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O Mal Estar Da Civilizacao

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Por:   •  28/11/2013  •  2.224 Palavras (9 Páginas)  •  692 Visualizações

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MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO

Capítulo III

Duas das três formas de infelicidade (poder superior da natureza e a fragilidade de nossos próprios corpos) nos forçam a reconhecê-las e a se submeter ao inevitável. Já a terceira fonte, a fonte social de sofrimento, não a admitimos, não entendemos por que os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao contrário, proteção e benefício para cada um de nós. Podemos perceber aqui que há também uma parcela da natureza inconquistável, dessa vez uma parcela de nossa própria constituição psíquica. Há um argumento que diz que a civilização é a grande responsável por nossas desgraças e que seríamos muito mais felizes se voltássemos à vida primitiva. No entanto todas as coisas que buscamos para nos proteger da infelicidade são oriundas da civilização. A origem da insatisfação com a civilização vem então de alguns acontecimentos históricos específicos. Um desses fatores pode ser o relacionamento hostil do cristianismo com as religiões pagãs, e sua posterior vitória sobre estas. Outra ocasião foi quanto o progresso das navegações conduziu o contato com raças e povos primitivos. A última ocasião foi quando as pessoas tomaram conhecimento das neuroses, que ameaçam solapar a pequena parcela de felicidade do homem civilizado. -> “descobriu-se que uma pessoa é neurótica porque não pode tolerar suas frustrações que a sociedade lhe impõe, a serviço de seus ideais culturais, abolição ou redução dessas exigências resultaria num retorno a possibilidades de felicidade.” Outro fator de desapontamento é o crescente poder sobre a natureza, pelo progresso científico, que não aumentou a fonte de felicidade do homem. Assim o poder sobre a natureza não é a única condição para a felicidade, assim como não é o único objetivo do esforço cultural. O progresso científico traz sim felicidade (exemplo do telefonema ou do telegrama para aliviar a saudade), mas na visão pessimista, de que adianta tais progressos, de que adianta uma vida longa se ela se revela difícil e tão cheia de desgraças que só a morte é reconhecida por nós como uma libertação. Parece certo que não nos sentimos confortáveis com a civilização atual, mas em que grau os homens das civilizações anteriores se sentiram mais felizes? No entanto, a felicidade é algo totalmente subjetivo, não é possível comparar assim as felicidades que diferentes homens de diferentes épocas sentem. É necessário agora, portanto, descrever a origem da civilização. A palavra “civilização” descreve as realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais e que servem a dois intuitos: de proteger o homem contra a natureza e de ajustar seus relacionamentos mútuos. Primeiramente, reconhecemos como culturais todas as atividades e recursos úteis aos homens, por lhes tornarem a terra proveitosa, por protegem-nos contra a violência das forças da natureza, e assim por diante. Os primeiros atos da civilização foram a utilização de instrumentos e o controle sobre o fogo. Através destes instrumentos, o homem recria seus próprios órgãos ou amplia os limites de seu funcionamento. “O Homem tornou-se assim uma espécie de ‘deus de prótese’”. Com esses progressos o homem se sente mais semelhante ainda à Deus, contudo, o homem não se sente feliz em seu papel de semelhante a Deus. Portanto, reconhecemos que os países que atingiram maior nível de civilização são os que utilizam tudo que pode ajudar na exploração da terra e na sua proteção contra as forças do mundo é útil para ele. O homem também tem um anseio por beleza, a sujeira de qualquer espécie nos parece incompatível com a civilização. Da mesma forma entendemos nossa exigência de limpeza com o corpo humano. É o anseio por ordem, que é uma espécie de compulsão a ser repetida, que decide quando e como uma coisa será efetuada. Com isso, há os benefícios da ordem, de o homem utilizar o espaço e o tempo para seu melhor proveito, conservando ao mesmo tempo as forças psíquicas nele.

Com isso, a limpeza, a beleza e a ordem ocupam uma posição especial entre as exigências da civilização. Outro bom caracterizador das civilizações são a estima e o incentivo em relação às mais elevadas atividades mentais (realizações intelectuais, artísticas e científicas). Entre essas idéias estão os sistemas religiosos, as especulações da filosofia e os “ideais” do homem, suas idéias a respeito da possível perfeição do homem. O aspecto da civilização, e último, a ser analisado é a maneira pela qual os relacionamentos mútuos dos homens são regulados. O elemento da civilização entra em cena com a primeira tentativa de regular esses relacionamentos sociais. A substituição do poder do indivíduo pelo poder da comunidade constitui o primeiro passo da civilização, a vida humana só se torna possível quando se reúne uma maioria mais forte do que qualquer outro indivíduo isolado e que permanece unida contra todos os indivíduos isolados. Para isso os membros dessa civilização devem renunciar as possibilidades de satisfação individuais e se submeterem à lei, à garantia de que esta não será violada em favor de um indivíduo. Com isso, a liberdade do indivíduo não constitui o dom da civilização. Esta era muito maior antes da existência de qualquer civilização. A civilização impõe restrições a ela e a lei garante que ninguém fuja a essas restrições. Grande parte dos conflitos da civilização se centralizou na tarefa única de encontrar uma acomodação conveniente. Um dos problemas é saber se essa acomodação pode ser alcançada por meio de uma forma específica de civilização ou se esse conflito é irreconciliável. Há uma grande semelhança existente entre o processo civilizatório e o desenvolvimento libidinal do indivíduo. Outros instintos são induzidos a deslocar as condições de sua satisfação, a conduzi-la para outros caminhos. Em alguns casos esse processo coincide com os da sublimação com que nos achamos familiarizados. A sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do desenvolvimento cultura, é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na vida civilizada. Outro ponto é que é impossível desprezar o ponto até o qual a civilização é construída sobre uma renúncia do instinto, o quanto ela pressupõe exatamente a nãosatisfação de instintos poderosos. Essa frustração cultural domina o grande campo dos relacionamentos sociais entre os seres humanos e é a causa da hostilidade contra a qual todas as civilizações têm de lutar. Não é fácil compreender como pode ser possível privar

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