Formação de conceitos

O objetivo principal do texto “Vygotsky e o processo de formação de conceitos” escrito pela Marta Kohl de Oliveira em 1994, é discutir a concepção de Vygotsky a respeito dos fatores biológicos e sociais no desenvolvimento psicológico. Sobre o processo de formação de conceitos as colocações de Vygotsky remetem a discussão das relações entre pensamento e linguagem, o assunto da mediação cultural no processo de construção de significados por parte do indivíduo, ao processo de internalização e ao papel da escola na transferência de saberes de natureza diferente do quais aprendidos na vida diária.

Oliveira (1994) traz a informação que dizer da perspectiva de Vygotsky é dizer da dimensão social do desenvolvimento humano. Focado principalmente nas funções psicológicas superiores. “A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem (Oliveira, p.24, 1994)”.

Os estudos de Vygotsky contemplam a dupla natureza do ser humano, participante de uma espécie biológica que só se desenvolve no interior de um grupo cultural. As proposições de Vygotsky referente a base biológica do funcionamento psicológico foram reforçadas e remodeladas sob forma de uma teoria neuropsicológica por A.R. Luria. É pois através dessa obra de Luria que é possível conhecer as conceções de Vygotsky referente a base biológica do desenvolvimento psicológico.

O entendimento de Vygotsky sobre o funcionamento cerebral humano baseia-se em sua idéia de que as funções psicológicas superiores são construídas no decorrer da história social do homem. Ele rejeitou, a idéia de funções mentais fixas e constantes, trabalhando com a perspectiva do cérebro como um sistema aberto, de grande plasticidade, com estruturas e modos de funcionamento são moldados com o passar da história da espécie e do desenvolvimento individual.

Durante os estágios iniciais do desenvolvimento as práticas mentais debruçam-se principalmente em funções mais elementares, em contra partida os estágios subseqüentes a participação de funções superiores passa a ser mais importante.

Essa diferença genética na atividade mental tem uma correspondência na organização cortical. Na criança pequena as regiões do cérebro responsáveis por processos mais elementares são mais fundamentais para seu funcionamento psicológico; no adulto, ao contrário, a importância maior é das áreas ligadas a processamentos mais complexos. (OLIVEIRA, p.26, 1994)

Umas das proposições centrais para a compreensão das concepções de Vygotsky referente ao desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação. “Enquanto sujeito de conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe (Oliveira, p. 26, 1994)”.

A atividade com sistemas simbólicos permite a efetuação de modos de pensamento que não seriam possíveis sem esses processos de representação e define o salto para os chamados processos psicológicos superiores, tipicamente humanos. Essas funções psicológicas superiores, baseadas na operação com sistemas simbólicos, são, pois formadas de fora para dentro do indivíduo.

No sistema simbólico, a linguagem humana na mediação entre sujeito e objeto de conhecimento, para Vygotsky tem duas funções elementares: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante. O uso da linguagem favorece, processos de abstração e generalização.

As palavras sendo elas signos mediadores na relação do homem com o mundo são, em si, generalizações: “cada palavra refere-se a uma classe de objetos, consistindo num signo, numa forma de representação dessa categoria de objetos, desse conceito (Oliveira, p. 28, 1994)”. Os conceitos são construções culturais, internalizadas pelas pessoas ao longo do seu desenvolvimento. O grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que vai conceder um conjunto de significados que ordena o real em categorias (conceitos), nomeadas por palavras da língua desse grupo.

        Desta forma Vygotsky focaliza seu interesse no processo de formação de conceitos, ou seja, em como se transforma no decorrer do desenvolvimento.  A partir de um experimento realizado por Vygotsky é proposto um percurso genético do desenvolvimento, em que o divide em três estágios. Sendo o primeiro pensamento sincrético: no primeiro diz que a criança forma um conjunto sincréticos, classificando os objetos com base em nexos vagos, subjetivos a partir de fatores perceptuais. O segundo estágio chamou de " pensamento por complexos", em que em um complexo as ligações entre seus componentes são concretas e factuais e não abstratas e lógicas." Um complexo, é, antes de mais nada, um agrupamento concreto de objetos unidos por ligações factuais" (Oliveira, 1994). O terceiro estágio levará a formação dos conceitos propriamente dito.

        Mas é importante ressaltar que para Vygotsky o percurso genético para o desenvolvimento do pensamento conceitual não é necessariamente contínuo, linear. Considerando que apesar dele propor os três estágios, ele afirma que não necessariamente o terceiro estágio apareça somente após o segundo estágio ter-se completado por inteiro. Oliveira (1994), cita que é como se houvesse duas linhas genéticas independentes que se unem num dado momento e permitem a emergência de conceitos genuínos.

        O pensamento por complexos permite a unificação de impressões desordenadas viabilizando generalizações, porém, só isso não é suficiente, para se falar em conceito, é necessário além da generalização também a abstração. Ou seja, a generalização é resultado de um emprego funcional da palavra. É  importante ainda perceber que a palavra é também um signo e pode ser aplicado de diferentes maneiras podendo servir como meio para diferentes operações intelectuais.