A Afirmação de Negros e Indígenas na Educação
Por: Dayse04 • 8/12/2018 • Artigo • 2.487 Palavras (10 Páginas) • 294 Visualizações
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
FACULDADE DE EDUCAÇÃO – CAMPUS ALTAMIRA
CURSO DE PEDAGOGIA
IV Seminário - Relações Étnico-Raciais e Educação
Afirmação de Negros e Indígenas na Educação
As trajetórias de vida da população negra: cotidianos na religião e na sociedade racista
Vilma Aparecida de Pinho (orientadora)[1]
Dayse Bezerra de Andrade (autora)[2]
Resumo
Os anos passam e o racismo que ceifa vidas, violenta corpos e almas, permanece. Os afrodescendentes continuam lutando para conquistar o espaço a que tem direito na sociedade. Nos últimos séculos de evangelização, a relação entre a população negra e a Igreja Católica passou quatro projetos. A pesquisa é de abordagem qualitativa, cujo objetivo é refletir sobre o afro-brasileiro no contexto religioso Apostólico Romano, visando à necessidade do vocacionado assumir sua identidade étnica, onde até mesmo nesse contexto religioso o clero negro tem pouco espaço, já que um dos maiores desafios para os presbíteros negros no Brasil é a consideração de suas origens. Nosso objetivo é analisar a trajetória de vida de um homem negro que foi seminarista na igreja católica. Onde a dinâmica da formação religiosa muitas das vezes não leva em consideração à história, a vida, a família, o lugar de onde vem o vocacionado da comunidade negra. Com uma visão muito eurocêntrica os formadores não conseguem perceber esses valores, tendo em vista à assunção da identidade de forma segura e positiva.
Palavras-chave: Afro-brasileiro. Racismo. Igreja Católica.
Introdução
Nestes últimos cinco séculos de evangelização, o povo negro católico foi influenciado e formado por quatro projetos de evangelização no Brasil. Inicialmente é necessário compreendermos a escravidão, que teve início na primeira metade do século XVI, com a produção de açúcar, quando os portugueses trouxeram mulheres e homens negros africanos de suas colônias da África para utilizar como mão de obra escrava nos engenhos de açúcar do Nordeste. Os portugueses comerciavam os escravos principalmente nas regiões de Luanda e Benguela, nas quais os capturados eram trocados por tecidos, armamentos e por aguardente brasileira.
Luanda rapidamente se tornou uma grande feira de comércio de gente. Angola, desde fins do século XVI até a primeira metade do século XVVIII, foi o maior fornecedor de escravos para as Américas portuguesa e espanhola. Entre 1575 e 1591 foram embarcados da região de Angola mais de 52 mil africanos para o Brasil. (ALBUQUERQUE, FRAGA, 2006, pag.33)
Em alguns momentos, a igreja também se voltou para a realidade dos excluídos, identificando-se e solidarizando-se com os oprimidos. O primeiro projeto iniciou em 1500 a 1842, a proposta foi promover a fé cristã, baseada na leitura sob o olhar europeu ocidental. Nessa época os valores da cultura negra eram menosprezados pela cultura branca, pois se tratavam de escravos e a escravidão lhes tirava o direito de vivenciar suas tradições culturais.
Em 26 de abril de 1500, o Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa e batizou o país com o nome de Vera Cruz. Esse foi o início do projeto católico/franciscano. No que se referia à postura evangelizadora-eclesial, o povo negro passou por momentos de profunda opressão, quando a igreja se identificou com os colonizadores no expansionismo luso espanhol, nele o sustentáculo ideológico utilizado foi o catolicismo, estruturado numa atmosfera de cristandade.
Richard (1978/1982) define cristandade “como uma forma determinada de relação entre Igreja e sociedade civil; relação cuja e expandir seu poder na sociedade civil, utilizando antes de tudo a mediação do Estado”. (RICHARD, 1978/1982, p.9).
De 1842 a 1968, prevaleceu o segundo projeto, denominado “romano-europeu”, o trabalho era pela europeização do país, o que significava passar por cima das culturas consideradas “inferiores”, para prevalecer a superior. Os negros eram obrigados a aceitar a europeização, instalando a ideologia do embranquecimento em suas mentes. Os que procuravam manter contato com a sua cultura afro, principalmente através da fé nas religiões eram perseguidos.
Somente em 1960, com a assinatura da Lei Afonso Arinos, que punia todos os atos de discriminação racial, as Congregações Religiosas do Brasil tiraram de seus estatutos e normas internas os artigos e cláusulas que proibiam a entrada de negros (as), mestiços (as) para a vida religiosa.
A partir de 1968, se inicia o terceiro projeto, com as Conferências de Medelim e Puebla (1979), a proposta passou a ser evangelizar a partir da situação concreta e histórica do povo excluído, este se tratava de negros e índios. Nesse contexto, começaram a surgir os grupos de base formados por negros católicos como a fundação do grupo de Agentes de Pastoral Negros[3].
Em 1988, a CNBB, com muita pressão da comunidade negra católica, assumiu como tema da Campanha da Fraternidade "A Fraternidade e o Negro". Essa iniciativa projetou o trabalho dos APNs/Agentes de Pastoral Negros, que conquistaram espaços para reflexão sobre a condição socioeconômica de homens e mulheres negras, além de despertar a Igreja à participação enquanto agente de promoção de trabalhos que respeitam a diversidade e valorizam a pluralidade cultural e étnica. Em 1889 vigorou entre a Igreja Católica e o Estado o regime do Padroado. A religião católica era oficial do Estado.
A Pastoral Afro-Brasileira da CNBB foi oficializada como organismo oficial da Igreja do Brasil em 1998, mas começou a ser idealizada na década de 1970. Porém tem prevalecido o retorno do conservadorismo dentro da Igreja Católica, essa proposta se faz presente no quarto projeto de evangelização.
Durante a história do país, diversos padres tentaram mudar o rumo das coisas, propondo mudanças na organização da sociedade brasileira, mas a mesma história nos ensina qual foi o destino desses padres-profetas: expulsão da colônia, descriminação e finalmente, a não realização de seus intentos. Por trás desses dramas pessoais, analisamos que se tem a imagem de uma Igreja que necessita da aliança com os sistemas dominantes para poder sobreviver. Observamos também que se a Igreja católica tivesse tomado posição oficial contra a escravidão, ela certamente não teria conseguido sobreviver na forma de “grande igreja”, seu destino teria sido o contrário, a mesma seria uma igreja perseguida e concentrada em pequenos grupos comunitários.
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