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APRENDENDO A VIVER COM O TRANSTORNO BIPOLAR: MANUAL EDUCATIVO

Por:   •  20/10/2017  •  Resenha  •  2.243 Palavras (9 Páginas)  •  1.495 Visualizações

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APRENDENDO A VIVER COM O TRANSTORNO BIPOLAR: MANUAL EDUCATIVO

GRASIELA CENDRON BRANDALISE[1]

Um relato de como o paciente com transtorno bipolar (TB) se vê:

“Quando se está animada, é fantástico. As ideias e os sentimentos são velozes e frequentes como estrelas cadentes. A timidez some, as palavras e os gestos certos de repente aparecem, o poder de cativar os outros é uma certeza. Descobrem-se interesses em pessoas desinteressantes, a sensualidade é difusa e o desejo de seduzir e ser seduzida é irresistível. Impressões de desenvoltura, energia, poder, bem-estar, onipotência financeira e euforia estão impregnadas na nossa medula, mas, em algum ponto, tudo muda. As ideias velozes são rápidas demais e surgem em quantidades excessivas. Uma confusão arrasadora toma o lugar da clareza, a memória desaparece e o humor e o enlevo no rosto dos amigos são substituídos pelo medo e pela preocupação. Tudo o que antes corria bem, agora, só contraria. Você fica irritadiça, zangada, assustada, incontrolável e totalmente emaranhada na caverna mais sinistra da mente, a qual você nem sabia que existia. Quais dos meus sentimentos são reais? Qual das minhas versões de “eu” sou eu? A selvagem, a impulsiva, a caótica, a vigorosa e a amalucada? Ou a tímida, a retraída, a desesperada, a suicida, a cansada e a fadada ao insucesso? Provavelmente um pouco de cada lado (DAVID, BIO, 2015, p.46)”.

O livro “Aprendendo a viver com o transtorno bipolar: manual educativo” trata-se de um informativo com o objetivo de esclarecer sobre a bipolaridade. Suas formas de manifestações, diagnóstico e tratamento.

Levando em consideração seu contexto histórico, Moreno (2015) aponta que o primeiro médico a relatar a mania (episódio maníaco dentro do transtorno bipolar tipo I), foi o grego Areteus da Capadócia (Alexandria, final do século I a.C.), que descreveu como um estado de falta de controle em que a pessoa cometia todo tipo de exagero, com furor, excitação e euforia.

Nas formas mais graves da doença, o indivíduo poderia até mesmo matar e humilhar seus servos, e nas menos graves, se sentiria grandioso “sem nunca ter estudado, ele dizia ser filósofo. [...] e o incompetente diz ser artesão habilidoso, [..] outros se tornavam desconfiados e se sentiam perseguidos, razões pelos quais se tornavam raivosos”.

Ainda de acordo com o autor, Areteus também foi o primeiro a associar a mania com a depressão (melancolia), [...] de acordo com ele, a forma clássica de mania era a bipolar: o quadro do paciente, anteriormente alegre, eufórico e hiperativo, de maneira repentina se invertia para a melancolia; e, no final do “ataque”, ele se tornava abatido, sem força/energia, triste e calado, queixando-se de preocupações com seu futuro e sentindo-se envergonhado.

Quando a fase depressiva acabava, tais pacientes voltavam a ser alegres, contavam piadas, riam, cantavam e se exibiam em público como se estivessem retornando de um jogo vitorioso. Algumas vezes, riam e dançavam durante o dia e a noite toda.

Vale a pena ressaltar que o termo grego mania, na sua ideia original, significa “loucura enfurecida” (algo bem próximo do que ocorre nos episódios mais graves do que conhecemos hoje como episódio maníaco).

Uma consideração importante a se fazer em relação ao termo “bipolaridade”, segundo Moreno (2015) infelizmente foi e continua sendo, usado para descrever outros estados que não parecem com seu conceito original, como no caso de mania de limpeza, que remete ao transtorno obsessivo-compulsivo, ou maníaco do parque, que remete à psicopatia.

Já em 1899, o autor aponta que Emil Kraepelin descreveu a psicose maníaco-depressiva (PMD), analisando os estados de transição das crises maníacas e melancólicas, bem como avaliando os estados mistos, em que existiam sintomas de mania e de depressão ao mesmo tempo.

Todas as psicoses descritas anteriormente na história como intermitentes, circulares, periódicas, de dupla forma ou alternadas foram agrupadas em uma entidade fundamental: a PMD (considerava uma doença endógena).

O conceito de Kraepelin abraçava todas as condições com a sintomatologia tanto de mania como de melancolia, não importante se o indivíduo tivesse uma ou várias fases; se elas foram breves ou prolongadas, leves ou graves; se apresentou depressão recorrente, só mania ou ambas.

Moreno (2015) ressalta que no ano de 1966 houve a separação levando em consideração a sintomatologia, quando Jules Angst (na Suiça) e Carlo Perris (na Suécia) publicaram trabalhos independentes, os quais indicavam que pacientes que sofriam apenas de depressão, hoje conhecidos como “unipolares” ou portadores de depressão unipolar, apresentavam histórico familiar de depressão, enquanto aqueles que apresentavam episódios de mania, com ou sem episódios de depressão, apresentavam histórico familiar tanto de mania como de depressão.

(...) haveria também diferenças de personalidade entre os dois grupos: os pacientes com episódios de mania tenderiam a ser mais calorosos, enérgicos e extrovertidos, enquanto os que apresentavam somente depressão eram mais isolados, tensos e ansiosos.

O conceito original de PMD sofreu outras subdivisões, pois Kraepelin incluiu nele todas as manifestações de humor, desde as mais leves até as mais graves, como a mania e a depressão.

Segundo definição de Dalgalarrondo (2008), citado por Moreno (2015) o transtorno afetivo bipolar é um transtorno do humor caracterizado pela presença de um grupo de manifestações clínicas no qual ocorre uma alteração de humor, em extremos opostos, ou seja, tanto para depressão quanto para o engrandecimento do eu.

Ainda, de acordo com a psiquiatria moderna o TB pode ser classificado em transtorno bipolar I, transtorno bipolar II, ciclotimia e transtorno bipolar sem outra especificação.

O transtorno bipolar tipo I é caracterizado como uma psicopatologia marcada pela ocorrência de um ou mais episódios maníacos ou episódios mistos. Já o transtorno bipolar Tipo II é marcado pela ocorrência de um ou mais episódios depressivos maiores, acompanhados por pelo menos um episódio hipomaníaco. “Para diagnosticar o TB tipo II é necessário que o paciente nunca tenha tido um episódio pleno de mania (MORENO, 2015)”. Recomendando que para diagnosticar o TB tipo II é necessário que o paciente nunca tenha tido um episódio pleno de mania.

 O tipo ciclotímico, segundo o autor, possui perturbação crônica e flutuante do humor, envolvendo numerosos períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos.  (...) cabe destacar que os sintomas hipomaníacos não atingem todos os critérios para ser considerado um episódio maníaco e os sintomas depressivos não apresentam características suficientes para serem classificado como um episódio depressivo maior (FERNANDES, SOUSA, ANDRADE et al., 2016). Ou seja, são as pessoas que tem flutuações de humor para cima e para baixo, mas que nunca preenchem os critérios para um episódio de mania ou de depressão (DEMETRIO (2015) apud KRAEPELIN (1966)).

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