Freud e a educação
Por: Nina del Mouro • 1/5/2016 • Resenha • 2.777 Palavras (12 Páginas) • 2.764 Visualizações
KUPFER, M.C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo: 3ª ed. Scipione, 1997
Freud e a educação
Freud fora um pensador da cultura e da existência humana. Apesar de não ter um obra unicamente voltada para a temática da educação ele não à desprezou, pelo contrário, ao longo de sua produção teórica Freud versa a educação e o processo de aprendizagem com formação da subjetividade do indivíduo, e outros fatores concomitantes ao longo do desenvolvimento, bem como na influência da subjetividade dos sujeitos que se participam do processo.
A afirmação de Freud que “educar ao lado de governar e psicanalisar é uma profissão impossível” sugere uma análise mais profunda do conceito de educar para Freud colocando em questão o que é inerente ao sujeito e o que é fruto de influências externas.
A necessidade de compreendera história estudantil de Freud é de suma importância segundo Kupfer (1997), visto que o mesmo usou da sua própria experiência como base para suas reflexões acerca da educação. Freud desde criança fora o filho mais querido de sua mãe que o chamava de “meu Sigi de ouro”. O grande estímulo de seus pais para os estudos, em especial sua mãe, contribuíram pra que o mesmo desenvolvesse um alto grau de confiança, e o desejo de saber tomando para si o valor da educação para seus pais e os mantendo como ideais. Kupfer (2005, apud Mezan,1981) aponta também para outros fatores fundamentais para o interesse de Freud pela educação. Primeiramente pelo fato dos judeus terem grande afinco com os estudos, e este também ser a única forma de ascensão social, pois a família de Freud não dispunha de muitos recursos econômicos, e finalmente pelo fato de já existir o desejo de Freud de adquirir recursos para produção científica.
A relação de Freud com seus mestres serviram de base para reflexões influenciaram diretamente na sua formação como homem da ciência. Apesar do respeito e admiração para com os mestres, as relações rompiam-se em divergências teóricas nas quais Freud não concordava com alguns pressupostos de buscava superá-las. Em “Freud e a Educação” (1997), Kupfer relata que as rupturas com seus mestres como Brucke, Meynert, Charcot, Breuer, e Fliess, denotam um constante desejo de superação, e de criar algo novo, que até então estava impedido por algo inconsciente.
É somente com a compreensão de Freud que a relação de ruptura com os mestres estava relacionada com a uma forma de superação do próprio pai, que Freud pode tornar-se seu próprio mestre “...não podia liberta enquanto não admitisse para si mesmo que ser o próprio mestre não significava ocupar o lugar do pai junto a mãe. Assim primeiramente admitiu a superioridade “daquele que o fez” para, então aliviado e sem culpa, poder ser um criador” (KUPFER, 1997, p.29). Compreendendo essa relação Freud atinge o patamar de seu mestre e lança, não por coincidência o livro que inaugura a psicanálise.
A relação de Freud como mestre também fora marcada pela intensidade e pelos rompimentos reais como nos casos de suicídio de alguns de seus discípulos ou simbólicos, movidos por uma atração força máxima que mais tarde Freud de transferência.
Freud iniciou sua vida profissional como médico neurologista e nessa colocou-se a observar e buscar as origens das doenças em especial a histeria, muito recorrente na época e principalmente em mulheres. Suas observações o levaram a levantar a hipótese de que a histeria tinha origem sexual reprimida por ser algo insuportável para o ego. Inicialmente Freud assimila a condenação da sexualidade a educação como afirma Kupfer (1997, p.37) “...acreditava que as neuroses ligadas a distúrbios da sexualidade resultavam de práticas sociais impingidas pela moral vitoriana de seu tempo...”. Uma educação menos autoritária seria a proposta por Freud na época para evitar a neurose.
Entretanto os relatos de sedução por parte de adultos na infância das pacientes histéricas levam Freud a descoberta da sexualidade infantil, visto que inicialmente acreditou tratar-se de abusos sexuais, mas a reincidência corroborou para que Freud levantar a tese de ser uma fantasia de sedução, e que as pulsões sexuais constituem o indivíduo desde a infância.
As pulsões sexuais são inerentes a natureza perversa do indivíduo, que serão reprimidas e destinadas a procriação, prazeres relacionados a sucção oral, ligados a defecação, exibicionismos entre outros são marcas que poderão estar presentes na sexualidade como forma de prazer. Tais aspectos perversos presentes na sexualidade infantil são denominados por Freud como pulsões parciais que são: pulsão oral, anal e escópica. Entretanto a criança, não possui interesse genital e estas pulsões circulam livremente, pois não há um objeto para direcioná-la.
É a partir desta afirmação que Freud propõe que as pulsões sexuais podem ser destinadas a fins não necessariamente sexuais, mas para caminhos sociamente aceitos e úteis por meio da sublimação como exemplifica Kupfer (1997, p. 42) “São elas a produção científica, artística e todas aquelas que promovem um aumento do bem-estar e da qualidade de vida dos homens.”
Relacionando a sublimação das pulsões com a educação, Freud coloca o papel do professor como facilitador da sublimação, entretanto não trata-se de uma forma de desenraizar o “mal”, idéia que permeava o pensamento de pedagogos da época que viam na criança um mal originário, ao contrário, via a na sublimação uma forma de canalizar esse “mal” em direção a valores superiores e na produção de bens culturais para a sociedade. Em sua obra não cria um método para auxiliar na sublimação, visto que isto estaria a cargo dos educadores. Kupfer (1997) faz exemplo de uma criança que gosta de brincar com fezes, neste caso um professor poderia oferecer argila, para substituição, ao invés de ameaçar com castigos ou punições.
Freud afirma que “Sem perversão não há sublimação” e “Sem sublimação não há cultura”. Entretanto por mais que o professor seja um facilitador, a sublimação pertence ao campo do inconsciente, ou seja, não poderá ser manipulada, todavia, não trata-se na uma atividade impossível, pois em 1908 afirma: “o educador é aquele que deve buscar para seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual –inerente à ação das pulsões sexuais- e as necessidades sociais- a repressão e a sublimação dessas pulsões.” KUPFER(1997, p, 45-46)
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