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Evoluções do conceito de transferência

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Por:   •  15/10/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.325 Palavras (14 Páginas)  •  224 Visualizações

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I – Evoluções do conceito de transferência.

Sabemos que as bases freudianas da transferência apóiam-se em conceitos que, para guardar coerência, devem ser correlacionados ao corpo mais amplo da teoria. Desta maneira, a noção de transferência em Freud deve estar sempre conjugada com as noções de recalcamento da sexualidade e suas vicissitudes, com a noção de inconsciente e resistência etc. A transferência é exatamente o retorno do recalcado que se atualiza na relação psicanalítica através da reedição de experiências pretéritas na figura do analista. Retorno esse que se atualiza também nos sintomas dos pacientes neuróticos e na vida quotidiana através dos sonhos, dos atos falhos e chistes.

Com M. Klein, ao estabelecer a noção de Posições (1934) e especialmente da noção de Posição Esquizo-Paranóide (PS), a observação psicanalítica deixa de lado a noção de inconsciente recalcado e passa a lidar com mecanismos relativos a fenômenos até então estranhos à clínica analítica, elaborando conceitos novos como cisão e identificações projetivas (IP) de conteúdos do mundo interno (MI) para o interior do objeto. Já vimos a importância da noção de MI, do campo da experiência emocional que se organiza a partir das relações de objeto, das angústias, fantasias e defesas estruturadas segundo a noção de posições Esquizo-Paranóide (PS) e Depressiva (PD). O conceito freudiano clássico de transferência evolui para a noção de identificação projetiva formulada em 1946 por Klein. Essa evolução se torna possível a partir da percepção de aspectos primitivos da personalidade, seja na área do desenvolvimento emocional das crianças, seja na área das perturbações psicóticas. Destaca-se aqui uma visão microscópica do funcionamento mental na qual ganham realce e operatividade o caráter identificatório (indiscriminação self-objeto) das relações de objeto projetivas e introjetivas. Assim, a noção de transferência em Klein contém o interjôgo das projeções e introjeções em sua dimensão identificatória. Desenvolve-se a concepção de transferência como situação total (Klein e Beth Joseph).

Alguns kleinianos introduziram a noção de “transferência psicótica” (uma incongruência conceitual?), no cuidado com pacientes esquizofrênicos, ao tentaram aplicar a noção de identificação projetiva aos aspectos da transferência clássica. Pensamos que para haver integração de conceitos é importante que se faça sua discriminação no interior de seu corpo conceitual mais amplo.

De modo análogo, a noção de contratransferência se constituiu em instrumento de pesquisa para muito analista da escola inglesa, ao utilizarem as próprias respostas emocionais como meio de acesso ao inconsciente do paciente. Instalam-se, então, as bases das controversas britânicas, na época da II Guerra, em meados do século passado. Mas, hoje, ainda há o uso ampliado do conceito de contratransferência, trazendo dúvidas e confusões conceituais.

As expansões conceituais descritas acima permitiram a passagem da transferência clássica à noção de identificação projetiva e à consideração da transferência como situação total, e forneceram instrumentos de acesso ao funcionamento mental para além das neuroses. Com as noções de mundo interno, relações de objeto parciais e totais, ansiedades precoces e posições PS e PD. resgatou-se a importância do campo das experiências emocionais no trabalho analítico e emergiu, então, a questão polêmica do uso da contratransferência.

II – Evoluções do conceito de Contratransferência.

Freud não se interessou tanto pela questão da contratransferência, a não ser para destacar seu aspecto negativo e indesejável no trabalho analítico.

“Não devemos abandonar a neutralidade para com o paciente, quando a adquirimos por manter controlada a contratransferência” (Freud, 1915).

Já em texto anterior, “Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise” (1912), podemos identificar sua genial intuição ao apreender que os conteúdos inconscientes do paciente podem se captados pelo analista de forma singular:

“...o médico deve voltar seu próprio inconsciente, como um órgão receptor, na direção do inconsciente transmissor do paciente”. Destaca-se, a metáfora do telefone: “O médico deve ajustar-se ao paciente como um receptor telefônico se ajusta ao microfone transmissor. Assim, como o receptor transforma de novo em ondas sonoras as oscilações elétricas na linha telefônica que foram criadas por ondas sonoras, da mesma maneira, o inconsciente do médico é capaz, a partir dos derivados do inconsciente que lhe são comunicados, de reconstruir esse inconsciente que determinou as associações livres do paciente”

Freud jamais propôs o uso da contratransferência no trabalho clínico, embora hoje podemos admitir que suas observações acima indicavam uma percepção das variações desse uso no trabalho analítico no futuro da psicanálise. Ele sempre insistiu na necessidade de reduzir manifestações contratransferências pela análise pessoal do analista, que deveria manter-se em atitude de abstinência e neutralidade frente ao paciente. A situação analítica deveria ser estruturada como uma superfície projetiva, na qual se destacaria apenas a transferência do paciente:

“As outras inovações na técnica relacionam-se com o próprio médico. Tornamo-nos cientes da ‘contratransferência’ que nele surge como resultado da influência do paciente sobre seus sentimentos inconscientes e estamos quase inclinados a insistir que ele reconhecerá a contratransferência em si mesmo e a sobrepujará.”

Mais além:

“ ...notamos que nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistência internas... “ (Freud, 1910).

“O médico deve ser opaco aos seus pacientes e, como um espelho, não lhes mostrar nada, exceto o que lhe é mostrado.” (Freud, 1912).

Ao notarmos em Freud um afastamento nítido ao uso da contratransferência no trabalho clínico, percebemos também em seu corpo teórico as raízes para uma experiência emocional até então não conceituada, mas que certamente iriam além da transferência e da contratransferência...:

“...todos possuem no seu próprio inconsciente um instrumento com que podem interpretar as expressões do inconsciente dos outros” Freud

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