Análise do Filme Como estrelas na Terra e sua Relação com a Teoria de Vygotsky
Por: Luciana David • 3/5/2016 • Trabalho acadêmico • 740 Palavras (3 Páginas) • 6.881 Visualizações
Análise do Filme “Como estrelas na Terra” e sua relação com a teoria de Vygotsky
Luciana Moreira David
"Ao brincar, a criança assume papéis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não está apta ou não sente como agradáveis na realidade”.
(Vygotsky)
O filme indiano “Como estrelas na Terra”, dirigido por Aamir Khan e Amole Gupte, retrata a história de Ishaan Awasthi (Darsheel Safary), um garoto de oito anos que apresenta dificuldades de aprendizagem, sendo posteriormente diagnosticado como disléxico. O filme possibilita observar a importância do professor como mediador da aprendizagem e os conhecimentos produzidos socialmente.
Vygotsky valoriza a ação pedagógica, a intervenção e a participação do educador na formação do sujeito. O desenvolvimento deve ser olhado de maneira prospectiva e não retrospectiva. Vygotsky afirma que o educador está focado no que já aconteceu, nas habilidades que a criança já adquiriu enquanto o que realmente importa para o processo de desenvolvimento da criança é que ela ainda não adquiriu. O que interessa no processo de aprendizagem são as diferenças e não as semelhanças, pois os estudantes não são iguais, as habilidades individuais são distintas, o que significa que cada criança avança no seu próprio ritmo. Ele defende o convívio em sala de aula de crianças com diferentes níveis de aprendizagem.
Vygotsky propõe a existência de dois níveis de desenvolvimento infantil. O primeiro é chamado de Desenvolvimento Real, onde a criança já consegue realizar suas habilidades sozinha, e o Nível de Desenvolvimento Proximal ou Potencial, onde a criança ainda não tem suas habilidades completamente desenvolvidas e precisa da intervenção do educador. É no caminho entre essas duas zonas que a criança pode se desenvolver por meio da interação e da troca de experiências.
"Vygotsky afirma que o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se completarem." (Rego, 2001)
Na abordagem sociointeracionista, a qualidade do trabalho pedagógico está associada à capacidade de promover avanços no desenvolvimento do aluno com base naquilo que potencialmente ele poderá adquirir. A aprendizagem deve priorizar o que o aluno pode aprender, o que já consegue realizar com ajuda de um mediador. Com a troca de experiências proposta por Vygotsky, o professor naturalmente deixa de ser encarado como a única fonte de saber na sala de aula. Mas nem por isso tem seu papel diminuído.
Para Vygotsty, a educação tem papel fundamental sobre o comportamento e o desenvolvimento das funções psicológicas. Não levar em conta o conceito das zonas de desenvolvimento pode significar alguns problemas. Por exemplo, ao ignorar o limite proximal, o educador coloca os alunos diante de desafios quase impossíveis, como no caso do menino Ishaan, do filme. A escola e os educadores tinham uma visão mecanicista do sujeito, levando em consideração apenas as semelhanças que caberiam aos alunos com a mesma idade, o que levou Ishaan a não conseguir se desenvolver de forma adequada. A exigência visível feita ao menino fez com que ele de distanciasse cada vez mais de seu potencial, colocando-o à margem da sociedade e da família, uma vez que para a escola e para seu pai, Ishaan era indisciplinado e causava problemas. O menino era comparado o tempo todo com o irmão mais velho, que se destacava na escola, e assim Ishaan era diminuído e ferido. A visão de mundo capitalista e competitiva da sociedade moderna leva os pais a exigirem dos filhos um padrão muito alto, não considerando a importância das relações humanas, da interação, da compreensão das diferenças. No conceito de Sociogênese Vygotsky afirma que o ambiente no qual o individuo está inserido influencia diretamente na aprendizagem.
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