Estratégia de pesquisa e conceitos fundamentais de Piaget
Relatório de pesquisa: Estratégia de pesquisa e conceitos fundamentais de Piaget. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: san_machado • 23/9/2013 • Relatório de pesquisa • 6.518 Palavras (27 Páginas) • 422 Visualizações
PIAGET
Introdução
Estratégia de pesquisa e conceitos fundamentais de Piaget
Jean Piaget, professor da Universidade de Genebra, é sem dúvida o autor e o teórico mais produtivo deste século, no que se refere ao desenvolvimento da criança. Nascido em 1896, Piaget doutorou-se, em 1918, em ciências biológicas. No entanto, mesmo nessa época estava interessado em processos de desenvolvimento. A partir de suas experiências com testes e do estudo do processo de raciocínio de crianças criou sua primeira pesquisa sobre psicologia do desenvolvimento, publicada em 1921. Depois, foi-lhe oferecido o cargo de diretor de estudos no Instituto Jean Jacques Rousseu de Genebra; a partir de então, continuou nesse cargo. Piaget tem também o principal cargo no centro de Epistemologia Genética de Genebra. Sob sua direção, surgiram volumes seguidos de pesquisas empíricas e discussão teórica, muito dos quais confirmando resultados que eram, não apenas originais, mas tão surpreendentes que chegavam a ser quase inacreditáveis.
Nos Estados Unidos, por volta de 1930, houve uma onda de interesse por seu trabalho, depois esse interesse diminui durante aproximadamente vinte anos, antes de ser revivido por volta de 1955. Atualmente, existem muitos trabalhos de pesquisa, estimulados por suas idéias teóricas ou por suas provocantes descobertas empíricas.
Esquema biológico
A forma de Piaget estudar os problemas da psicologia reflete sua formação em biologia. No entanto, isso não significa que busque explicações fisiológicas do comportamento humano. Na realidade, em seus trabalhos parece não ter preocupação com a possível base fisiológica dos mecanismos psicológicos por ele supostos. Sua formação biológica revela-se de outra forma.
Um dos interesses centrais da biologia é a explicação da adaptação e desenvolvimento das estruturas biológicas. Para um naturalista, é ao mesmo tempo, evidente e extraordinário observar como as várias espécies da fauna e da flora são bem ajustadas para atender as exigências ambientais de seu habitat e para explorar os recursos deste. O mais extraordinário é observar a forma pela qual as estruturas adaptativas muitas vezes se desenvolvem, a partir do material mais inverossímil. Por exemplo, as partes curiosamente conformadas de nossos corpos, que denominamos ouvidos, são muito importantes para nos ajudar a localizar a direção de onde vem o som. Sabemos que se desenvolveram, através da evolução, de um dos arcos da guelra do peixe. Esse engenhoso uso de uma estrutura que tem uma função, para objetivo muito diferente, depois de a função original ter ficado obsoleta, certamente parece uma solução inteligente do problema. Um biólogo deve perguntar: como é que ocorre essa adaptação inteligente? Um biólogo que se tomou psicólogo está, por sua experiência, sensibilizado para a existência de tipos semelhantes de mecanismos adaptativos nos seres humanos.
Os biólogos também ficam impressionados com as inter-relações complexamente padronizadas entre a flora, a fauna e os recursos de uma região. Tudo ocorre como se houvesse algum tipo de pressão, para que uma espécie se desenvolvesse, a fim de preencher qualquer nicho no ambiente que poderia permitir a vida. Um exemplo notável desta tendência pode ser encontrado na comparação entre a vida animal da Austrália e a de outros países. A Austrália tem um grande número de animais marsupiais- os que se assemelham a gambás e cangurus- cujos filhos nascem num estágio de grande imaturidade e crescem em bolsas externas e não em úteros internos. Em outros continentes, quase todas as espécies de marsupiais desapareceram, mas na Austrália existe grande número deles, aparentemente porque o continente, em época relativamente distante, ficou isolado de outras grandes massas de terra. De qualquer forma, na Austrália os marsupiais se desenvolveram de maneira que se assemelham a espécies externamente análogas de outros continentes. Existem grandes animais marsupiais de rebanho, que se alimentam em pastos, pequenos marsupiais que vivem em tocas e se alimentam de raízes, como ratos e camundongos, marsupiais que se assemelham a esquilos e moram em árvores, marsupiais semelhantes a lobos que vivem apenas de carne, toupeiras e mussaranhos marsupiais. Quase todo grupo de mamíferos tem seu correspondente entre os marsupiais que, no entanto, devem ter-se desenvolvido de maneira independente.
Tais exemplos sugerem que muitas estruturas biológicas são de certo modo estimuladas para mudanças evolutivas, que ajustam a vida de unia área à sua geografia e ao seu clima. Dentro dessa adaptação existem muitos equilíbrios e reequilíbrios, recursos reguladores e reações a regulações. A disponibilidade de alimento corresponde, aproximadamente, a disponibilidade de consumidores, os predadores reduzem a população que sobrecarregaria a disponibilidade de alimentos, etc. A interpretação, que Piaget dá ao comportamento de um ser humano, assemelha-se a essa imagem de um sistema complexo, mutuamente regulador e em equilíbrio.
Piaget transfere dois aspectos da evolução biológica as suas teorias do desenvolvimento do indivíduo. Um é o ajustamento contínuo de antigas estruturas a novas funções, e o desenvolvimento de novas estruturas para preencher, sob circunstâncias diferentes, funções antigas. O desenvolvimento esta solidamente enraizado, no que já existe, e apresenta continuidade com o passado. Ao mesmo tempo, as estruturas se transformam, a fim de ajustar-se a novas exigências. Em segundo lugar, tais adaptações não se desenvolvem isoladamente. Todas formam um padrão coerente, de modo que a totalidade da vida biológica se adapta a seu ambiente. Embora cada espécie esteja adaptada a seu ambiente, a natureza específica de sua adaptação é uma função, não apenas de sua natureza, mas do sistema total. Na biologia essa espécie de equilíbrio dinâmico da flora e da fauna pode ser explicada sem violar o princípio da ciência natural, segundo o qual a adaptação teleológica precisa basear-se em mecanismos que atuam segundo leis casuais.
Piaget aplica esse ponto de vista biológico a sua teoria a respeito do comportamento humano. Tenta identificar as estruturas de cada nível de idade e mostrar como se adaptam mutuamente as exigências ambientais, e como, por sua vez, modificam o que o ambiente exige. Por exemplo, quando a criança anda, é capaz de atingir objetivos que de outra forma seriam inatingíveis. Ao mesmo tempo, o fato de andar coloca a criança numa posição em que pode ter objetivos que de outra forma não teria. A inter-relação, entre todo o padrão, é exemplificada pelo fato de
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