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DIFERENÇA E TOLERÂNCIA: POR UMA TEORIA MULTICULTURAL DA EDUCAÇÃO

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Por:   •  15/3/2014  •  5.061 Palavras (21 Páginas)  •  281 Visualizações

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DIFERENÇA E TOLERÂNCIA:

POR UMA TEORIA MULTICULTURAL DA EDUCAÇÃO

GT 14 – Sociologia da Educação

Marcelo Gustavo Andrade de Souza (PUC-Rio)

Este trabalho está baseado na minha Dissertação de Mestrado em Educação que contou com o financiamento do CNPq.

1. INTRODUÇÃO:

A reflexão a cerca da relação entre educação escolar e diversidade cultural é relativamente nova e tem se dado muito mais no âmbito da produção teórica do que das práticas pedagógicas propriamente ditas. O desenvolvimento do tema tem sido possível principalmente devido à aproximação dos estudos do campo educacional com outras áreas do saber que se dedicam mais especificamente ao tema da cultura, tal como a Sociologia da Cultura, a Antropologia e os Estudos Culturais .

O fracasso escolar tem sido uma das principais temáticas para a origem da discussão em torno de uma maior aproximação entre educação e cultura/s. Em várias partes do mundo, tem se constatado que crianças oriundas de grupos minoritários, ou seja, crianças social, cultural ou etnicamente marginalizadas, têm um rendimento escolar inferior a média das crianças de grupos culturalmente dominantes em uma sociedade.

Neste sentido, são muitas as vozes que afirmam ser extremamente necessário, no âmbito da teoria e da prática pedagógica, que se entenda o porquê desse fenômeno, ou que pelo menos a diversidade cultural e a dificuldade da escola em tratá-la sejam levadas em conta, tanto na discussão sobre o desempenho acadêmico desses grupos quanto na busca das possíveis soluções.

Creio que para entrarmos nesta discussão um exercício de precisão conceitual não pode ser deixado de lado, ou seja, é imprescindível que se explicite com que conceito de cultura se está trabalhando, a fim de se evitar conclusões limitadas.

Nesta perspectiva, este trabalho visa apresentar algumas definições acerca do conceito de cultura; analisar alguns desafios apresentados pelo multiculturalismo, enquanto um fenômeno de nosso tempo; situar o tema da tolerância e o respeito à diferença como uma problemática que aproxima a educação das preocupações multiculturais e examinar alguns desdobramentos e possíveis conclusões sobre a relação educação-cultura/s.

2 – CULTURA: ENTRE DEFINIÇÕES E AMBIGÜIDADES.

Entender e definir cultura são questões bem vivas nos tempos atuais. Trata-se de uma legítima preocupação em compreender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas atuais relações de poder e aos diferentes modos de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos da natureza, de conceber, significar e expressar a realidade.

Se nos detivermos no uso enciclopédico da palavra cultura, veremos que ela significa ato, efeito ou modo de cultivar, ou seja, o ato de cuidar, zelar tratar de algo. Num primeiro momento, o uso do conceito esteve restrito ao mundo da agricultura, a criação ou procriação de plantas e animais. No entanto, como sabemos, a palavra cultura também tem seu uso como cultivo do espírito humano, como refinamento de hábitos, modos ou gostos. O que a princípio designava apenas o cultivo agrícola, passa ao campo semântico do saber, do conhecimento, da erudição intelectual, da formação ou educação do espírito. (CUCHE, 1999:20). Daí, no imaginário social, a noção de cultura estar fortemente vinculada ao mundo das artes, das letras e do grau de instrução formal logrado, significando, muitas vezes, o domínio de hábitos que, supostamente, expressam fineza ou civilidade.

Atualmente, podemos dizer que uma visão antropológica do conceito visa romper com esta concepção de cultura, como patrimônio artístico e intelectual das elites, ampliando esta visão do senso comum, que é bastante limitada sobre um termo que é amplo e, às vezes, de entendimento complexo.

Segundo LARAIA (1986:28), Tylor foi o primeiro a definir cultura numa formulação do ponto de vista antropológico em sua obra “Primitive Culture”, de 1871. “Tylor definiu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje”.

Cumpre registrar que o conceito surge com uma forte tendência etnocêntrica e que Tylor não estava diretamente preocupado com o tema da diversidade:

Mais do que preocupado com a diversidade cultural, Tylor a seu modo preocupa-se com a igualdade existente na humanidade. A diversidade é explicada por ele como o resultado da desigualdade de estágios existentes no processo de evolução. Assim, uma das tarefas da antropologia seria a de ‘estabelecer, grosso modo, uma escala de civilização’, simplesmente colocando as nações européias em um dos extremos da série e em outro as tribos selvagens, dispondo o resto da humanidade entre dois limites. (LARAIA, 1986:33)

Já em 1896, Franz Boas apresenta fortes críticas ao evolucionismo presente nos então denominados métodos comparativos em antropologia e fornece as primeiras reflexões ao que podemos chamar hoje de antropologia cultural moderna, mais preocupada com as características sócio-culturais dos grupamentos humanos (LARAIA, 1986:36). Com Boas, o tema da diferença entra definitivamente no campo dos estudos antropológicos.

Toda a obra de Boas é uma tentativa de pensar a diferença. Para ele, a diferença fundamental entre os grupos humanos é de ordem cultural e não racial. (...) Para ele, não há diferença de ‘natureza’ (biológica) entre primitivos e civilizados, somente diferenças de cultura, adquiridas e logo, não inatas. (CUCHE, 1999:40 e 41)

Nesta breve reflexão sobre o conceito de cultura, é indispensável registrar a importante contribuição de Malinowski, que, segundo CUCHE (1999:73), teve o mérito de “demonstrar que não se pode estudar uma cultura analisando-a do exterior, e ainda menos a distância”.

Não se satisfazendo com a observação direta ‘em campo’, ele sistematizou o uso do método etnográfico chamado de ‘observação participante’ (expressão criada por ele), único modo de conhecimento em profundidade da alteridade cultural que poderia escapar do etnocentrismo. (CUCHE, 1999:74)

É importante também registrar a contribuição de Raymond Williams e a sua influência nos chamados Estudos Culturais. Para ele, “a cultura deveria ser entendida como o modo de vida global de uma sociedade, como experiência vivida de qualquer agrupamento humano” (SILVA, 1999:131). Esta definição de cultura, no sentido antropológico,

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