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ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO (AT): QUESTÕES E TENSÕES

Por:   •  9/11/2022  •  Projeto de pesquisa  •  5.180 Palavras (21 Páginas)  •  92 Visualizações

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FAMETRO – UNIFAMETRO CURSO DE PSICOLOGIA

DAVI BARBOSA MACÊDO

ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO (AT): QUESTÕES E TENSÕES.

DAVI BARBOSA MACÊDO

ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO: QUESTÕES E TENSÕES.

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, da graduação de Psicologia do Centro Universitário da FAMETRO (UNIFAMETRO), como requisito parcial para aprovação na disciplina.

Orientador(a) prof.ª Dra. Karla Corrêa Lima Miranda.

SUMÁRIO

  1. INTRODUÇÃO        3
  2. ERA UMA VEZ UMA CLÍNICA: NARRATIVAS E CONTRIBUIÇÕES PARA A EMERGÊNCIA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO.        7
  3. METODOLOGIA        13
  1. Tipo de pesquisa        13
  2. Coleta de dados        14
  3. Análise de dados        15

3 CRONOGRAMA        17

REFERÊNCIAS        19

  1. INTRODUÇÃO

A Reforma Psiquiátrica pode ser caracterizada como embastes discursivos que geram tensão no campo da Saúde Mental, possibilitando questionar os cuidados em saúde, sendo esta problematização direcionada para os territórios de vida de cada sujeito, na tentativa de traçar novas estratégias de cuidado. Falar de sua história não é tarefa fácil, pois significa reconhecer sua complexidade, entendendo que esta é constituída a partir de um engodo discursivo que produz verdades que disputam espaço na simbolização desse fenômeno (BAGNOLI, 2016).

Logo, fica mais clara esta discussão quando se considera o que Foucault (2008) conjectura a partir de seus estudos arqueológicos, possibilitando outro olhar sobre a compreensão que se tem de história, reconhecendo que esta assume uma posição que não é interpretada em termos de linearidade, homogeneidade e/ou continuidade. É justamente por via dessas rupturas e descontinuidades que discursos-verdade são produzidos, estruturando o que se reconhece como realidade.

De certo modo, a Reforma Psiquiátrica, embora vista a partir de vários prismas epistemológicos, sob forte disputa narrativa, carrega consigo o objetivo comum de (re)pensar os cuidados em saúde, abrindo espaço para que outros paradigmas clínicos surjam como estratégia para atuação (METZGER, 2017).

Aqui nesse contexto de rupturas e crises, emerge um novo desenho como proposta de cuidado no campo da Saúde Mental. O Acompanhamento Terapêutico (AT) provoca tensão na clínica e desloca as compreensões estabelecidas acerca do tempo e do espaço (PALOMBINI, 2004).

Trata-se de uma clínica que explora a relação do sujeito com a cidade, reconhecendo o seu lugar no meio desta que se transforma a partir de tal dinâmica. Mesmo que não haja esse passeio, ou flânerie, como sabiamente compara Palombini (2009), esta clínica resiste, pois mesmo que imerso em seu quarto, o sujeito entra em contato com a vida que pulsa nas vias, nos bares, nas calçadas e canções que adentram o seu território pelas frestas da janela, resultando em uma forma de fazer laço social.

Conforme pontua Metzger (2017), a clínica do AT se faz a partir do acompanhamento de pacientes psicóticos, destacando a função do acompanhante terapêutico (at) em escavar as possibilidades do laço social de tais pacientes.

A compreensão do que seja laço social se sustenta na teoria lacaniana, desta forma, aqui se fala de uma linguagem estruturada em discurso, sendo o laço produzido a partir deste último, como modos de uso da linguagem para criação de vínculo, sendo que “(...) o que está em jogo é aquilo que ordena e regula um vínculo social entre os sujeitos”. (COELHO, 2006, p.109).

Conforme ressalta Quinet (2009), são quatro as formas de se relacionar, consecutivamente, quatro discursos são apontados, sendo estes o discurso do mestre, do universitário, do analista e da histérica. Ainda de acordo com Coelho (2016, p.119), “(...) a teoria dos discursos nos mostra que psicanálise é a possibilidade de o sujeito mudar de posição frente ao Outro, recuperar sua dignidade e ser infinitamente diferente do que é”.

Tais discursos podem ser encontrados quando Freud (1930) escreve sobre o mal-estar na civilização, reconhecendo a relação com o outro como uma das maiores causas do sofrimento humano, sendo estes laços expressos nos atos de governar, educar, psicanalisar e fazer desejar.

É nesse contexto inquietante que as práticas do AT se apresentam como possibilidade de explorar e alcançar outras regiões do saber, na tentativa de acompanhar os sujeitos nas vias do seu processo de construção de uma teia que se organize no seu território de vida, permitindo ao psicótico, por exemplo, o enlace de sua estrutura psíquica com o tecido social. A clínica do AT abandona os muros que segregam e ocupam espaços de troca, marcando a reinserção da relação entre a cidade e o sujeito (PALOMBINI, 2004).

Esta mesma clínica encontra forças no Brasil, quando entra em contato com os movimentos da Reforma Sanitária e Psiquiátrica, durante a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Aqui ocorre um redirecionamento marcante nos rumos que esta prática tomava, possibilitando, na década de 1990, a integração aos serviços do SUS, aliando forças aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as Residências Terapêuticas, na tentativa de reformular os cuidados em saúde mental no território (SOUZA; PONTES, 2013).

Desta forma, de acordo com Palombini (2004), o AT se caracteriza como um dispositivo clínico-político, articulador do processo de desinstitucionalização, na medida em que sua atuação ocorre no campo da política pública, como apoiador dos serviços substitutivos ao modelo manicomial, e transformador da clínica clássica, quando questiona o paradigma da clínica intramuros.

Chamando atenção para os processos de reforma, Ferreira Neto (2006) apud Gonçalves e Barros (2013) ressalta que os dispositivos de saúde correm o risco de recair em práticas que atendem a lógica manicomial, quando ficam presos a um único campo do saber (hegemonia). Desta forma, afirma a importância de haver movimento contínuo, pensando novas formas de constituir práticas e processos de subjetivação, distantes de qualquer efeito homogeneizante e normativo.

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