Resenha do Filme Sociedade os Poetas Mortos
Por: cellibelli • 6/4/2021 • Resenha • 1.339 Palavras (6 Páginas) • 484 Visualizações
Uma ‘Sociedade’ para alguns
(Celisia Ma Luz Motta e Silva – RA 1642042 – Pedagogia – 2016.2)
O que imaginar dessa intrigante relação? Uma educação escolar extremamente severa, a chegada de um irreverente professor de Literatura e um grupo de alunos sedentos por sugar todo o tutano da vida? Esses são os eixos que norteiam a belíssima obra prima do cinema americano, “Sociedade dos poetas mortos”. Essa emocionante história retrata de forma brilhante como é possível uma educação que objetive as descobertas, que incentive cada um a ser quem, verdadeiramente, deseja ser e que sempre encoraje, ao invés de reprimir. O filme mostra também como é difícil desestabilizar uma ‘ordem’ vigente e quebrar tabus e paradigmas. E é na figura de um novo professor de Literatura, numa escola de educação ortodoxa, que surge uma pontinha de esperança para uma grande mudança acontecer. Esse professor começa a ensinar aos seus alunos a viver deliberadamente. Mas, logo, logo, a escola enxerga que esses ensinamentos representam uma ameaça para o padrão de educação desejada.
Essa belíssima trama se passa em 1959, numa tradicionalíssima escola preparatória, Welton Academy, no estado de Vermont, EUA, quando os quatro pilares da educação: “Tradição”, “Honra”, “Disciplina” e “Excelência” sempre foram as palavras de ordem, respeitadas por todos de uma maneira absolutamente inquestionável. Até o dia, que chega um ex-aluno dessa escola, John Keating, vivido pelo extraordinário ator Robin Williams, para assumir o papel de um polêmico professor. Sr. Keating, que preferia ser chamado de “Ó Capitão, meu Capitão”, dava liberdade de expressão aos seus alunos, para que eles experimentassem ousar em atitudes e expor seus sentimentos através da poesia. Suas aulas descontraídas aconteciam no pátio da escola, no campo de futebol, e, nelas, os alunos eram incentivados a ‘fazer do seu próprio jeito’. Ao apresentar essa nova abordagem de ensino, que ia totalmente de encontro à educação tradicional praticada na escola, esse professor provocou uma verdadeira transformação no agir e no pensar dos seus alunos e começou a ser mal visto pela Direção da instituição.
Mas, em paralelo a tudo isso, estava escondido lá no passado da Welton Academy, a existência de uma sociedade secreta, formada por um grupo de alunos que se reuniam para declamar suas próprias poesias e expressar suas próprias ideias. Um belo dia, pesquisando sobre o professor Keating, alguns alunos mais ousados descobriram que ele, quando estudante, fazia parte desse tal associação. Foi assim, que esses alunos resolveram recriar a sociedade secreta nos mesmos moldes do passado, realizando encontros noturnos em uma caverna nas redondezas da escola. "Eu fui à floresta porque queria viver deliberadamente... Queria viver profundamente, e sugar toda a essência da vida. Acabar com tudo que não fosse vida. Para que, quando a minha morte chegasse, eu não descobrisse que não vivi." E era com a leitura desse poema, recheado de significados importantes, que as reuniões da ‘Sociedade dos poetas mortos’ se iniciavam.
Esse clássico do cinema, que em 1990 ganhou o Oscar de ‘Melhor Roteiro Original’, estreou em 1989, dirigido por Peter Weir. Um filme que aborda de forma sensível as diversas faces da educação tradicional, praticada tanto nas escolas, quanto nas famílias. Era um tempo em que os pais decidiam o futuro de seus filhos. E que também, a agressão física era o meio mais usado para conter a rebeldia dos alunos e para punir aqueles que infringissem regras. Essa obra de arte narra com excelência a realidade de alunos internos, somente rapazes, que eram submetidos a uma disciplina rígida e que não tinham o direito de questionar absolutamente nada, porque tinham medo dos diretores, professores e pais, considerados os detentores do saber máximo. Diante desse ambiente repressor, os rapazes acabavam por aceitar tudo calados, temendo serem expulsos da escola. Da mesma forma, temiam os castigos físicos praticados impiedosamente, como se vê na cena em que o aluno mais rebelde, Charlie Dalton, o ‘Nuwanda’, vivido pelo ator Gale Hansen, apanha do diretor com um instrumento de madeira, por ter infringido uma regra da instituição.
Há quem imagine que a realidade vivida na Welton Academy seja coisa do passado e que, hoje em dia, não exista mais uma educação tão fiel às amarras da tradição, tanto nas escolas, quanto nas famílias. Mas, quem pensa assim, pode estar muito enganado. Ainda existem culturas, principalmente nos países orientais como China e Japão, que acreditam no sucesso da educação ortodoxa como forma eficiente de preparar, com excelência, as crianças para serem adultos bem sucedidos no mercado de trabalho. Também, no Brasil, em muitas escolas e famílias, essa abordagem tradicional da educação ainda é muito valorizada e aceita. Certamente, sem punições com agressões físicas como no passado, mas com professores e pais que ainda carregam o estandarte de detentor do conhecimento absoluto e inquestionável. “Sociedade dos poetas mortos” mostra como essa realidade pode ser transformada, como a educação pode encorajar cada um a ter uma existência única, plena e especial. É um filme que chama para uma reflexão, para que se acredite nas crianças como seres humanos dotados de algum saber, merecedores de escuta e atenção.
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