fala e escreve da forma que mais se aproxima da norma padrão, norma que é considerada culta pela gramática normativa e pela sociedade de prestígio. Mesmo tendo as suas preferências, a escola deve respeitar as diferenças lingüísticas, entendê-las e ensinar o seu funcionamento fazendo comparações entre elas.
O professor, tendo conhecimento da diversidade social em sua sala de aula, deverá trabalhar a questão do erro lingüístico e ortográfico não como uma deficiência do aluno, mas como diferença entre duas variantes, coloquial e padrão. É importante que o professor tenha conhecimento suficiente para identificar e diferenciar a escrita do aluno alfabetizado e a do não alfabetizado, sabendo que a variação lingüística influencia na aprendizagem da ortografia, respeitando o conhecimento inato que a criança possui da sua língua materna.
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