Freud e o Mal estar na Civilização
Por: Marcos Oliveira • 23/12/2023 • Resenha • 1.463 Palavras (6 Páginas) • 89 Visualizações
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Aluno: Marcos Aurélio Moraes de Oliveira
Professora: Talita Baldin
Disciplina: Clínica Psicanalítica (Regime especial) – VA2
Considerações sobre o Mal-Estar na Civilização
De acordo com Freud (2010), em seu texto “O mal estar na civilização”, a condição existencial humana na civilização é uma condição de mal-estar, sendo o resultado de uma tensão entre os nossos impulsos mais primitivos, principalmente os impulsos voltados a sexualidade e a agressividade, tendo a necessidade de repressão desses impulsos para que haja uma vida coletiva, uma vida civilizada.
A vida comunitária pressupõe que a vontade da maioria prevaleça sobre a vontade individual. Para isso é preciso estabelecer leis que garantam os interesses coletivos sobre os interesses individuais. E isto é a base da civilização. Para Freud, a civilização surge a partir de um pacto onde as vontades individuais imediatas não poderão ser satisfeitas.
Em troca o pacto oferece segurança da vida em comunidade. Em princípio, esse pacto parece ser vantajoso, contudo, nossos processos psíquicos mais inconscientes se perturbam diante deste fato, parecem rejeitar abrir mão de sua liberdade em troca de segurança. A repressão desses impulsos sexuais e agressividades pelo processo civilizatório, causam esse mal-estar.
Freud descreve em seu argumento sobre uma fonte de sofrimento psíquico anterior a esse mal estar resultante do conflito entre nossos impulsos e as regras civilizatórias. Há uma fonte primária, organizada em nossa primeira infância, chamada de desamparo fundamental. Assim que o bebê nasce ele não diferencia o seu eu do mundo externo, não fazendo diferença entre o próprio corpo e o corpo da mãe, criando uma primeira percepção de impotência absoluta.
Com o desenvolvimento, esse bebê vai começando a ter noção dos limites do próprio corpo, desenvolvendo a consciência da fragilidade do corpo e do mundo externo como uma ameaça, começando a idealizar figuras que podem protegê-las dessas ameaças, como seus pais. O desamparo fundamental são todos esses acontecimentos que caracterizam a primeira experiência psíquica.
Para Freud, com a destituição dessas figuras paternas, que acontecem naturalmente com o crescimento desse indivíduo, e diante de questões tão profundas como a morte, a religião passa ocupar esse lugar de apoio para o homem, porém, com mais ingerência que aquelas figuras iniciais, pois tem o poder salvá-lo da morte. Existe uma fonte de mal-estar que persegue a humanidade desde os primórdios, a necessidade de descobrir o sentido da vida.
Freud afirma que o sentido da vida é a felicidade, no sentido de que aparentemente todos os seres humanos vivem de modo a evitar sensações de desprazer e aumentar as possibilidades de se sentir prazer, nomeando essa afirmação como o princípio do prazer. O sentido da vida é responder a esse princípio que Freud entende como sendo uma economia da nossa energia vital (libido), que tenderia a criar condições para se sentir prazer, com o propósito de compensar a nossa experiência fundamental de desamparo, de mal estar.
Freud entende que o princípio do prazer é algo momentâneo, parcial, constitui-se de momentos de prazer, nosso estado regular é de mal estar, de angústia, de inadequação, de medo. O princípio do prazer equilibra três fontes de sofrimento psíquico fundamentais. A primeira é o nosso próprio corpo, a percepção de fragilidade desse corpo, que desde a infância percebe-se a sua desintegração pelas doenças e pelo envelhecimento. A Segunda fonte está ligada diretamente ao mundo externo, pois o corpo recebe o impacto direto dos perigos desse mundo. A terceira são as relações humanas, visto que, os seres humanos estão acostumados com o sofrimento, fazendo-os construir um plano de vida a fim de evitar o sofrimento, diante das tragédias e perigos da vida.
Ao longo da história da civilização foram desenvolvidas várias formas de se viver o princípio do prazer, na intensão de equilibrar esse mal estar, como por exemplo, a vida eremita, as fantasias mentais como um processo cotidiano para se fugir do sofrimento, os entorpecentes, a própria religião. Embora existam essas técnicas tradicionais, não existe um caminho único, cada um precisa encontrar a sua maneira de equilibrar a vivência com o mal-estar e o princípio do prazer, pois cada ser humano possui uma constituição diferente, devida a questões histórias, formação familiar e psicológica.
Segundo Freud, a civilização exige muito mais do que realmente precisa para uma vida pacífica. A vida em comunidade exige uma quantidade de regras e valores a serem seguidos e em alguns momentos até sádicos. É importante considerar que Freud está retratando um período social de grande repressão em várias áreas. É importante entender que para Freud, as repressões civilizatórias, são as fontes primordiais das nossas neuroses, que são estruturas psíquicas regulares. Todos nós em alguma medida somos neuróticos, devido a essas repressões civilizatórias às nossas pulsões sexuais.
Freud afirma que o modelo judaico cristão de comportamento sexual, que foi construído ao longo da história do ocidente é simplesmente impraticável, em decorrência disso, as pessoas desenvolveram formas de burlar essas prescrições sexuais, e mesmo as que seguem, de alguma forma, até mesmo no imaginário, não cumprem. Mesmo com o afrouxamento das regras na atualidade, esse tema constitui-se num campo hostil, de competição, de agressividade, e de muita repressão. Apesar disso, para Freud a repressão sexual é um dado definitivo para que possa haver civilização, sem o estabelecimento de certas regras nítidas sobre a liberdade sexual é impossível que haja vida social e cultural em coletividade.
Outra questão que Freud aborda, faz referência ao mandamento antigo que diz: “Ame ao seu próximo ao a si mesmo”. Embora o cristianismo traga pra si a autoria da afirmação, Freud diz que descrições éticas similares a essa já existiam bem antes do cristianismo. Um preceito nobre e digno que em algum momento da nossa existência nos foi ensinado. Freud mostra a inviabilidade dessa prática diante das diferentes manifestações do relacionamento humano, sendo até, de certa forma perigosa para o indivíduo.
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