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A Teoria Do Balde

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Por:   •  18/6/2014  •  989 Palavras (4 Páginas)  •  481 Visualizações

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A Teoria do Balde, de Karl Popper

É revelador da condição humana que todas as provas e factos empíricos são por norma incapazes de mudar as fortes crenças ideológicas dos indivíduos. É por isso que só é possível contrapor uma narrativa (política) com outra mais sedutora.”

Esta proposição foi respigada no FaceBook e é da autoria de um jovem que faz um mestrado universitário, e que colabora num blogue hayekiano. A proposição necessita de ser interpretada para fazer algum sentido, porque inclui nela uma série de conceitos que, sem uma interpretação, valem pouco.

Duas perguntas: 1) o que é um facto? 2) será que depois de definirmos “facto”, podemos saber se os factos conduzem a uma aproximação da verdade que racionalize [ou seja, que as fundamentem logicamente] as crenças ideológicas?

Ensinaram-nos que o “facto” é um dado da experiência, com o qual o pensamento pode contar [definição comum]. Mas eu não vou por aí, nem ninguém deve ir. A definição de “facto” que se aproxima, o mais possível, da realidade, é a seguinte: o facto é algo que adquiriu uma estrutura na nossa consciência. Os acontecimentos que escapam à nossa consciência, individual e/ou colectiva, não são factos, mas nem por isso deixam de ser acontecimentos.

Quando reduzimos a noção de “facto” ao empirismo [“factos empíricos”, diz ele] que, por definição, se relaciona com a nossa percepção do mundo mediante os nossos sentidos, também adoptamos uma crença ideológica. É assim que o aplicante a mestrado adopta uma determinada crença ideológica para criticar as crenças ideológicas de outros indivíduos. E entramos em círculo vicioso.

O filósofo das ciências, Hans Albert, escreve o seguinte:

“Para o pensamento do dia-a-dia, considera-se, em geral, como característico o chamado realismo ingénuo, uma concepção segundo a qual a realidade está concebida, de maneira geral, tal como aparece na nossa percepção. Portanto, as qualidades sensoriais são aqui elevadas a propriedades dos objectos. Ora, há muito tempo que se sabe que concepções deste tipo levam ao absurdo e a contradições, de modo que é útil revê-las e questionar a interpretação do conhecimento humano que elas exprimem.”

Um dos maiores problemas culturais — da cultura intelectual, que se estende à cultura antropológica — do nosso tempo é a noção, propagandeada como verdadeira, segundo a qual as crenças são uma característica ausente da mundividência empírica em geral, e da ciência em particular. O raciocínio seguido é o seguinte: a ciência baseia-se em factos empíricos e nas ligações causais — sendo que, neste contexto, a “causa” é entendida como sendo determinista [as leis da ciência] e fenomenológica.

Desde Kant que sabemos que a “causa” [determinista] é uma ideia que existe apenas na nossa cabeça; nós transportamos connosco uma multitude de categorias [interpretações] na nossa cabeça, e aplicamos essas categorias ao [aparente] caos resultante das percepções sensoriais, de modo a que nos possa surgir um mundo ordenado. É necessária uma série de categorias e de axiomas na nossa cabeça para transformar uma percepção da retina, por exemplo, numa percepção sensorial. Não existe nenhum órgão dos sentidos no qual não tivessem sido integradas geneticamente teorias antecipantes. A observação [empírica] não é um comportamento passivo: a percepção interpreta.

Portanto, não é possível dizer que os factos podem ser pressupostos, de forma indiscutível, como pontos de partida da ciência — neste caso concreto, também os factos empíricos invocados pelo aplicante a mestrado supracitado. A ciência tem tido muito êxito precisamente porque suprime determinadas questões ou problemas, mas isso não significa que essas questões ou problemas deixem de existir pelo simples facto de a ciência positivista não as considerar.

Todas as observações

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