A Compreensão da leitura
Por: JeffersonJackson • 24/1/2018 • Relatório de pesquisa • 7.776 Palavras (32 Páginas) • 285 Visualizações
APRENDER É lER
Alguns tópicos sobre a compreensão da leitura
Introdução
Com o presente texto temos por finalidade salientar a importância de algumas
componentes cognitivas presentes durante a leitura e apresentar estratégias de interesse
prático para o ensino da leitura e da compreensão de texto. Durante a leitura estão
presentes, em simultâneo, duas atividades cognitivas articuladas entre si: a identificação
dos signos que compõem a linguagem escrita (esta atividade pressupõe que o leitor faça a
correspondência entre grafemas e fonemas) e a compreensão do significado da linguagem
escrita (o que pressupõe um ato de interpretação por parte do leitor). É nesta segunda
componente do processo de leitura que nos vamos centrar, mantendo em mente, todavia, a
ideia de que a compreensão de um texto depende sempre da descodificação da escrita, ou
seja, de saber ler no sentido literal.
E se nos centramos na compreensão da leitura é porque atendemos a uma outra
evidência sobre o ato de ler que nem sempre mereceu o devido reconhecimento daqueles
que ensinam a ler: não basta aprender a ler, é necessário aprender com o que se lê. É
necessário interpretar os conteúdos de leitura, atribuir-lhes significado, para que a leitura,
enquanto exercício de inteligência, cumpra efetivamente o seu papel. Ora, esta
interpretação não é um mero ato mecânico de juntar letras e formar palavras, mas um
verdadeiro diálogo com o autor, em que o leitor co- participa na produção de sentido do
texto.
A compreensão da leitura pode, e deve, ser vista numa perspectiva desenvolvimental,
O que quer dizer que o seu nível de proficiência, a mestria na leitura, evolui ao longo do
Ciclo de desenvolvimento da criança e relaciona-se com a capacidade de compreensão de
Outras informações, a um nível mais geral, que a criança obtém da sua experiência com o
Mundo e por meio de outros sistemas de comunicação que não a escrita. A compreensão
da informação linguística depende do desenvolvimento das capacidades cognitivas de
selecionar, processar, organizar e reorganizar informações. Mas depende igualmente do
nível dos seus conhecimentos prévios em relação à língua e em relação aos conteúdos
abordados no texto e, por fim, do grau de complexidade da informação a dotar de
significado.
Investigações baseadas nas perspectivas cognitivista e desenvolvimental sobre os
processos de compreensão permitiram demonstrar que dois dos fatores mais
determinantes para explicar as diferenças entre os leitores principiantes e os leitores
experientes, no que respeita ao grau de compreensão do texto lido, são, por um lado, o
conhecimento prévio (que, naturalmente, vai aumentando com a idade) e, por outro, as
estratégias de compreensão pelas quais o leitor opta durante o até de leitura (também estas
relacionadas positivamente com a idade do leitor).
Procuraremos apresentar alguns dos resultados da pesquisa acerca destas diferenças e
fazer, por fim, um apanhado dos seus principais contributos para o ensino da leitura ou, de
um modo mais abrangente, para o ensino da literária. Acreditamos que, apesar da sua
correlação com o nível etário, tanto o conhecimento prévio quanto as estratégias de
compreensão podem ser melhoras pela via do ensino.
O professor pode contribuir para tornar a criança um leitor apto e, mais do que isso,
um amante da leitura. Muitos o têm conseguido. A arte e o engenho, dependendo embora
grandemente dos seus recursos e criatividade pessoais, incluem também uma grande dose
de pequenos segredos técnicos que outros podem pôr em prática. Propomo-nos, aqui,
divulgar alguns desses segredos. Segredos tão completamente óbvios como o era o ovo de
Colombo. Talvez por isso valha a pena falar deles. O óbvio é o mais difícil de ver.
A leitura como construção do significado do texto
Algumas perspectivas teóricas sobre a formação e evolução do conhecimento
adotar o conceito de esquema cognitivo para explicar como é que organizamos
mentalmente as informações que recolhemos da nossa experiência com o mundo. A
metáfora adotada por estas teorias pode servir-nos bem para percebermos porque é que
os conhecimentos prévios do leitor são um elemento determinante para o grau de
compreensão que ele obtém daquilo que lê.
De acordo com estas perspectivas (cujas fontes históricas se centram nos nomes de
Barttlet e de Piaget), os nossos conhecimentos (tudo aquilo que sabemos) estão
organizados em esquemas cognitivos, os quais nos permitem descrever e explicar o mundo.
É nos esquemas que se incluem todos os nossos saberes acerca de conceitos e de
atividades. São os esquemas que possuímos (mais ou menos elaborados e diferenciados)
que nos permitem reconhecer os estímulos, estabelecer conexões entre eles e tomar
decisões acerca do que fazer na sua presença.
Estes esquemas podem estar adormecidos ou aditivados, quer dizer, podemos
requisitá-los apenas quando deles necessitamos e para tal basta ir ao grande armazém com
que a natureza nos dotou de uma forma magnífica: a memória. Este armazém tem uma
sessão de arquivo (a memória de longo prazo) e uma sessão ativa (a memória de trabalho):
identificar um objeto, reconhecer um problema, tomar uma decisão, executar um até
pressupõe trazer da memória de longo prazo para a memória de trabalho todos os
conhecimentos que possuímos que se nos afiguram relevantes (conectados) para a questão
com que nos confrontamos. Uma vez cumprida a missão, estes conhecimentos regressam
ao arquivo, muitas vezes modificados, em virtude das novos aquisições com que a
experiência e a reflexão nos dotou.
O que se passa, então, ao nível cognitivo, durante o até de leitura? Segundo o nosso
modelo teórico, o texto lido funciona como um atirador de esquemas. À medida que o
leitor lê são trazidos à consciência (ou seja, à memória de trabalho) aqueles conhecimentos
que, de entre todo o repor tório de conhecimentos do sujeito, são relevantes para entender
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