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Em Busca Das Origens Desenvolvimentais Dos Transtornos Mentais

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Por:   •  13/5/2014  •  5.431 Palavras (22 Páginas)  •  509 Visualizações

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Em busca das origens desenvolvimentais dos transtornos mentais*

Guilherme V. Polanczyk

Psiquiatra da Infância e Adolescência, Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS. Mestre e Doutor em Psiquiatria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. Pós-doutorando, Social, Genetic and Developmental Psychiatry Centre, Institute of Psychiatry, King's College, Londres, Reino Unido e Department of Psychology and Neuroscience, Duke University, Durham, EUA.

Endereço para correspondência

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RESUMO

INTRODUÇÃO: A psicopatologia desenvolvimental é uma disciplina que integra perspectivas epidemiológicas, sociais, genéticas, desenvolvimentais e de psicopatologia para entender as origens e o curso dos transtornos mentais. Neste artigo, são discutidos abordagens e conceitos utilizados para compreender as origens desenvolvimentais dos transtornos mentais.

RESULTADOS: A psicopatologia desenvolvimental entende que os transtornos mentais são possíveis desfechos do processo de desenvolvimento e são dependentes de influências sociais, genéticas e ambientais. Esses diversos fatores estão inter-relacionados de diferentes formas e em diferentes níveis, exercendo um efeito dimensional. São discutidos: a) abordagens para determinar causalidade entre eventos ambientais e transtornos mentais; b) a importância de entendimento dos mecanismos biológicos através dos quais fatores ambientais e genéticos atuam; c) fatores genéticos predizendo a exposição a estressores ambientais; e d) fatores genéticos moderando o efeito de estressores ambientais.

CONCLUSÕES: As origens dos transtornos mentais podem ser iluminadas por dados de estudos que utilizam enfoques e conceitos complementares e que integrem influências sociais, genéticas, ambientais e desenvolvimentais.

Descritores: Psicopatologia desenvolvimental, transtornos mentais, origens, interação gene-ambiente, correlação gene-ambiente.

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Introdução

A psicopatologia desenvolvimental é um campo do conhecimento dinâmico e em evolução, que tomou forma a partir do livro de Thomas Achenbach,Developmental Psychopathology1, publicado em 1974, e se desenvolveu principalmente a partir dos trabalhos de Sroufe2, Cicchetti3 e Rutter4, entre outros. A psicopatogia desenvolvimental integra perspectivas sociais, genéticas e desenvolvimentais e testa suas hipóteses através de métodos epidemiológicos e estatísticos específicos, buscando entender as origens e o curso dos transtornos mentais4.

Inicialmente, a ênfase no processo de desenvolvimento era utilizada especialmente para enteder os transtornos mentais da infância5. Com a progressão do campo, estudos passaram a mostrar que existe uma importante continuidade dos transtornos entre a infância, adolescência e idade adulta, e que grande proporção dos adultos com transtornos mentais os apresentava já na adolescência6. Assim, psiquiatras de adultos também passaram a adotar uma abordagem desenvolvimental para entender as origens dos transtornos atuais de seus pacientes7,8. De fato, resultados de pesquisas com abordagem desenvolvimental, que integram epidemiologia, genética, neuropsicologia e estudos de neuroimagem, têm mostrado grande potencial para o entendimento das origens dos transtornos mentais9.

Pode-se entender a psicopatologia desenvolvimental como um modelo conceitual, a partir do qual estratégias de pesquisa são desenhadas, observações são interpretadas e teorias subsequentes são geradas. Nesse sentido, a psicopatologia desenvolvimental é uma das possíveis lentes através da qual a psicopatologia pode ser vista. Neste artigo, são discutidos conceitos e abordagens utilizados por esse modelo para compreender como e por que determinados indivíduos desenvolvem transtornos mentais. Inúmeros artigos de revisão sobre diferentes aspectos dessa disciplina2-4,10-13 foram publicados, assim como um livro texto com mais de 3.000 páginas14. Portanto, o objetivo deste artigo é estimular que o leitor considere esta abordagem na sua busca individual por ferramentas para entender o processo de desenvolvimento dos transtornos mentais.

Quais são os conceitos e abordagens desenvolvimentais que nos auxiliam a entender a origem dos transtornos mentais?

Os investigadores dessa área privilegiam diferentes abordagens e conceitos, mas convergem no entendimento de que os transtornos mentais são possíveis desfechos do processo de desenvolvimento12. Convergem também no conceito de que os transtornos mentais surgem a partir de interrelações dimensionais, complexas, em múltiplos níveis, entre características específicas do indivíduo (fatores biológicos, genéticos e psicológicos), características ambientais (cuidado parental, relacionamentos interpessoais, exposição a eventos estressores) e sociais (rede de apoio social, vizinhança, nível socioeconômico)4,14. Quatro conceitos que norteiam abordagens desenvolvimentais merecem destaque.

Primeiro, a psicopatologia desenvolvimental assume que há continuidade no processo de desenvolvimento dos transtornos mentais, ou seja, o efeito de experiências prévias é levado adiante ao longo do desenvolvimento. Assim, a identificação de descontinuidades nesse processo caracteriza-se em uma importante oportunidade para melhor entendê-lo2. Segundo, há uma tendência inata de os indivíduos de se adaptarem ao seu ambiente; se esse é patológico, é provável que a adaptação também o seja11. Terceiro, idade e momento do desenvolvimento são fatores fundamentais a partir dos quais todos os outros fatores devem ser entendidos11. Quarto, comportamentos mal adaptativos ou transtornos mentais devem ser interpretados frente ao contexto onde o indivíduo encontra-se inserido. Os últimos dois conceitos privilegiam a ideia de que o processo de desenvolvimento de transtornos mentais é específico, ou seja, os mecanismos causais têm resultados diferentes conforme a idade, o momento do indivíduo e o contexto familiar ou social4.

Como desfechos possíveis do processo de desenvolvimento12, os transtornos mentais não seriam necessariamente categorias distintas, mas sim trajetórias desenvolvimentais dimensionais10. Como uma complexa

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