As Consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos
Por: RMAlencar • 5/6/2018 • Resenha • 1.366 Palavras (6 Páginas) • 590 Visualizações
“Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” (1925)
Nesse texto Freud, se atenta mais fortemente ao desenvolvimento psíquico da menina. Anteriormente, ao examinar as primeiras formas mentais assumidas pelas crianças, era habitual tomar a menino como referencia, supondo que com as meninas o caminho seria semelhante, embora de algum modo diferentes.
Nos meninos, no complexo de Édipo ele retém o primeiro objeto em que investiu a sua libido durante o período precedente em que estava sendo amamentada e cuidada. Assim, ele toma o pai como um rival e queira tomar seu lugar. Essa atitude edipiana toma lugar nos meninos na fase fálica e sua destruição é causada pelo temor da castração, ou seja, pelo interesse narcísico nos órgãos genitais. Mesmo nos meninos o complexo de édipo assume uma orientação dupla, ativa e ´passiva, de acordo com a sua constituição bissexual, o menino também deseja tomar o lugar de sua mãe como objeto de amor de seu pai (atitude feminina).
Já na questão pré edipiana nos meninos, se sabe que nesse período ocorre uma identificação de tipo afetuosa com o pai, sem qualquer rivalidade em relação a mãe. Inicia-se a atividade masturbatória infantil, cuja supressão pode colocar em ação o complexo de castração. A enurese noturna continuada é uma consequência da masturbação e sua supressão é encarada pelos meninos como uma inibição da sua atividade genital (ameaça de castração). Ao escutar os pais copularem pode iniciar todo o desenvolvimento sexual da criança, O complexo de édipo posteriormente se liga a essas experiências, e interpreta seus significados.
Nas meninas o complexo de édipo tem um problema a mais, pois elas também tomam a mãe como objeto original. “Como ocorre, então, que as meninas o abandonem e, ao invés, tomem o pai como objeto?” (p.280). Somente analisando a questão pré-edipiana nas meninas é possível responder essa questão. Assim, para as meninas o complexo de Édipo tem uma longa pré-história e constitui, sob certos aspectos, uma formação secundária.
“A zona genital é descoberta em alguma ocasião ou outra e não parece haver justificativa para atribuir qualquer conteúdo psíquico às primeiras atividades a ela vinculadas. O primeiro passo na fase fálica iniciada dessa maneira não é a vinculação da masturbação às catexias objetais do complexo de Édipo, mas uma momentosa descoberta que as meninas estão destinadas a fazer.” (p.280). Ao notar o pênis de um menino, a menina imediatamente o identifica como o correspondente superior do seu próprio órgão e assim, caem vitimas da inveja do pênis.
A percepção da diferença anatômica provoca reações diferentes em cada sexo. O menino, primeiramente, rejeita esta percepção e mais tarde, possuído de alguma ameaça de castração, é que a observação da parte genital feminina se torna importante, despertando emoções de tormenta, levando-o a acreditar na realidade da ameaça de castração. Essa circunstancia conduz a duas possíveis reações, a um horror ou a um desprezo frente ao sexo feminino.
Já a menina percebe a castração já efetuada e assume a caminho de desejar ter um pênis (inveja do pênis). “A menina se comporta diferentemente. Faz seu juízo e toma sua decisão num instante. Ela o viu, sabe que não o tem e quer tê-lo.” (p.281). Freud relata assim a formação de um complexo de masculinidade das mulheres que pode afetar o desenvolvimento da feminilidade. Tal fato pode levar a formação de uma psicose “Assim, uma menina pode recusar o fato de ser castrada, enrijecer-se na convicção de que realmente possui um pênis e subseqüentemente ser compelida a comportar-se como se fosse homem.” (p.282)
Dessa forma, uma das consequências da inveja do pênis é que a mulher pode desenvolver um sentimento de inferioridade após perceber a ferida feita contra seu narcisismo. Ao perceber que o caráter da castração é universal, a mulher começa a partilhar do sentimento de desprezo sentido pelos homens pelo seu sexo inferior, podendo, ao sustentar essa opinião, insistir em ser como um homem. Mesmo após a inveja do pênis perder seu objeto original, ela permanece existindo pela forma do ciúme
Uma outra consequência da inveja do pênis é o afastamento da relação afetuosa da menina com a mãe. A menina coloca a mãe como culpada por tê-la colocado no mundo com essa falta tão importante. Isso ocorre historicamente de forma que após descobrir que seus órgãos genitais são inferiores, a criança começa a sentir ciúme de outra, na medida em que acredita que sua mãe prefere a outra, assim abandonando sua ligação com a progenitora.
Segundo Freud, outro efeito da inveja do pênis, talvez o mais importante, é que as mulheres toleram menos a masturbação do que os homens, chegando a lutar contra ela. A masturbação seria então mais afastada da natureza das mulheres do que do homens, devido a ela ser uma atividade masculina e que a eliminação da atividade clitoriana seria uma precondição necessária para o desenvolvimento da feminilidade. Assim, seria necessário a passagem do clitóris a vagina para que ocorra a formação do feminino. O fato para a oposição da mulher a masturbação “Não pode ser outra coisa senão seu sentimento narcísico de humilhação ligado à inveja do pênis, o lembrete de que, afinal de contas, esse é um ponto no qual ela não pode competir com os meninos, e que assim seria melhor para ela abandonar a idéia de fazê-lo. Seu reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos força-a a afastar-se da masculinidade e da masturbação masculina, para novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade.”
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