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O IMPACTO DA NATURALIZAÇÃO DO MACHISMO NOS MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E A POTÊNCIA DO FEMINISMO COMO DESLOCAMENTO DESSA LÓGICA

Por:   •  22/2/2019  •  Trabalho acadêmico  •  2.932 Palavras (12 Páginas)  •  196 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

Nome: Camila Hogetop, Kelli Kraemer, Patrícia Abreu e Priscila de Melo  

Disciplina: Psicologia Institucional

Professor: Fábio Moraes                                Data: 22 de junho de 2016

O IMPACTO DA NATURALIZAÇÃO DO MACHISMO NOS MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E A POTÊNCIA DO FEMINISMO COMO DESLOCAMENTO DESSA LÓGICA

Uma Releitura de “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago

INTRODUÇÃO

O presente trabalho buscará analisar o impacto do machismo nos modos de subjetivação, a partir da obra “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago, publicado em 1995. O grupo se vê implicado para trabalhar com esse tema, uma vez que é constituído apenas por mulheres. Concordamos com Cortes et al [2016], quando esta afirma que o machismo está presente na cultura de praticamente todos os povos e é um dos protagonistas da violência historicamente perpetuada. Em contrapartida, concordamos que

“O feminismo, enquanto movimento social, é um movimento essencialmente moderno, surge no contexto das ideias iluministas e das ideias transformadoras da Revolução Francesa e da Americana e se espalha, em um primeiro momento, em torno da demanda por direitos sociais e políticos” (COSTA, p. 1, 2013)

Nesse sentido, o trabalho buscará pontuar algumas lógicas machistas visualizadas no campo de análise e alguns deslocamentos ocorridos a partir do movimento feminino. Entendemos, enquanto mulheres, que discutirmos esse tema é uma importante afirmação política.  

A fim de realizarmos o processo analítico, tomaremos o livro acima mencionado como campo de análise, este entendido como um recorte da vida social que é utilizado para a realização da análise (BAREMBLITT, 2002). Compreendemos que será possível, a partir da leitura crítica da obra em questão, visualizarmos não apenas aspectos da história em si, mas também as intenções do autor a partir de sua forma de se colocar e de sua escrita.

Os analisadores selecionados para este trabalho serão, como mencionado anteriormente, os movimentos e lógicas machistas encontradas no transcorrer da obra. Oshikata (2005) afirma que a cultura do machismo é produzida dentro de uma lógica que diminui a mulher e anula sua capacidade diante dos homens e diante de uma sociedade que prioriza o gênero masculino pela força, inteligência e poder de dominação, considerando a mulher apenas como símbolo sexual e com finalidade de reprodução. O grupo entende que o machismo é uma forma de opressão que utiliza-se dos mais variados tipos de violência para manter a hierarquia estabelecida.

ANÁLISE DE IMPLICAÇÃO

        A violência de gênero é uma situação que tem se feito presente desde o início do processo civilizatório, porém, a mesma tem tomado destaque na atualidade. Desde muitos anos, as sociedades sofrem com o mal desta violência, dentre tantas outras, levando em conta que os homens são ensinados a serem patriarcas, exercendo poder de dominação e exploração, repassando essa cultura de autoridade para seus filhos. Nessa lógica, gera-se todo tipo violência, tanto da mulher para com os homens, quanto entre as próprias mulheres; porém, a violência perpetuada dos homens para com mulheres é a mais frequente, como um sinal de domínio pelo seu corpo e suas escolhas. A força da ordem masculina pode ser aferida pelo fato de que ela não precisa de justificativa, qualquer situação que se apresente como desvio, é motivo de punição e de mostra de autoridade (SAFFIOTI, 2001).

         Entendemos que o tempo provoca mudança nas sociedades e visualizamos que um mal presenciado hoje, dentre tantos outros males, é a violência contra a mulher. Acreditamos que está cada vez mais evidente tais situações, onde a mulher não exerce poder sobre seu próprio corpo, onde é julgada pelos atos de vandalismo de homens, onde é reprimida por sair de casa, por ficar em casa ou pela forma como se veste. Como não poderia ser diferente, os trechos da obra que mais nos tocaram e, consequentemente, impulsionaram esta análise, foram aqueles que nos sentimos novamente abusadas e sem forças. Sentimo-nos, por diversas vezes durante a leitura, como as Marias, as Anas e todas as mulheres da nossa época ou do passado que foram violentadas sexualmente, fisicamente, psicologicamente, que foram desrespeitadas, humilhadas, aprisionadas, maltratadas e usadas como moedas de troca. Dessa forma, compreendemos que nossa implicação não poderia passar por outro lugar, que não este. Assim, sentimo-nos implicadas em abordar este tema, uma vez que este nos perpassa política e eticamente.

ANÁLISE        

“[...] Colocado atrás da rapariga dos óculos escuros, o ladrão, estimulado pelo perfume que se desprendia dela e pela lembrança da erecção recente, decidiu usar as mãos com maior proveito, uma acariciando-lhe a nuca por baixo dos cabelos, a outra, directa e sem cerimónias, apalpando-lhe o sexo. Ela sacudiu-se para escapar ao desaforo, mas ele tinha-a bem agarrada. Então a rapariga jogou com força uma perna atrás, num movimento de coice. O salto do sapato, fino como um estilete, foi espetar-se no grosso da coxa nua do ladrão, que deu um berro de surpresa e de dor.” (SARAMAGO, José; p. 27, 1995)

Neste trecho, percebemos o momento em que o ladrão se vê no direito de “passar a mão” no corpo da rapariga, totalmente despreocupado com a presença ou ausência de consentimento por parte da moça. Apesar deste trecho não ser o único onde os personagens homens apalpam os corpos femininos, entendemos que ele representa claramente o ponto em discussão. Consideramos esse comportamento masculino desprezível e uma total falta de respeito, assim como o visualizamos como uma forma de violentar. Acreditamos que, apesar dos movimentos de resistência, situações como esta continuam a ocorrer cotidianamente. A reação da rapariga, todavia, é uma demonstração clara de resistência à essa violência. Entendemos que reações assim mostram empoderamento, uma vez que as mulheres vêem-se capazes de colocar limites e recuperar o protagonismo sobre seus próprios corpos.

Para dar continuidade a reflexão acerca do lugar que a mulher e o corpo feminino ocupam, selecionamos o trecho a seguir. Acreditamos que mais que qualquer outro, é nesse momento do enredo que fica mais evidente a utilização da mulher como mercadoria:

“[...] Passada uma semana, os cegos malvados mandaram recado de que queriam mulheres. Assim, simplesmente, Tragam-nos mulheres. A resposta foi curta e seca, Se não nos trouxerem mulheres, não comem. Humilhados, os emissários regressaram às camaratas com a ordem, Ou vão lá, ou não nos dão de comer.” (SARAMAGO, José; p. 78, 1995).

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