A ESCOLHA DO MÉTODO PROGRESSIVO-REGRESSIVO COMO METODOLOGIA PARA O PROJETO DE DOUTORADO
Por: Oyama Netto • 13/8/2017 • Ensaio • 5.467 Palavras (22 Páginas) • 336 Visualizações
A ESCOLHA DO MÉTODO PROGRESSIVO-REGRESSIVO COMO METODOLOGIA PARA O PROJETO DE DOUTORADO
Oyama Braga Martins Netto
Explanar os motivos que justificam a escolha do método para o projeto de pesquisa implica em retomar parte de uma trajetória pessoal e profissional. Tendo nascido e sido criado em Manaus, carrego comigo um grande interesse pela cultura e pelas vicissitudes de uma história peculiar, mas que parece pouco valorizada. Interesse que foi se transformando em inquietação com o avançar desta trajetória.
Esta inquietação intensificou-se durante a graduação, e após ela, com a dificuldade em encontrar trabalhos e pesquisas em psicologia voltados ao contexto e realidade do Estado do Amazonas e da cidade de Manaus, que embora esteja imbricadas geopoliticamente, encontram dissonâncias em seus espaços vividos.
Isto é percebido desde os estudos da graduação, onde em sala de aula ou supervisões pouco se discutia sobre a relação da psicologia e a realidade amazonense. Foi possível constatar que, como psicólogo em formação, contava apenas com teorias importadas que pouco tinham relação com a cultura amazonense e que pouco pensavam ou consideravam verdadeiramente a cultura local. Nas disciplinas estudadas, ficou a necessidade de especificidade ou estudo relativizado com o contexto ao qual iria atuar.
Ao concluir a graduação, muitos de meus amigos seguiam para o interior do Amazonas para se “aventurar”, o que de fato era uma aventura. Atuar em um município distante, completamente diferente da capital, sem as condições que nos era ensinada na graduação como “fundamentais” ao bom trabalho e atendimento psicológico era uma grande aventura a ser vivida. Havia também os que se diziam contra essa aventura alegando que nem saberiam o que fazer nesses municípios. Além disso, os comentários que escutava referentes às práticas profissionais eram, em sua maioria, interpretações que reduziam as culturas locais às explicações teóricas clássicas trabalhadas na universidade.
Como professor, deparei-me com o desafio de contextualizar, em minhas aulas, a realidade do estado do Amazonas e motivar os alunos a se interessar por esta realidade tão rica e peculiar, refletindo uma práxis psicológica voltada ao contexto que decerto encontrariam em suas atividades profissionais. Buscava dados do estado e do município, levava as curiosidades do contexto amazonense, as estórias e as manifestações culturais para as atividades e estudos em sala de aula. Uma tarefa prazerosa, mas por vezes muito solitária.
Como coordenador de curso de graduação, o desafio só aumentou. Motivar os professores e pensar, junto com eles, em alternativas, atividades e formas de incluir nos planos de ensino as questões voltadas ao contexto e realidades amazônicas, agora não somente uma motivação individual, mas uma obrigatoriedade e exigência do Ministério de Educação (MEC) nos currículos de formação em Psicologia no País.
Deparei-me também com histórias de alunos recém-formados e suas primeiras experiências profissionais. Alunos que, ao formar, entravam em programas sociais e em programas de saúde do município ou do estado e também sentiam dificuldades em aplicar os conhecimentos teóricos no contexto regional. Sentiam-se como que caindo de paraquedas em suas atividades. Relatavam-me suas experiências e me faziam lembrar de minhas próprias angústias na minha graduação.
Apesar da região amazônica ser privilegiada com vários estudos nas mais diversas áreas, os estudos em psicologia no Amazonas são carentes de referenciais e pesquisas que se tenham desenvolvido na região. É bem verdade que as produções em psicologia na capital têm crescido bastante em relação aos últimos anos, no entanto isso ainda não tem se refletido em uma práxis contextualizada.
São ínfimas também as produções realizadas por psicólogos (as) que contemplam a compreensão sartreana sobre o contexto amazonense, bem como as produções em psicologia de um modo geral, principalmente as que utilizam o método progressivo-regressivo como base para a compreensão de tais questões. Tal afirmativa baseia-se na escassez dos resultados das buscas realizadas por produções científicas, que contemplam direta ou indiretamente a temática aqui proposta.
A Capital do Estado do Amazonas, Manaus, hodiernamente tem passado por transformações políticas, econômicas e sociais que a fazem crescer e ter de enfrentar os conflitos provenientes deste crescimento. Tornou-se um espaço convergente de pessoas com um fluxo de informações e decisões, provenientes de suas várias fases de desenvolvimento, desordenadas e excludentes. Convergências que repercutem em toda a região e que ganharam projeção nacional que, até pouco mais de 10 anos, eram limitadas apenas às belezas naturais do Estado, a dizer, seus rios e florestas ou seus paraísos ecológicos. Quando muito, seu espaço urbano era destacado pela mídia por meio da Zona Franca de Manaus, por seus prédios antigos ou pela imponência histórica exercida pelo Teatro Amazonas, herança dos tempos áureos da borracha e até pouco tempo o maior cartão postal da cidade.
Historicamente verifica-se que as causas dessas intensas transformações têm raízes no período áureo da borracha, a chama Belle Époque Amazônida, e no período de declínio da mesma com a construção e inauguração da Zona Franca de Manaus, que motivou um grande fluxo de migração para a capital amazonense. Este crescimento é sentido no cotidiano. Manaus hoje figura um espaço urbano mais amplo, construções modernas, ampliação de seu Parque Industrial e novas organizações sociais que acompanham seu crescimento.
Entre os anos de 1980 e 2010, a cidade de Manaus viu sua população quintuplicar, saindo do patamar de 300 mil para cerca de dois milhões de habitantes. Isso refletiu não só em crescimento demográfico como também sócio-político e econômico. Dados da Prefeitura de Manaus (2015) colocam, atualmente, a capital do Estado do Amazonas como o principal centro financeiro e corporativo da Região Norte, o décimo maior destino de turistas e o sexto município que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) do País.
Contudo, a situação da cidade não reflete tais indicadores diante de tantos problemas urbanos que a assolam, tais como: o problema do transporte urbano, das favelas, das áreas de risco habitadas por uma população carente, o lixo produzido na cidade de forma desordenada, todo tipo de poluição urbana, a carência de calçadas para locomoção dos pedestres, a pavimentação precária das ruas, avenidas e estradas, dentre outros mais.
Trindade Jr (2004) aponta para um crescimento despadronizado a que passou a cidade de Manaus, que acabou por romper um processo de ocupação predominantemente ribeirinha que caracteriza o Estado, diferenciando-se de outros municípios do Amazonas ao se aproximar de um modelo de metrópole e por tudo que foi exigido do município tendo em vista as condições naturais e o processo histórico da região. Não obstante, Manaus se destacou em seu ritmo acelerado de crescimento e em uma dinâmica acelerada de transformação de seus espaços constituídos e vividos.
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