A Escuta em Freud
Por: Flaviana Mendonça • 12/6/2019 • Trabalho acadêmico • 1.473 Palavras (6 Páginas) • 219 Visualizações
(Título) A Escuta em Freud (Psicanálise)
(introdução)
Foi Sigmund Freud o principal inaugurador do que chamamos de “espaço da fala”. Foi quem mais deu importância à palavra, fazendo com que a escuta ocupasse um lugar central dentro da psicanálise. Ele é o fundador do campo da escuta enriquecendo o processo comunicacional através da teoria psicanalítica.
(desenvolvimento) (Acontecimentos Marcantes)
Durante os estudos de Freud, permearam duas situações importantes que foram essenciais para que ele percebesse a importância da escuta do sujeito.
1. Pertence a paciente Anna O. a expressão utilizada inicialmente na psicanálise, quando nomeou “a cura pela fala” e empregou o termo “limpeza de chaminé” ao referir-se ao tratamento que lhe foi dado por meio da palavra. Considerando a importância que Freud atribuiria ao dom da escuta do analista, é cabível considerar que uma paciente tenha contribuído tanto quanto ele e seu terapeuta Breuer, para a formação da teoria psicanalítica. Foi a partir das conversas com Breuer sobre este caso que, para Freud, ouvir tornou-se um método, uma via privilegiada para o conhecimento, a qual as pacientes lhe davam acesso.
2. Foi, também, em uma das sessões com a paciente Emmy Von N. que Freud percebeu que deveria deixá-la falar livremente. Em sessão ela pediu que ele não a tocasse, não a olhasse e nada falasse; queria apenas ser escutada. A fala sem censuras pareceu a Freud um meio de investigação muito superior ao método catártico utilizado anteriormente. Ao abandonar, aos poucos, a hipnose, Freud caminhava para a adoção de um novo modo de tratamento. Nascia então a associação livre que, nos anos posteriores, passou a ser considerada a regra fundamental da Psicanálise. Segundo Freud, a livre associação permitia atingir com maior facilidade os elementos que estavam em condições de liberar os afetos, as lembranças e as representações.
“Freud inaugura nos tempos: o tempo da palavra como forma de acesso por parte do homem ao desconhecido em si mesmo e o tempo da escuta que ressalta a singularidade de sentidos da palavra enunciada. Ocupasse, em suas produções teóricas e em seu trabalho clínico, de palavras que desvelam e velam; que produzem primeiro descargas e depois associações. Palavras que evidenciam a existência de um outro interno, mas que também proporcionam vias de contato com um outro externo quando qualificado na sua escuta. Esses tempos em Freud inauguram a singularidade de uma situação de comunicação entre paciente e analista. Um chega com palavras que demandam um desejo de ser compreendido em sua dor, o outro escuta as palavras por ver nestas as vias de acesso ao desconhecido que habita o paciente. A situação analítica é, por excelência, uma situação de comunicação: nela circulam demandas nem sempre lógicas ou de fácil deciframento, mas as quais, em seu cerne, comunicam o desejo e a necessidade de serem escutadas”.
MACEDO, Mônica Medeiros Kother; FALCÃO, Carolina Neumann de Barros. A escuta na psicanálise e a psicanálise da escuta. Psychê, São Paulo , v. 9, n. 15, p. 65-76, jun. 2005 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 02 abr. 2019.
(desenvolvimento 2ª parte)
Após a teoria psicanalítica a escuta que antes não tinha muita importância passa a ter o papel principal na terapia. Em 1912, no texto Recomendação aos Médicos que Exercem a Psicanálise, Freud introduziu a noção de uma escuta que não privilegiava nem um nem outro conteúdo. É a atenção flutuante. Diz ele sobre isso:
“Consiste em simplesmente não dirigir o reparo para algo específico e em manter a mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ em face de tudo que se escuta [...] Ver-se-á que a regra de prestar igual reparo a tudo constitui a contrapartida necessária da exigência feita ao paciente, de que comunique tudo o que lhe ocorra, sem crítica ou seleção” (FREUD, 1911, p.125-26).
Freud nos ensina que escutamos o paciente com o nosso inconsciente e, por isso, não devemos nos preocupar em memorizar o que o paciente diz. O analista, da mesma forma que o paciente, utiliza-se da associação livre como se naquele momento abrisse mão de seu pensamento consciente. A escuta, assim como a fala, assume um lugar central na Psicanálise.
Outro ponto importante da teoria psicanalítica que merece destaque são os conceitos de transferência e contra-transferência.
• Na transferência os desejos inconscientes concernentes a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da relação, na pessoa que se ocupa do ouvir. ROUDINESCO & PLON, 1998, p. 766 -767). Podemos entender que se trata de um conjunto de sentimentos positivos ou negativos não justificáveis na presente relação mas fundamentados nas experiências da vida.
◦ Característica da transferência: repetir padrões da infância em um processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam na figura do outro, em nosso caso, na pessoa daquele que assume a posição de ouvinte na relação.
◦ Importância: Tal fenômeno tem sua importância nas relações comunicacionais facilitando os canais de comunicação e com isso permitindo que elementos inconscientes que contribuem para o sofrimento da pessoa possam se tornar conteúdo consciente e assim promover o crescimento pessoal.
• Na contratransferência temos um “conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à transferência deste” (LAPLANCHE & PONTALIS, 2001, p. 102).
◦ Característica: Heimann (1995) descreve a contratransferência como o conjunto de sentimentos do terapeuta em relação ao paciente. Destaca que a reação emocional do terapeuta às projeções do paciente é um instrumento a ser compreendido pelo terapeuta e que, para ser utilizado, o terapeuta deve ser capaz de controlar os sentimentos que nele foram despertados, ao invés de, como faz o paciente, descarregá-los. Segundo Freud, seria um obstáculo à análise e sendo assim deveria ser neutralizado e superado. A contratransferência é uma reação inevitável causada no analista. Quanto mais analisado ele for, menos ele
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