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ATPS PPB I

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Por:   •  24/3/2014  •  1.572 Palavras (7 Páginas)  •  345 Visualizações

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CIÊNCIA, METODOLOGIA E TRABALHO CIENTÍFICO.

(ou Tentando escapar dos horrores metodológicos)

Ruben Araujo de Mattos

Ciência é uma forma peculiar de produzir conhecimento objetivo. Objetividade, ainda nesse senso comum. Um conhecimento objetivo seria aquele que independe das posições (ou das opiniões) de um sujeito qualquer. O conhecimento científico, nessa visão, se imporia a todos. É nesse sentido que ouvimos frequentemente frases como “a ciência demonstra isso”, ou “cientistas verificaram que ...”.

Caberia ao método científico à virtude de desvelar a realidade, de descobrir suas regularidades e leis. Ou seja, adotar o método científico seria a melhor forma de se chegar à verdade, de descobrir, para além das meras opiniões, o que de fato acontece na realidade. Muitos de nós, diante da tarefa, trememos. Afinal, aplicar as metodologias científicas parece algo muito especial, quase inalcançável. E pior, quando nos debruçamos sobre a tarefa, encontramos algo muito distinto da metodologia tão idealizada: aonde esperávamos encontrar um terreno sólido, encontramos algo que mais parece areia movediça.

Uma referência a um filósofo do século passado, Karl Popper. Popper interessou-se muito pelo que chamava de problema da demarcação da ciência afinal, o que distinguiria o que é científico das demais formas de produção do conhecimento? A resposta dada por aquele filósofo, contudo, questionava a noção de que a ciência demonstra verdades, ou verifica certas hipóteses. Popper argumentava que o conhecimento científico não pode jamais demonstrar que algo é verdadeiro, embora possa demonstrar que algo é falso.

Popper diz: começo, regra geral, as minhas lições sobre o Método Científico dizendo aos meus alunos que o método científico não existe (Popper, 1987, p. 39). Pondo isso em termos mais claros, ele afirmava:

1) não há um método para descobrir uma teoria científica;

2) não há um método para averiguar a verdade de uma hipótese científica, ou seja, não há um método de verificação;

3) não há um método de determinar se uma hipótese é „provável‟, ou provavelmente verdadeira (Popper, 1987, p. 40).

Se Popper insinuou que o conhecimento objetivo emerge de um diálogo entre sujeitos, talvez devamos a Thomas Kuhn o reconhecimento pleno de que a ciência é, antes de tudo, uma prática social. Kuhn sugeriu que a produção do conhecimento científico se faz em comunidades de cientistas que partilham um paradigma.

As teses de Kuhn realçaram a importância dos grupos de cientistas que partilham de um mesmo paradigma. O trabalho científico seria um trabalho construído no âmbito de um grupo.

O que é importante destacar aqui é que os métodos científicos (nessa perspectiva eles seriam necessariamente múltiplos) seriam conjuntos de procedimentos aceitos por uma comunidade científica.

Há estudos sobre o mesmo tema? Há alguma polêmica em curso, que pretenderemos resolver com nosso trabalho? Ou pretendemos polemizar com uma posição defendida por certo autor? Estamos querendo inovar ao aplicar uma nova abordagem, ou ao aplicar pela primeira vez dispositivos de pesquisa? Todas essas perguntas nos remetem a um mapeamento do “estado da arte” na produção sobre aquele tema.

Analisando muitos outros exemplos tomados da física e da química, Bachelard romperá. Nas suas palavras:

Na formação de um espírito científico, o primeiro obstáculo é a experiência inicial, é a experiência situada antes e acima da crítica, que é necessariamente um elemento integrante do espírito científico. Dado que a crítica não operou explicitamente, a experiência inicial não pode, em caso algum, constituir um apoio seguro. Daremos inúmeras provas da fragilidade dos conhecimentos iniciais, mas opomo-nos desde já nitidamente a esta filosofia fácil que se baseia num sensualismo mais ou menos sincero, mais ou menos romanceado, e que pretende receber diretamente as suas lições de um dado claro, nítido, seguro, constante, sempre oferecido a um espírito sempre aberto. (BACHELARD, 1984, p. 170, grifos no original).

Para Bourdieu, portanto, a tarefa de construir o objeto de uma pesquisa nas ciências sociais envolve uma luta cotidiana e contínua contra o senso comum, contra o saber imediato. Uma das técnicas recomendadas por Bourdieu, e que pode ser utilizada para concretizar essa ruptura com as noções comuns, é formular uma definição prévia do objeto, como uma construção provisória destinada, antes de tudo, a substituir uma noção de senso comum por uma primeira noção científica (cf. Bourdieu, 2005, p. 24).

Para um convencionalista, a pergunta “o que é isto” deveria ser substituída por perguntas do tipo “o que o fulano ou cicrano entende por isso ou aquilo”.

Para os que assim pensam, deveria haver uma hierarquia entre diferentes tipos de contribuições teóricas. As teorias e as abordagens propostas por alguns autores seriam chaves para que se assegurasse a coerência com as demais contribuições. Nesse modo de pensar, seria imperativo que primeiro escolhêssemos uma abordagem ou uma perspectiva teórica a partir da qual orientaríamos todo o nosso trabalho de apropriação de outras contribuições teóricas, bem como nosso próprio trabalho de formulação teórica e Giddens dizia:

Ao formular esta descrição da teoria da estruturação, não tive a menor relutância em apoiar-me em ideias oriundas de fontes completamente divergentes. Isso poderá parecer a alguns um ecletismo inaceitável, mas eu nunca consegui temer esse tipo de objeção. Existe um inegável conforto em trabalhar dentro de tradições estabelecidas de pensamento – sobretudo, talvez, em face da grande diversidade de abordagens com que se defronta correntemente quem está fora de uma tradição qualquer. O conforto de pontos de vista estabelecidos pode, entretanto, servir facilmente de cobertura para a preguiça intelectual. Se as ideias são importantes e esclarecedoras, muito mais importante do que sua origem é estar capacitado para delineá-las de modo a demonstrar a utilidade delas, mesmo num quadro de referência que poderá ser inteiramente diferente daquele que ajudou a engendrá-las. (GIDDENS, 2003, p. XXIV)

As técnicas de pesquisa (ou se preferirem, os métodos de pesquisa) podem ser vistas como modos de construção de argumentos.

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