As Representações Sociais
Por: Fonsecaa • 20/4/2019 • Resenha • 1.443 Palavras (6 Páginas) • 346 Visualizações
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
É na sociologia e na antropologia que estão as raízes da Teoria das representações sociais, especialmente nos autores Durkheim e Levi-Bruhl, no conceito de representação coletiva, usado como base para elaborar teorias sobre religião, magia e pensamento místico. Além desses autores, também contribuíram à Teoria das Representações Sociais, Saussure, com a Teoria da Linguagem, Piaget, com a Teoria das Representações Sociais Infantis, e Vygotsky, com a Teoria do Desenvolvimento Cultural (Moscovici, 1994, p.8).
Moscovici foi o pioneiro nos estudos das representações sociais, o conceito é mencionado pela primeira vez por ele em seu estudo Psychanalyse: Son Image Et Son Public, em que o autor abordou a representação social da Psicanálise, com o objetivo de compreender a ressignificação de um saber científico pelos grupos populares, com base no senso comum. Um dos fatores que o motivou a desenvolver o estudo das RS dentro de um trabalho científico foi sua crítica em relação aos pressupostos positivistas e funcionalistas das demais teorias que para ele não davam conta de explicar a realidade em outras dimensões, principalmente na dimensão histórico-crítica.
A teoria das RS vem sido empregada em vários trabalhos científicos e vários autores empenham-se para compreender mais e também contribuir para o seu desenvolvimento enquanto teoria.
As Representações Sociais são teorias do senso comum pelas quais se constrói uma realidade social. Essas representações sociais se comunicam entre si; são dinâmicas e refletem um determinado modo de compreender o mundo e de ver a vida. Segundo Moscovici estão presentes na nossa vida cotidiana, nas relações entre os indivíduos e nos meios de comunicação. Além disso, são representadas por um grupo de pessoas no qual cada indivíduo se comunica por meio do seu conhecimento, opiniões, crenças e ideias referentes a um determinado assunto. Por serem dinâmicas, levam os indivíduos a produzir comportamentos e interações com o meio, ações que, sem dúvida, modificam os dois.
De Rosa (1994) distingue entre três níveis de discussão e análise das RS:
⦁ Nível fenomenológico que diz que as RS são um objeto de investigação e esses objetos são elementos da realidade social, modos de conhecimento, saberes do senso comum que surgem e se legitimam na conversação interpessoal cotidiana e têm como objetivo compreender e controlar a realidade social.
⦁ Nível teórico - é o conjunto de definições conceituais e metodológicas, construtos, generalizações e proposições referentes às RS.
⦁ Nível metateórico - é o nível das discussões sobre a teoria. Neste colocam-se os debates e as refutações críticas com respeito aos postulados e pressupostos da teoria, juntamente a uma comparação com modelos teóricos de outras teorias.
Moscovici não apresentou um conceito definitivo de RS, por isso tentou defina-la da seguinte forma:
“Representações Sociais é um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais: podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum” (Moscovici, 1981, p. 181)
Denise Jodelet (2005) é uma importante autora que igualmente discute e analisa a construção de representações sociais, demonstrando que essas representações estão entre nós e que os efeitos simbólicos do cotidiano, em que se manifestam os saberes e as práticas dos sujeitos, demanda uma compreensão de que o registro simbólico expressa, não apenas um saber sobre a realidade, mas também sobre as identidades, as tradições e as culturas que dão forma a um modo de viver. Para ela entre os ideais que norteiam a busca pela mudança, e a realidade dura da prática, há uma lacuna não pensada.
A autora conceitua Representações Sociais como “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (JODELET, 1989, p. 36).
Uma das principais vantagens desta teoria é sua capacidade de descrever, mostrar uma realidade, um fenômeno que existe, do qual muitas vezes não nos damos conta, mas que possui grande poder mobilizador e explicativo. Ou seja, tornar familiar algo até então desconhecido, com a possibilidade de classificarmos e dar nome a novos acontecimentos e ideias, assimilando esses fenômenos a partir de uma gama de ideias, valores e teorias que existem e são aceitas no meio social.
Por isso, é importante estuda-la para que possa compreender e identificar como ela atua na motivação das pessoas ao fazer determinado tipo de escolha, como por exemplo, comprar, votar, agir, etc.
Existem dois processos formadores das Representações Sociais, sendo estes o processo de ancoragem e o processo de objetificação. Estes dois processos servem para familiarizar o desconhecido, isso acontece, pois tendemos a rejeitar o diferente, tudo aquilo que nos proporciona desconforto.
A ancoragem diz respeito ao processo pelo qual a ideia é trazida para o contexto do familiar, que a inclui na categoria de “imagem comum”. Nesse momento, é dado nome àquilo que não tinha nome, sendo possível imaginá-lo e representá-lo; ocorre a assimilação de imagens dadas pela objetivação, com a sedimentação de um registro simbólico. Pela nossa dificuldade em aceitar o estranho e o diferente, este é muitas vezes percebido como “ameaçador”.
Já a objetivação é o processo pelo qual procuramos tornar concreto, visível, uma realidade, ou seja, é essencialmente uma operação formadora de imagens, o processo através do qual noções abstratas são transformadas em algo concreto, quase tangível. Procuramos aliar um conceito com uma imagem, descobrir a qualidade icônica, material, de uma ideia, ou de algo duvidoso. A imagem deixa de ser signo e passa a ser uma cópia da realidade.
É importante salientar que existem diferenças entre o enfoque dado à psicologia social americana e o enfoque europeu. A psicologia social que floresceu nos EUA é uma Psicologia essencialmente cognitivista, que foi exportada para a Europa (e América do Sul). Ao florescer em solo norte-americano, a psicologia social do pós-guerra alimenta-se de uma visão individualista específica de sua cultura, o que Farr (1994) denomina de psicologia social psicológica, enfraquecendo a vertente mais interdisciplinar com a sociologia que se chama de psicologia social sociológica.
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