A Sociedade dos Poetas Mortos e o Processo Grupal
Por: giovanna1591 • 26/6/2019 • Trabalho acadêmico • 1.637 Palavras (7 Páginas) • 553 Visualizações
Análise do Filme Sociedade dos Poetas Mortos e o Processo Grupal
I. G. Rosário
Sociedade dos Poetas Mortos (1989) é um filme norte-americano dirigido por Peter Weir que conta uma história impactante sobre jovens que estudam em uma prestigiada escola preparatória masculina chamada Welton Academy em Vermont, cujos princípios são pautados na manutenção da tradição através da disciplina e obediência, características muito positivas na visão da época em 1959.
O filme começa mostrando a entrada dos jovens à instituição, exemplificando conversas com seus pais, dos quais sempre se mostram com grandes expectativas no sucesso dos seus filhos, onde acreditam que o rigor das políticas da escola serão benéficos a eles e que nessa nova jornada a garantia de sucesso é totalmente dependente da excelência e primor, manifestando assim, as características identitárias dos ingressos na escola de Welton, sendo apoiadas nas cobranças exercidas pelo grupo familiar de origem.
As abordagens desse filme não mostram apenas como a intuição familiar e escolar exercem influências psicológicas nas questões como conformidade, identidade ou através dos estudos de obediência, mas também representa como se dá a formação de um grupo, através da interpretação de papéis e da incorporação de ideias que unem os jovens, proporcionando uma coesão e distribuição de tarefas.
No filme, o Sr. Keating (Robin Williams), um novo professor de inglês e ex-aluno da escola, incentiva seus alunos Neil Perry (Robert Sean Leonard), Todd Anderson. (Ethan Hawke), Knox Overstreet (Josh Charles), Charlie Dalton (Gale Hansen), Richard Cameron (Dylan Kussman), Steven Meeks (Allelon Ruggiero) e Gerard Pitts (James Waterston), alunos que tem destaque em várias áreas, a pensar de uma forma diferente do que estão acostumados. Por meio de tarefas consideradas excêntricas o professor tenta fazer com que seus alunos observem eles mesmos como seres pensantes, a ter pensamento crítico da realidade e os inspirando inicialmente a "aproveitar o dia", Carpe Diem, e a defender o que eles acreditam.
Nessa abordagem o professor insere um novo modo de ensinar aos seus alunos, incentiva os garotos através de exercícios e práticas que vão além das páginas dos livros. Segundo Pichon (2005) a aprendizagem caracteriza-se em um processo crítico e investigativo de reconhecimento da realidade e intervenção nesta pelo indivíduo, advinda de uma transformação dele, quer em ação no mundo externo que o cerca, quer em seu mundo interno. Isso remete a papel determinante que o Sr. Keating exerce na vida dos garotos, ao ajudar os meninos a pensarem “fora da caixinha”, eles percebem por si só que podem ser mais do que haviam pensado antes, saindo do papel determinado a eles como estudantes-modelos “da Welton”, cuja prioridade número um é a escola e seus princípios.
À vista disso, os estudantes acham um anuário que pertencia ao professor Keating e descobre que ele fazia parte de um clube do passado da escola chamado "Dead Poet's Society" (Sociedade dos Poetas Mortos), onde se encontravam em uma caverna para ler poesia e buscar a essência da vida. A partir disso os garotos decidem reabrir o extinto clube de Welton e se encontrar como faziam os antigos integrantes.
Para Pichon, um grupo se traduz em um restrito conjunto de pessoas que, ligados por igual tempo e espaço e também articuladas por sua mútua representação interna, se configuram explícita ou implicitamente, a uma tarefa, que constitui seu objetivo, dessa forma, se inicia um processo de comunicação e cooperação para a realização de tarefas. Entretanto, Pichon enfatiza que ter objetivos em comum ou apenas uma tarefa dentro do grupo não garante a união do grupo, ele reitera que as pessoas têm que fazer parte de uma estrutura dinâmica que ele define como vínculo:
Definimos o vínculo como a estrutura complexa que inclui o sujeito e o objeto, sua interação, momentos de comunicação e aprendizagem, configurando um processo em forma de espiral dialética, processo esse em cujo começo as imagens internas e a realidade externa deveriam ser coincidentes. Isso não acontece, visto que o objeto atua em duas direções: para a gratificação (construindo assim o vínculo bom) e para a frustração ( configurando o vínculo mau). (PICHON-REVIÈRE, 2005, p. 75).
Com o passar do tempo, através das interações na caverna, ao redor da fogueira, bebendo, fumando, lendo poesia, compartilhando pensamentos, interagindo e comunicando entre si, os estudantes se tornam uma irmandade e as reuniões favorecem um processo dialético em suas realidades, por um lado o conservadorismo da academia e dos pais com a tradição, honra, disciplina e excelência, por outro lado a vontade de buscar a essência da vida, extravasando suas personalidades e desejos, apresentando uma nova parte de cada um. Aprendem uma nova perspectiva de vida e passam a tomar atitudes que conflitam diretamente com as antigas estruturas da instituição Welton, afetando individualmente o modo que cada integrante vivência o grupo e a instituição inserida. Keating ajuda Todd a enfrentar a timidez e a compartilhar seus pensamentos. Knox se apaixona por Chris, escreve um poema e viaja para recitá-lo por amor. Neil descobre que sua paixão oculta é ser um ator, ainda sabendo que seja contra a vontade de seu pai (Kurtwood Smith).
Dividido entre tomar uma decisão, Neil pede conselhos a Keating, que o encoraja a falar ao pai como realmente se sente sobre a atuação. Não o apoiando, Neil insiste em atuar mesmo assim e o pai do jovem ator aparece em sua peça e o leva furiosamente para casa e o obriga a entrar em uma escola militar. Frustrado com a incapacidade de lidar com os planos futuros de seu pai para com ele e de não conseguir fazer com que seu pai o compreenda, Neil comete suicídio. Para Riviére o aprender traz abertura para as dúvidas e inquietações, e o grupo operativo deve possibilitar aos integrantes os meios para que eles entendam como se relacionar uns com os outros.
Para Pichon, um dos princípios organizadores do grupo é o conceito Tarefa, referente ao modo pelo qual os integrantes do grupo interagem a partir de suas próprias necessidades. E são essas necessidades que se constituem um pólo norteador de conduta onde o processo de compartilhar necessidades em torno de objetivos comuns constitui a tarefa grupal.
Tal tarefa grupal se apresentou no filme, principalmente no momento para decidir a recriação do grupo Sociedade dos poetas mortos. Enquanto um ansiava pela oportunidade de conquistar as mulheres através das poesias, outros viam no grupo uma oportunidade de serem quem são de maneira livre, partindo sempre, de suas necessidades pessoais para a criação de estratégias para o desenvolvimento do grupo.
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