O Personagem Alecrim No Filme Estômago

Raimundo Nonato (Alecrim), um jovem da zonal rural nordestina que desembarca em São Paulo, sem dinheiro, sem destino, com uma aparência inocente e humilde, passa uma imagem de abandono, por ser taxado de Cearense, Paraíba percebemos que seu maior problema é a aceitação das pessoas. E assim, ele utiliza a comida como o sistema de comunicação, a comida ressalta as diferenças culturais e simbólicas dos grupos sociais. A comida faz as conexões entre o corpo do indivíduo, o lugar e o grupo, e, através dela, Nonato atravessa esferas sociais muito específicas.

O personagem deixa evidente sua dificuldade de interpretar os acontecimentos e palavras, de entender as metáforas, não têm compreensão em relação a algo muito simples e é um pouco perdido no contexto da vida, por isso tem certa dificuldade de compreensão das coisas e dos sentimentos, visto isso no filme quando seu patrão compara filé mignon a parte mais gostosa do boi a bunda de uma mulher, como Nonato não consegue diferenciar o que é uma metáfora daquilo que é realidade, leva tudo ao pé da letra e ao matá-la tira um pedaço da sua bunda e assa-o para comer, isso de ocorre devido a sua instabilidade emocional, seus sentimentos intensos polarizados em tudo ótimo e tudo ruim, sua angústia de abandono e angústia de invasão que acabam levando-o a muitos comportamentos impulsivos e perigosos.

Vemos claramente em Nonato, um homem que sofre de Borderline que ao se apaixonar por uma prostituta (Iria), torna-a seu objeto desejo. Devido a compulsão da prostituta por comida, começa aí uma relação de interesses, Nonato pela vontade de comer sexo e Iria pela vontade de comer alimento. O que leva Nonato a ter um surto é ver o objeto de seu desejo (Iria) beijando a boca do seu patrão, isso gera uma ira em Nonato, porque para ela era proibido (ético) beijar a boca alguém, e para ele, isso somente aconteceria quando eles se casassem.

Sempre que Nonato vai surtar, antes de praticar os crimes, ele consome compulsivamente álcool, para dar-lhe forças a continuar agindo. Isso não quer dizer que sem a bebida ele não praticaria o crime, mas a bebida fazia com que ele suportasse a dor.

Ao chegar a prisão Nonato novamente dorme no chão, não tem voz, não tem respeito, não tem regalias, porém, Nonato mais uma vez é descoberto por conta de seu talento culinário passa a ser cozinheiro de Bujiú, dono de poderes absolutos da cela, onde nenhum preso se rebela contra ele, devido as suas punições. Assim Nonato agora chamado Alecrim consegue ascender nessa hierarquia, através do prestigio que tem com o chefe e os presos, logo sai do grau mais baixo da hierarquia o chão onde dorme, sentido o cheiro dos pés dos outros presos, para os beliches, até chegar ao grau mais avançado, o beliche abaixo de Bujiú, com intenção de assumir o poder dentro da cela Alecrim mata Bujiú por envenenamento e não facadas. O final se dá por Alecrim já no beliche de cima, refletindo sobre o poder que alcançou, e de como deveria ser ter uma cela de só pra ele, como era a cela que Etcetera, agora seu do novo chefe, tinha, demonstrando que o poder que Etcetera tem, ser bem maior que o de Bujiú por ter uma cela só pra ele.